O que é ser cidadão
Desenvolvido
por Luiz Roberto Bendia, editor do Jornal dos Amigos
Referência bibliográfica:
Ética e Cidadania, Caminhos da Filosofia, de Sílvio
Gallo. Esse livro é o resultado do GESEF - Grupo de Estudos
sobre o Ensino de Filosofia, ligado ao Departamento e a curso
de Filosofia da Universidade Metodista de Piracicaba. É
destinado a professores e interessados nos estudos de filosofia
O
que fazer da minha vida
Os gregos, na antiguidade, utilizavam
uma bela imagem para dizer às pessoas que cada um de nós
é semelhante a um pequeno barco que deve atravessar um
oceano. E que essa travessia deve ser realizada através
do tempo, porque somos seres temporais: nascemos, crescemos, amadurecemos,
envelhecemos e morremos. É exatamente a consciência
da morte que nos remete à nossa condição
de ser temporal.
A vida, quando de sua formação,
constitui-se de um movimento incessante que acontece desde o nascimento
até a morte. Sendo assim, a morte deve ser entendida como
o último acontecimento nessa trajetória que é
a vida. São as nossas
aspirações, nossos desejos que nos colocam em ação
na vida. Agimos em um mundo movido por desejos, consumo e necessidades.
Nossas atividades racionais e físicas estão sustentadas
pelos desejos que nos dão a condição de seres
humanos. A grande sabedoria não está em saber sobre
a embarcação e manejar o seu leme, mas entender
um pouco de navegação. Ao conduzirmos nossas vidas,
às vezes por mares revoltos, podemos realizar a travessia
com uma ética fundada na estética: fazer da própria
vida uma obra de arte. Podemos, sim, fazer de nossas vidas uma
obra de arte. Basta assumirmos a mesma posição de
um artista: ser criativo.
Isso de ser criativo não
é fácil, pois as condições impostas
em nossa sociedade vão de encontro à criatividade.
Vivemos como se tudo estivesse pronto, cabendo a nós apenas
consumir. As empresas capitalistas, hoje em dia, exploram ao máximo
as nossas capacidades físicas e intelectuais. A transformação
do trabalho em mercadoria obrigou-nos a vender nossas habilidades
por um preço chamado salário. Nossa sobrevivência
está condicionada a um emprego no mercado produtivo (hoje
90% da população é empregada enquanto 10%
é patrão. Há 200 anos a relação
era inversa).
No oceano da vida as tempestades
são constantes. Temos ameaças ditadas pela natureza
(raios, inundações, abalos sísmicos) e pelas
tragédias do cotidiano. Nosso frágil corpo está
sujeito aos imprevistos da viagem. A miséria e a falta
de oportunidade crescem assustadoramente em todas as partes do
mundo, principalmente em países como o Brasil. A manutenção
da vida tornou-se difícil. Mas como realizar a travessia?
Nosso desejo de viver é
guiado pela possibilidade de alcançar a felicidade plena.
Para alguns essa felicidade está nas pequenas coisas, como
uma atividade que lhe dê prazer e sustento para si e a sua
família. Para outros, poder e muito dinheiro. Mas qual
é o seu entendimento de felicidade?
Hoje em dia para ser feliz é
preciso aprender e reaprender. Talvez possamos extrair algo meditando
sobre a canção "O que é o que é"
de Gonzaguinha.
O
que é o que é
Eu fico com a
pureza
Das respostas das crianças
É a vida, é bonita e é bonita
(no gogó)
Viver
e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
a beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei
que a vida devia ser bem melhor
e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita
(bis)
E a vida?
e a vida o que é
diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida?
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é, o que é, meu irmão?
Há quem
fale que a vida de gente
é um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
que nem dá um segundo
Há quem
fale que é um divino
mistério profundo
É o sopro do criador
numa atitude repleta de amor
Você diz que a luta é prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
pois amada não é
e o verbo é sofrer
Eu só sei que confio na moça
e na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
como der ou puder ou quiser
Sempre desejada
por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
só saúde e sorte
E a pergunta
roda
e a cabeça agita
fico com a pureza
da resposta das crianças
É a vida, é bonita, e é bonita
A felicidade
Você
se acha feliz? Por que?
O que faz de você um homem ou uma mulher tão feliz?
O
mestre Aurélio sempre nos dá uma dica sobre o tema
que desenvolvemos. Ele diz que "ser feliz é desfrutar
de satisfação e ventura; ditoso, afortunado, venturoso.
Intimamente contente, alegre, satisfeito: Vive feliz com os seus.
Que prosperou; próspero: É feliz nos negócios.
Que teve bom resultado; bem-sucedido: operação feliz.
Favorecido pela sorte; afortunado. Que proporciona felicidade;
abençoado, bendito: casamento feliz. Que denota, ou em
que há alegria, satisfação, contentamento,
ventura: Tem um ar feliz".
O
eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
"Vicente de Carvalho, Poemas e Canções,
p. 3"
Mas o que
é mesmo a felicidade no seu dia-a-dia?
A nossa felicidade
é produzida a cada dia e a cada instante. Digo produzida
porque ela é fruto de nossas ações. Todos
nós somos atores em desempenho constante, aprendendo e
decidindo. Mas
como resolvemos o que fazer em todos os momentos?
Você já prestou a sua atenção em como
você toma as suas decisões? Como você age em
determinadas situações?
Você age impulsivamente fazendo o que vem na sua cabeça
ou analisa cuidadosamente as possibilidades e as conseqüências
para depois resolver o que fazer?
Dica:
Veja a diferença entre possibilidades e expectativas.
Possibilidade é a qualidade do possível. Expectativa
denota esperanças, probabilidades ou promessas. Essa
distinção faz
toda a diferença em nossas decisões diárias.
Quando decidi
criar esta coluna, decidi também aprender e reaprender,
por intermédio de conteúdos da filosofia, para repassar
aos amigos e amigas os fundamentos da cidadania e da ética.
Foi uma decisão que me custou tempo, mas que me trouxe
felicidade, porque gosto do tema, aprendo, evoluo e repasso com
muito gosto aos interessados através desta página.
E a filosofia
pode nos ajudar a pensar sobre a nossa própria vida. A
ética é a parte da filosofia que se dedica a pensar
as ações humanas e os seus fundamentos. Aristóteles,
que viveu na Grécia no século 4 a.C., ensinava numa
escola à qual deu o nome de Liceu. Em suas aulas, fez uma
análise da forma de agir do ser humano que marcou decisivamente
o modo de pensar ocidental.
O filósofo
ensinava que todo conhecimento e todo trabalho visa a algum bem.
O bem é a finalidade de toda ação. A busca
do bem é o que difere a ação humana de todos
os outros animais.
Aristóteles
então perguntou: "Qual é o mais alto de todos
os bens que pode ser alcançado pela ação?".
E como resposta encontrou: a felicidade. Essa resposta formulada
pelo filósofo encontra eco até os nossos dias. Tanto
o homem do cotidiano como todos os grandes pensadores estão
de acordo que a finalidade da vida é ser feliz. Identifica-se
o bem viver e o bem agir com o ser feliz.
No entanto,
disse o filósofo, a pergunta sobre o que é a felicidade
não é respondida igualmente por todos. Cada um de
nós responde de uma forma singular. Essa singularidade
na resposta é partilhada por outros indivíduos com
os quais convivemos. Portanto, no processo de nossa educação
familiar, religiosa e escolar aprendemos a identificar o ser feliz
com os valores que sustentam nossas ações.
A
marginalização política
Hoje,
não sei porque, fiquei com preguiça mental para
desenvolver o tema. Talvez movido pela preguiça coletiva
quando o tema é falar sobre política. Esses marginalizados!
Mas vou tentar reter a sua atenção no tema.
Por que
os marginalizados políticos se retiram do processo eletivo
e se abdicam de falar sobre assuntos de interesse coletivo?
Existe
um processo histórico na manutenção do silêncio
político. Tem a ver com a educação familiar,
conscientização por parte dos pais e educadores
sobre a importância da gestão da coisa pública.
E com isso foi estabelecida a instituição do silêncio
político. Em época de eleições as
TVs são desligadas no horário eleitoral gratuito.
É melhor ouvir um CD, bater papo com amigos do que prestar
a atenção no que os candidatos falam. No dia da
votação o pseudocidadão cumpre o que a lei
manda, votando em qualquer um, pois tanto faz: são todos
iguais mesmo...
Abandonamos
as questões públicas, pois temos a excessiva preocupação
com as questões particulares. As pessoas estão voltadas
para si mesmas. Elas não propõem, não debatem,
não defendem, não expressam opinião. Essas
pessoas colocam toda a responsabilidade no resultado das eleições
na vontade coletiva. Mal sabem elas que fazem parte do coletivo.
O silencioso
político é aquele que assume o que foi decidido
pelos outros. Assume o status de governado e não o de governante.
Prioriza demais as suas questões particulares e priva-se
da autodeterminação.
O marginal
político afirma que a questão da inflação
é um problema de governo e que os políticos é
quem deve resolvê-la. Mas esses indivíduos não
dão conta de que a inflação tem conseqüências
sérias em suas vidas particulares e que jamais poderão
resolver seus problemas oriundos da inflação sozinhos.
Viver
é conviver, isto é, viver em comum com outrem, ter
convivência. É preciso conviver com a política
e na política. As instituições públicas
sempre haverão de existir e alguém sempre estará
ocupando espaço nelas. Quanto menos pessoas participam
da política, ou seja, acompanham os movimentos políticos,
mais os interesses de alguém ou grupo no poder deverão
prevalecer. E sendo assim, se quem tomou o poder foi movido por
interesses particulares, certamente haverá mais pobreza
e desiquilíbrio social.
As questões
públicas são de responsabilidade de todos nós.
Não importa que outras pessoas tenham sido eleitas para
cuidar da coisa pública. Cada um de nós, que faz
parte da sociedade, tem que fazer a sua parte. Por menor que seja.
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mais Cidadania & Ética
Música
de fundo em arquivo MID (experimental):
"A felicidade", de Tom Jobim
Nota
para a seqüência Midi: *****
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