O que é ser cidadão
Desenvolvido
por Luiz Roberto Bendia, editor do Jornal dos Amigos
Referência bibliográfica:
Ética e Cidadania, Caminhos da Filosofia, de Sílvio
Gallo. Esse livro é o resultado do GESEF - Grupo de Estudos
sobre o Ensino de Filosofia, ligado ao Departamento e a curso
de Filosofia da Universidade Metodista de Piracicaba. É
destinado a professores e interessados nos estudos de filosofia
A
política
Segundo o Aurélio,
a política é definida sobre vários aspectos:
- Ciência
dos fenômenos referentes ao Estado; ciência política.
- Sistema de
regras que diz respeito à direção dos negócios
públicos.
- Arte de bem
governar os povos.
- Conjunto de
objetivos que enformam (sentido de dar forma) determinado programa
de ação governamental e condicionam
a sua execução.
- Princípio
doutrinário que caracteriza a estrutura constitucional
do Estado.
- Posição
ideológica a respeito dos fins do Estado.
- Atividade exercida
na disputa dos cargos de governo ou no proselitismo partidário.
- Habilidade no
trato das relações humanas, com vista à
obtenção dos resultados desejados.
Bem, o Aurélio não
aborda os aspectos da política sob o ponto de vista de
um aglomerado humano organizado. Cada empresa tem a sua "política"
de condução dos negócios, recrutamento de
pessoal, pagamento a fornecedores etc. Cada time de futebol tem
a sua política na contratação de jogador
e incentivos a cada vitória. Um síndico de um prédio
de apartamentos tem a sua política de gestão.
Uma vez formado um aglomerado humano
organizado, há uma prática do exercício do
poder para ser levada a um objetivo. Nesse sentido, uma política
então é estabelecida.
Mas aqui vamos
tratar da política sob o ponto de vista tão somente
do cidadão perante o Estado. Entendendo um pouco de política,
o cidadão comum pode encontrar o caminho do bem-estar para
si, sua família e para a comunidade em que está
inserido.
Vamos começar
relatando um caso típico de falta de sintonia com a política
que assalta o cidadão em época de eleição.
O interesse
pela política
Hermenegildo
assiste ao "Jornal Nacional" junto com a sua esposa
Linxonfrênia. Os filhos já estão crescidos
e nessa hora estão na casa de amigos, provavelmente plugados
na Internet ou se divertindo de uma outra maneira. Os dois esperam
ansiosamente para ver o último capítulo da novela
que vem logo a seguir. Às 20h30 o jornal termina.
- Oba, vai começar a novela -comenta Hermenegildo.
Mas a decepção vem imediatamente:
-"Interrompemos a nossa programação para transmitir
o horário eleitoral gratuito, conforme determina o Tribunal
Regional Eleitoral. Logo a seguir voltaremos com nossa programação
normal" - termina o locutor da TV e começa o desfile
de candidatos de diversos partidos políticos.
Linxonfrênia
vocifera:
- Ah, não! Até quando teremos que aturar essa chatice?
Os dois começam a dialogar referindo-se à aparição
das mesmas caras de sempre, que farão de novo as mesmas
promessas.
Hermenegildo
desliga a TV e descobre que é tempo de um namorico com
a esposa. Novela que é bom mesmo, só mais tarde!
O voto é o instrumento do cidadão. É preciso
conhecer o que pensa cada candidato a cargo eletivo, avaliar as
suas propostas e votar no melhor. Se não houver o melhor,
não haverá porque votar. Votar em branco não
é deixar de ser cidadão: é também
uma forma de protesto. Votar nulo também.
O
processo eletivo, participar é preciso
Periodicamente a sociedade é
chamada para exercer o seu direito (mais do que um dever cívico)
de escolha de candidatos a cargo eletivo. E esse direito deve
ser exercido por intermédio da participação,
da integração do processo da disputa, que é
legítimo em uma democracia. O cidadão que fica à
margem do processo está contribuindo para a formação
de regimes de exceção (ditaduras) ou injustiças
sociais.
O cargo eletivo -vereador, prefeito,
deputado, governador, senador e presidente da República-
é uma responsabilidade dupla: de quem elege e do eleito.
Um mal vereador ou um mal governador reflete no bem-estar de cada
um dos cidadãos. Então, é preciso participar
ativamente do processo de escolha dos candidatos.
Todo o processo de escolha de um
candidato a cargo eletivo começa dentro de um partido político.
Saber a doutrina de um partido pode ser um indicativo se o candidato
por aquela instituição vai representá-la
bem. Dizemos "pode ser" porque na maioria das vezes
o candidato ou representante eleito age politicamente à
margem da doutrina partidária, de acordo com os seus interesses
pessoais. Uma forma de diminuir ou eliminar a eleição
de candidatos sem uma postura ética adequada é participar
como membro de um partido político e ajudar na escolha
certa de seu representante.
O membro de um partido que reunir provas
que indiquem uma conduta inadequada de um pré-candidato
pode contribuir para impugnar sua candidatura.
O
poder, esse fascínio
Grupos se formam, vontades se estabelecem
e os conflitos de interesses são sempre inevitáveis.
Na luta entre diferentes desejos, sempre aparece um indivíduo
querendo impor ao outro (ou aos outros) a sua vontade. Quem vence
o conflito normalmente é aquele que tem "o jogo de
cintura", mas pode ser o mais forte, o mais inteligente,
o mais jovem ou o que tem mais dinheiro.
Poder é a capacidade de
transformar as vontades coletivas na sua própria vontade,
que se dá através de um ato ou ação.
O grande político, aquele que é bem-sucedido nas
suas "vontades", aplica a teoria de Etienne de La Boétie,
um filósofo do século 16. Do alto de sua soberba
o que sustenta o poder do tirano não é a sua própria
autoridade, mas é a cumplicidade direta dos dominados.
Segundo o filósofo, em torno do tirano sempre constrói-se
uma rede de interesses.
Queres o poder absoluto? Arregimentes
10 colaboradores diretos de sua inteira confiança. Cada
um deles deverá arregimentar mais de 60 colaboradores.
E cada um desses 60 colaboradores deve arregimentar mais colaboradores.
E assim a sociedade fica envolvida na rede de interesses. O tirano
então forma a sua rede de micropoderes e interesses que
se constrói a sua volta. É a sua garantia de manutenção
no poder. Hoje a tirania está dentro das empresas, com
oferta escassa de empregos e a competitividade desenfreada.
Mas se os indivíduos se
tornam cidadãos, se recusam a servir, conscientizam-se
para solucionar os problemas políticos, acaba o poder do
tirano e podem constituir uma nova forma de relação
social.
Democracia,
essa desconhecida
Segundo o Aurélio,
democracia é o governo do povo; soberania popular. Doutrina
ou regime político baseado nos princípios da soberania
popular e da distribuição eqüitativa do poder,
ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência,
pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes
e pelo controle da autoridade, dos poderes de decisão e
de execução.
Mas a idéia
mesmo de democracia é a seguinte:
A ação
democrática consiste em todos tomarem parte do processo
decisório sobre aquilo que terá conseqüência
na vida de toda a coletividade. É preciso que todos que
tenham interesse no processo democrático que se mantenham
ativos e vigilantes, acompanhando os trabalhos daqueles que elegeram.
Texto
para você refletir profundamente sobre a política
brasileira
A
cotovia e os sapos
Adaptação
bem-humorada de fábula chinesa
Era uma vez uma
sociedade de sapos que vivia no fundo de um poço escuro
e profundo, do qual nada se via do mundo exterior. Eram governados
por um enorme sapo-chefe, mas a classe de trabalhadores mais chegada
ao tirano o chamava de Cardosão. Ele se dizia soberano
naquele lugar e era dono de tudo que saltava ou rastejava. Todos
os sapos trabalhavam para ele. Não movia uma palha. A coletividade
de sapos era obrigada a trabalhar naquele ambiente fétido
e úmido para encontrar no lodo vermes e insetos para engordar
mais ainda o sapo Cardosão.
De vez em quando
vinha uma cotovia excêntrica que voava dentro do poço
e contava para os sapos as maravilhas que vira em suas viagens
pelo imenso mundo lá fora. Falava do sol, da lua e das
estrelas, das montanhas altaneiras, dos vales férteis e
dos vastos mares, e ainda da delícia de explorar o espaço
infinito.
Sempre que a cotovia
chegava o sapo Cardosão recomendava aos sapos trabalhadores
que ouvissem atentamente tudo o que aquele pássaro amalucado
tinha para contar. O sapo Cardosão, que era meio surdo
e de cultura duvidosa, nunca sabia direito o que a cotovia estava
dizendo e falava para os trabalhadores que a cotovia se referia
"à terra feliz para onde vão todos os sapos
bons..."
Uma parte dos sapos
trabalhadores acreditava no que o sapo Cardosão dizia e
ficava cética em relação ao que a cotovia
falava. Outra parte, menos expressiva, começava a ficar
encantada.
Entretanto, havia
entre eles um sapo-filósofo (um tal de Inácio da
Selva), que formulara uma idéia nova e interessante a respeito
da cotovia. "O que a cotovia diz não é exatamente
uma mentira", dizia ele. "Nem é loucura. Na verdade,
ao falar dessa maneira esquisita, ela está se referindo
ao lugar maravilhoso em que poderíamos transformar esse
poço, se quiséssemos. Quando ela fala do sol e da
lua, está se referindo às magníficas formas
de iluminação moderna que poderíamos adotar
para eliminar as trevas em que vivemos. Quando canta céus
altos, refere-se à saudável ventilação
de que deveríamos gozar, ao invés dos ares úmidos
e fétidos a que nos acostumamos. E o mais importante: quando
a cotovia enaltece o vôo altivo e livre entre as estrelas,
refere-se à liberdade que todos teremos quando nos livrarmos
da opressão do sapo-chefe. Vêem? Não devemos
desdenhar o pássaro. Em lugar disso, ele deve ser apreciado
e louvado por nos proporcionar uma inspiração que
nos livra do desespero".
O sapo Inácio
virou a cabeça dos sapos trabalhadores. Eles agora passaram
a olhar a cotovia com outros olhos. Não demorou muito e
fizeram a revolução (elas sempre acabam vindo).
Os sapos trabalhadores pintaram a imagem da cotovia em seus estandartes
e marcharam para as barricadas, fazendo o máximo que podiam
para, com o seu coaxar, imitar o belo canto daquele amável
pássaro. O sapo-chefe Cardosão foi derrubado de
seu poder. O poço escuro e úmido tornou-se magnificamente
iluminado e ventilado, transformado em um lugar muito melhor para
viver. Além disso, os sapos experimentaram um novo e gratificante
lazer, acompanhado de muitas delícias dos sentidos - justamente
como o sapo-filósofo havia previsto.
Mas a cotovia continuou
fazendo visitas ao poço, contando histórias do sol,
da lua, das estrelas, de montanhas, vales e oceanos e esplêndidas
aventuras vividas nos céus. O sapo-filósofo mais
uma vez entra em ação: "Quem sabe esse pássaro
não seja mesmo maluco? Já não temos necessidade
dessas canções enigmáticas. E, seja como
for, é muito cansativo ter de escutar fantasias quando
já perderam sua relevância social".
Vai daí,
um dia a comunidade de sapos conseguiu capturar a cotovia. Empalharam-na
e colocaram-na no recém-construído Museu Cívico
-com entrada gratuita- em lugar de honra...
Ver
mais Cidadania & Ética
Música
de fundo em arquivo MID (experimental):
"A fala da paixão", de Egberto Gismonte
Seqüencia Midi: Egberto
Gismonte
Nota
para a seqüência Midi: *****
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