O que é ser cidadão

Desenvolvido por Luiz Roberto Bendia, editor do Jornal dos Amigos

Referência bibliográfica: Ética e Cidadania, Caminhos da Filosofia, de Sílvio Gallo. Esse livro é o resultado do GESEF - Grupo de Estudos sobre o Ensino de Filosofia, ligado ao Departamento e a curso de Filosofia da Universidade Metodista de Piracicaba. É destinado a professores e interessados nos estudos de filosofia

O que é cidadania

Segundo o Aurélio, cidadão é aquele indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este. Habitante da cidade. Indivíduo, homem, sujeito.

Do ponto de vista da filosofia, o objetivo deste trabalho é alcançarmos algo muito além da mera descrição do Aurélio. No nosso entendimento ser cidadão é ser chamado às responsabilidades para lutar pela defesa da vida com qualidade e do bem-estar geral.

O que é ética

Segundo o dicionário Aurélio,
"é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto".

O Aurélio qualifica Ética diferente de Moral, que é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. Pode ser ainda o conjunto das nossas faculdades morais; brio, vergonha, que tem bons costumes. E de uma outra forma, relativo ao domínio espiritual (em oposição a físico ou material).

A palavra Ética tem sua origem na palavra grega Ethos, que significa o lugar onde o animal se esconde. Morada, morada espiritual, por conseguinte, uma referência. Sua evolução passou para o sentido de referência de valor, caráter.

Já a palavra Moral vem de origem latina: Mos, mores, significando costumes.

Alguns pensadores já definem ética e moral com o mesmo sentido.

Definido então o que é ser cidadão, ser ético e ter moral, vamos fazer abordagens de conduta da socidade para que você se auto-avalie. A nossa intenção é fazer você pensar, com ajuda da filosofia, e interagir no seu ambiente de trabalho, com os seus amigos e em sua casa, para que o mundo seja melhor.


A vida cotidiana e a arte

As pichações

Vamos então iniciar por um assunto que incomoda a sociedade: as pichações. Essa mesma sociedade que critica, tem o direito de ficar indignada, mas fica inerte, sem nenhuma ação para mudar o quadro.

Vós sabeis que, nas cidades grandes, é raro um muro onde não há pichações. O efeito estético às vezes é terrível e devassador, sem contar que a propriedade alheia é invadida. Se o proprietário repinta, prejuízo na certa, o muro no dia seguinte está pichado. Pior ainda se pintar de branco, pois rapidamente será batizado.

Mas existe uma outra forma de ver o mesmo fato. Vamos a um caso prático.

Geraldo e André estudam à noite juntos em um colégio no bairro do Padre Eustáquio, em Belo Horizonte-MG. Ambos trabalham. Geraldo numa loja de calçados e André em uma gráfica. Os dois são líderes de uma turma e sempre que podem, após as aulas, vão fazer um servicinho nas altas horas da noite. Equipados com algumas latas de tinta spray, vão loucos para encontrar um muro branquinho, onde possam fazer uma bela pichação. No começo a coisa começou de brincadeira: "Era gostoso sentir aquele medo de ser pego enquanto nós expressávamos o que queríamos", disse um deles.  
Rua Rio Pomba c/ Rua Progresso, no bairro do Padre Eustáquio, Belo Horizonte- MG
  Aqui estamos diante de dois atos de agressão ao patrimônio: um, dos pichadores e outro, do dentista oferecendo seus serviços. Ambos não pediram autorização para suas comunicações
   

Mas com o tempo a brincadeira foi ficando mais séria. As pichações ficaram cada vez mais elaboradas, com desenhos complexos e coloridos. Quando terminavam, ficavam admirando a obra...

Também, em momento algum, imaginavam que nada mais estavam fazendo do que expressar um dos sentimentos mais humanos: o gosto pela beleza e a vontade de criá-la com as próprias mãos.

Como você bem observou, existe o outro lado: o que se passa na alma dos pichadores. Mas será arte pela arte ou traquinagem?

Vamos estudar um pouco o que é arte e estética. No final deste texto você é
quem vai julgar se o ato de pichar é arte ou traquinagem.

Vejamos alguns conceitos:

Arte

Estética

A palavra estética é utilizada em vários sentidos. Todos eles, porém, partem do conceito primitivo usado pelos gregos antigos, ou seja, designar aquilo que tenha a ver com os sentimentos, com os sentidos, com a percepção. Assim, a estética também está ligada à atividade artística, já que se preocupa com obras que o ser humano faz com a finalidade de serem belas, e com os sentimentos que elas provocam em nós.

Em termos gerais, podemos dizer que a estética é a área da filosofia que estuda a arte e suas relações com o ser humano.


A arte em nosso cotidiano

Ouvimos, com certa feqüência, que arte não serve para nada, é uma coisa inútil. Ou então gente zombando de certas obras de arte com características pouco comuns. Isso acontece porque a mensagem do artista não é captada. As pessoas não conseguem entender o que a obra significa, isto é, o que o artista quis transmitir, porque a mensagem sempre ocorre.

No caso dos pichadores, geralmente, comunicam a sua arte para outros pichadores. Quando um muro é muito pichado está ocorrendo a guerra entre eles, para ver quem tem o maior poder de comunicação ou quem é o mais corajoso.

O ser humano tem características biopsicossociais, ou seja, o seu corpo (que fala através de sua apresentação), a sua razão e a sua convivência com outras pessoas. Exatamente por isso a sua tendência é de se manifestar no mundo de maneira estética, procurando estabelecer em sua vida uma relação de beleza com tudo que o cerca. Quando isso não acontece é porque há manifestação de protesto, principalmente com as injustiças
sociais.

As manifestações, na maioria das vezes, são pessoais, pois o artista coloca a sua impressão a respeito de um fato social ou da natureza retratada em sua obra.

Tipos de manifestações

Abaixo formulamos três perguntas para sua reflexão.

  1. Você já sabe o que é ser cidadão, ter ética e moral.
    Qual o seu ponto de vista?

  2. O que você acha então das pichações? Reflita os dois lados: do cidadão, o dono do muro pichado, e dos pichadores, que vão ao encontro de suas emoções, de suas artes e de seus interesses. Mas não fique somente com a sua opinião. Colha opinião de seus amigos(as) e professores, caso você seja estudante.

  3. Qual deve ser a influência nas ciências exatas (matemática, física etc.) na criação de obras de arte (música, escultura, poesia, pintura etc)?

  4. Você já pensou de alguma forma que você tem o dom de alguma arte?
    Faça esse exercício. Descubra seu dom.

Se você quer ir mais adiante nos estudo sobre filosofia, vamos lhe dar alguns subsídios bem agradáveis.

Agora, se você quer mesmo "arrepiar" nos estudos de filosofia leia, da editora Ediouro, a coleção Clássicos de Ouro que contém textos de Sófocles, Édipo-Rei e Antígona, Ésquilo, em "Prometeu Acorrentado"...

Bons estudos!


O velho e o novo

Na capítulo anterior remetemos você diretamente para um caso prático sobre as "pichações", sem falarmos com mais profundidade sobre o que é a filosofia. Foi um atrativo para provocar em você o interesse.

A filosofia, essa jovem senhora de 2.700 anos de idade, surgiu na Grécia, no século 7 a.C. através de alguns inconformados -os primeiros filósofos- que estavam insatisfeitos com as explicações sobre a realidade da época. Caracaterizou-se pela interrogação constante sobre o que era considerado como verdadeiro e um descontamento com as respostas oferecidas. Essa atitude provocou um movimento de construção e reconstrução do saber. Uma eterna revolução.

A filosofia não pode ser entendida como sabedoria, no sentido de retenção do conhecimento por si só, mas um movimento em sua direção, uma constante busca de novos conhecimentos. E como, ao longo dos anos, a filosofia sempre buscou o novo, continua jovem até hoje quanto era em sua remota origem.

O homem nasce, cresce, amadurece, envelhece e morre. Nesse processo há sempre a renovação, com o adolescente, em sua dinâmica, questionando tudo a sua volta, com suas idéias em transformação, seus sentimentos evoluindo. Nós, os jovens há
muito mais tempo, nos acomodamos e não desejamos, na maioria das vezes, mudanças que pertubem o nosso "status quo". E é por isso que muitas vezes o jovem incomoda tanto, pois ele representa o novo, que traz com ele o antigo mundo "pronto" de uma outra forma. Ele já nasce lutando contra o velho que já passou pelo processo de ser novo.

E por falar em velho, o jovem Sócrates, aos 70 anos, no século 5 a.C., foi condenado à morte pelo tribunal popular de Atenas, obrigado a tomar um cálice de cicuta porque ousava incomodar os acomodados. Alegaram em sua condenação que ele não acreditava nos deuses da cidade e corrompia a juventude. Mas a grande verdade é que ele incomodava demais aqueles que se sentiam confortáveis em sua situação.


Filosofando

Cesar Augusto era um cara que vivia em outro mundo: sempre pensando. Quando saía com os amigos para um papo no barzinho ou no clube começava a meditar sobre certas coisas e "viajava". Matutava então: "Qual é a minha? O que eu faço aqui? Qual o sentido disto tudo?"

Ele não era um cara preocupado com essas perguntas a ponto de lhe tirar o sono, mas ele se divertia pensando naquelas questões, pois nunca chegava a nenhuma conclusão.

Pensar naquelas perguntas era motivo de diversão, assim como conversar com amigos. Era também como jogar dominó ou paciência.

Os seus amigos, às vezes, ficavam incomodados com isso, mas curtiam demais a companhia do Cesar para se aborrecerem. Na verdade, tudo acabava mesmo em brincadeiras, com muitas gozações.

Mas, um dia, quando Cesar se encontrava naquele estado, pensativo e distraído, um dos seus amigos vociferou:
- Pô, cara! Você fica aí no outro mundo, até parece que está filosofando.

E antes de se integrar com a turma pensou: "Mas será que essas inquietações que eu tenho, de ficar pensando, divagando com calma nas situações, é que é filosofia?"

Ver mais Cidadania & Ética


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"A paz", de João Donato
Nota para a seqüência Midi: *****

Participe do Jornal dos Amigos,
cada vez mais um jornal cidadão

O Jornal dos Amigos agradece a seus colaboradores e incentiva os leitores a enviarem textos, fotos ou ilustrações com sugestões de idéias, artigos, poesias, crônicas, amenidades, anedotas, receitas culinárias, casos interessantes, qualquer coisa que possa interessar a seus amigos. Escreva para o e-mail:

Se o conteúdo estiver de acordo com a linha editorial do jornal, será publicado.

Não esqueça de citar seu nome, a cidade de origem e a fonte da informação.

Solicitamos a nossos colaboradores que, ao enviarem seus textos, retirem as "flechas", isto é, limpem os textos daquelas "sujeiras" de reenvio do e-mail. Isso facilita bastante para nós na diagramação.

Início da página

www.jornaldosamigos.com.br


Belo Horizonte, 29 dezembro, 2006

Cidadania & Ética