Primeira
página
Stella
Por
Machado de Assis
Já raro e mais
escasso
A noite arrasta o manto,
E verte o último pranto
Por todo o vasto espaço.
Tíbio clarão
já cora
A tela do horizonte,
E já de sobre o monte
Vem debruçar-se a aurora
À muda e torva
irmã,
Dormida de cansaço,
Lá vem tomar o espaço
A virgem da manhã.
Uma por uma, vão
As pálidas estrelas,
E vão, e vão com elas
Teus sonhos, coração.
Mas tu, que o devaneio
Inspiras do poeta,
Não vês que a vaga inquieta
Abre-te o úmido seio?
|
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Vai. Radioso e ardente,
Em breve o astro do dia,
Rompendo a névoa fria,
Virá do roxo oriente.
Dos íntimos
sonhares
Que a noite protegera,
De tanto que eu vertera.
Em lágrimas a pares.
Do amor silencioso.
Místico, doce, puro,
Dos sonhos do futuro,
Da paz, do etéreo gozo,
De tudo nos desperta
Luz de importuno dia;
Do amor que tanto a enchia
Minha alma está deserta.
A virgem da manhã
Já todo o céu domina...
Espero-te, divina,
Espero-te, amanhã.
|
Biografia
Referência:
Jornal da Poesia
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Joaquim
Maria Machado de Assis, poeta, romancista, novelista,
contista, cronista, dramaturgo, ensaísta e
crítico, nasceu e morreu na cidade do Rio de
Janeiro, respectivamente, em 21/6/1839 e 29/09/1908.
Sua obra tem raízes nas tradições
da cultura européia e transcende a influência
das escolas literárias nacionais.
|
Filho
de um pintor de casas mestiço de negro e português,
após a morte da mãe foi criado pela madrasta,
também mestiça. Adoentado, epiléptico,
gago e de figura trivial, encontrou emprego como aprendiz
de tipógrafo aos 17 anos, começando a escrever
durante seu tempo livre. Em breve, começou a publicar
obras românticas. Colaborou regularmente na imprensa
carioca.
Sua obra divide-se em duas fases: uma romântica e
outra parnasiano-realista, quando desenvolveu seu inconfundível
estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio
da linguagem é sutil e o estilo é preciso,
reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento,
além da desconfiança na razão (no seu
sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste
de seus contemporâneos. A galeria de tipos e personagens
que criou revela o autor como um mestre da observação
psicológica.
Em 1869 Machado era um típico homem de letras brasileiro
bem sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público
e num feliz casamento com uma culta senhora, Carolina Augusta
Xavier de Novais. Naquele ano, a doença fê-lo
afastar-se temporariamente de suas atividades e, na sua
volta, publica um livro extremamente original, pouco convencional
para o estilo da época "Memórias
Póstumas de Brás Cubas" (1881) ,
que, juntamente com "O Mulato" (de Aluísio
de Azevedo), constitui o marco do realismo na literatura
brasileira. Das "Memórias" provém
aquele pensamento do personagem que julga-se feliz por não
ter deixado descendentes que perpetuassem o legado da miséria
humana.
Publicou ainda mais dois romances de sua famosa tríade,
"Quincas Borba" (1891) e "Dom Casmurro"
(1899). Esses livros, ao lado de suas histórias curtas
("Histórias da Meia Noite", "Papéis
Avulsos", "Histórias Românticas",
"Histórias sem Data", "Várias
Histórias", "Páginas Recolhidas",
"Relíquias de Casa Velha", "Contos
Fluminenses", "Crônicas") fizeram sua
fama como escritor.
Urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico,
ignorou questões sociais como a independência
do Brasil e a abolição da escravatura. Passou
ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias
sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar.
O mundo natural virtualmente inexiste em seu trabalho. Escreve
com profundo pessimismo e desilusão que seriam insuportáveis
se não estivessem disfarçados sob o manto
da ironia e do humor inteligente. Foi o principal responsável
pela fundação da Academia Brasileira de Letras
e seu primeiro presidente; permaneceu nesta qualidade até
sua morte.
O Machado poeta é menos conhecido e apreciado, apesar
de sua primeira manifestação literária
ter sido feita justamente com uma poesia ("Ela",
publicado na "Marmota Fluminense"), aos 16 anos
de idade.
Publicou quatro livros de poesia. "Crisálidas"
(1864) e "Falenas" (1870) mostram nítida
influência de Castro Alves, com alguma pregação
dos ideais de liberdade. Em "Americanas" (1875)
as influências alencarinas são patentes, e
o próprio Machado vale-se do recurso da metalinguagem
externa em uma importante advertência inicial de que
o assunto do livro não era unicamente os aborígenes
brasileiros. "Ocidentais" (1901) já mostra
elementos do realismo: ironia, niilismo, recuperação
do tempo perdido.
É a referência clássica da literatura
brasileira, considerado o maior escritor do país
e um mestre da língua.
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