Retrato do poeta quando
jovem
Por
José Saramago, do livro "Os Poemas Possíveis",
da editora Caminho, Lisboa-Portugal
Há na memória
um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de
remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do
sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato
de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
Biografia
Referência:
Caleida
José
Saramago nasceu em Portugal, na aldeia ribatejana
de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16
de novembro de 1922, embora o registo oficial mencione
o dia 18. Seus pais emigraram para Lisboa quando
ele ainda não tinha três anos de idade |
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Toda a sua vida viveu
em Lisboa, embora até ao princípio da
idade madura por diversas vezes foram prolongadas as
suas estadas na aldeia natal. Fez estudos secundários
(liceu e técnico) que não continuou por
dificuldades econômicas.
Seu primeiro emprego
foi de serralheiro mecânico, tendo depois exercido
diversas outras profissões, a saber: desenhista,
funcionário da saúde e da previdência
social, editor, tradutor, jornalista. Publicou em seu
primeiro livro o romance "Terra do Pecado"
em 1947. Ficou sem publicar seus escritos até
1966. Trabalhou durante doze anos numa editora, em que
exerceu funções de direção
literária e de produção. Colaborou
como crítico literário na revista "Seara
Nova".
Em 1972 e 1973 fez parte
da redação do Jornal "Diário
de Lisboa", em que foi comentarista político.
Coordenou também, durante alguns meses, o suplemento
cultural daquele vespertino. Pertenceu à primeira
direção da Associação Portuguesa
de Escritores. Entre abril e novembro de 1975 foi diretor-adjunto
do "Diário de Notícias" lusitano.
Desde 1976 vive exclusivamente de seu trabalho literário.
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mais
Renascer
Enviada pela autora, Niterói-RJ
Por
Ivone Boechat
Quero viver como as flores,
sem levar saudade das primaveras,
quero somente ter
a alegria de alcançar o infinito
e num mundo de cores renascer.
Quero viver como as nuvens,
refazendo minhas formas no espaço,
levando esperança a todo canto.
Quero me abrigar deste cansaço,
morrer, vivendo,
sem nenhum espanto.
Quero viver como os rios
que livremente se dão oceanos,
que se lançam,
sem temor,
arrastando mágoas, desenganos,
quero levar por vilas e cidades
enchentes de amor.
Quero morrer como as
manhãs,
sentindo o despertar de cada sol,
quero a luz do dia, penetrando em mim,
mostrar ao mundo inteiro,
fazer crer
que morte não é fim.
Quero ser manhã
para ser capaz de anoitecer.
Amizade
Enviado pelo autor,
Barra do Ceará, Fortaleza-CE
É felicidade,
amor, compreensão
É o prazer em servir
É poder sempre abrir
Os braços, a alma, o coração.
É receber com
festa
É brindar com alegria
Como o sol que precipia
No calor da emoção que manifesta.
É fazer pulsar
o coração
No gesto simples de abraçar
É poder sempre tocar
Seres da nossa afeição.
É sempre saber
ouvir
Alegrias e tristezas.
É buscar com sutilezas
Soluções para servir.
É estar de prontidão
Para poder socorrer
É nunca esvanecer
Ante qualquer situação.
É lançar
a semente
E crescer sem egoísmo.
É praticar o altruísmo
Sentindo o que o outro sente.
Separo o joio do trigo
Busco sempre a amizade
Para ter felicidade
Por ganhar mais um amigo.
Apetite do pensar
Enviada pela autora, São
Paulo-Capital
Priscila
de Loureiro Coelho, consultora de desenvolvimento de
pessoas
O que pode atenuar
Uma fome atávica e perversa
Inserida inadvertidamente
Promovendo involução.
Subtraindo a sorte
Diligência de morte...
Silêncio ao invés de conversa...
Inexorável destino
Inquieto como menino
Explorando o desconhecido
De modo irreverente...
Pudesse saber o caminho
A fome saciaria
Em alimento decente.
Quebrando toda corrente
Na qual o poder alicia
Embotando impunemente
Fomentando displicente.
Alienação concebida
Na própria concepção
E o povo sem pão e poesia
Enfraquece a nação...
É...
Música de fundo
em arquivo MID
Por
Gonzaguinha
É...
A gente quer valer o nosso amor,
A gente quer valer nosso suor,
A gente quer valer o nosso humor,
A gente quer do bom e do melhor,
A gente quer carinho e atenção,
A gente quer calor no coração,
A gente quer suar mas de prazer,
A gente quer é ter muita saúde,
A gente quer viver a liberdade,
A gente quer viver felicidade.
É...
A gente não tem cara de panaca,
A gente não tem jeito de babaca,
A gente não está com a bunda exposta na
janela
Pra passar a mão nela.
É...
A gente quer viver pleno direito,
A gente quer viver todo respeito,
A gente quer viver uma nação,
A gente quer e ser um cidadão,
A gente quer viver uma nação!