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Brasil gasta mais que países ricos com Previdência
Enviado por Didymo Borges, Recife-PE

Sistema brasileiro, se comparado ao de 14 países
desenvolvidos, é o único que garante aposentadoria integral

Por Maria Luiza Abbott, de Londres
Fonte: Jack Guez/France Press
4 de outubro, 2003

O Brasil gasta o maior percentual do Produto Interno Bruto (PIB) com a Previdência dos servidores públicos, se comparado a outros 14 países ricos, segundo estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com sede em Paris. O sistema brasileiro também é o único dessa lista que assegura aposentadoria integral para os funcionários públicos, e as pensões pagas na maior parte dos países ricos são uma parcela do salário do servidor. Mas em alguns, como a Alemanha, o funcionário público não contribui para a sua aposentadoria, e o Estado banca tudo sozinho.

De acordo com esse levantamento, feito por Vinicius Carvalho Pinheiro, especialista em Previdência da OCDE e ex-secretário da Previdência durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o Brasil destinou 4,7% do seu PIB para a Previdência dos servidores da União, dos Estados e dos municípios, em 2002. Em 1998 -último ano em que os dados estão disponíveis para o conjunto dos 14 países-, a Áustria, o segundo país que mais gasta dessa lista da OCDE, teve despesas que chegaram a 3,4% do PIB. Na França, os gastos foram de 3% do PIB, na Alemanha, 1,7% do PIB, e nos Estados Unidos, 1,6% do PIB.

É claro que, em dólares ou euros, as despesas são muito mais elevadas em países como os Estados Unidos, Alemanha, ou França, do que no Brasil. Os PIBs desses países também são muito maiores. Outra diferença é que, especialmente nos países europeus, há um Estado de bem-estar social que, mesmo questionado nas últimas décadas, funciona como colchão social. O aposentado desses países não costuma pagar pesadas mensalidades a planos de saúde e a escola de seus netos costuma
ser de qualidade e gratuita.

Nesses 14 países desenvolvidos -Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Japão, Holanda, Portugal, Espanha e Estados Unidos-, os aposentados recebem uma parcela do seu último salário. O valor varia de acordo com o país, mas a aposentadoria é calculada pela multiplicação de um fator e o número de anos trabalhados, aplicada sobre bases de salário que também variam. Na Alemanha, a aposentadoria chega a um máximo de 75% da média dos últimos dois anos de salário para o servidor que tem 65 anos e 40 de serviço. O mesmo teto vale para a França, só que o fator é multiplicado pelos anos de trabalho, e o resultado é aplicado sobre a média do salários dos últimos seis meses.

Na França, o servidor pode requerer aposentadoria depois de 37,5 anos de contribuição, e a carência é de 15 anos. Os dois países tentam aprovar reformas que reduzem as aposentadorias ou mudam os regimes de contribuição. No Reino Unido, os servidores se aposentam e recebem um máximo de 50% do salário do último ano, mais uma complementação que é assegurada por previdência complementar e um pecúlio que equivale a três vezes o salário anual.

O servidor não precisa contribuir para a aposentadoria na Alemanha. Na França, a contribuição serve para cobrir aposentadorias, pensões, assistência à saúde e seguro desemprego para todos os trabalhadores, não apenas os servidores. O funcionário público entra com 7,85% do salário bruto, e o empregador com 29%.

As pensões na França para o sistema de Previdência dos servidores públicos são de 50% do salário para a viúva e de 10% para o órfão que tiver menos de 21 anos. Na Alemanha, o valor da pensão é de 60% do último salário para a viúva e de 12% a 20% para o órfão. Na Suécia, a viúva recebe pensão integral por cinco anos e 50% do que ultrapassar do teto do regime geral da Previdência -atualmente em 36 mil euros por ano- para o resto da vida. Os órfãos têm o mesmo direito, até os 20 anos de idade.

Regime especial

Os regimes especiais para servidores públicos nesses países ricos pesquisados pela OCDE se aplicam a carreiras típicas, como fiscais ou juízes, sem incluir funcionários administrativos, como secretárias ou motoristas, por exemplo. Os que não entram na carreira têm regimes de previdência, como os trabalhadores do setor privado.

Em países com renda mais parecida com a do Brasil, como o México, o servidor se aposenta com 65 anos e 1.250 semanas (quase 24 anos de contribuição). O valor do benefício é definido pelo valor das contribuições, acrescido de juros, menos taxas administrativas. Essas regras foram introduzidas em uma reforma que entrou em vigor no país em janeiro de 1997.

Na Argentina, só os militares e as forças públicas de segurança têm regime especial de previdência. Todos os demais servidores públicos estão dentro do regime geral. O valor do benefício é calculado com base em um módulo, chamado Mopre, e que está fixado em US$ 80. O sistema foi introduzido em uma reforma em 1994. O benefício básico é de 2,5 Mopres, mais 1% por cada ano de contribuição além dos 30 anos, até no máximo 45 anos de contribuição. Há sistemas de transição para quem já estava no serviço público antes da reforma.

Chile

No Chile, os trabalhadores entraram em um regime de previdência privada a partir de 1981. O sistema já foi considerado um modelo, mas começa a apresentar problemas
de financiamento já que o governo aporta recursos para quem não consegue obter uma aposentadoria mínima.Para Pinheiro, o sistema mais apropriado é o que combina uma parcela de aposentadoria assegurada pelo Estado mais a aposentadoria complementar, bancada com as contribuições do servidor. Ele observa que, além de viabilizar os pagamentos pelo Estado, cria também um volume de recursos que pode ser usado para investimentos que impulsionem o crescimento da economia. "Nos Estados Unidos, esse sistema foi introduzido em 1984 e hoje o fundo de previdência dos funcionários públicos de União, Estados e municípios acumula recursos de US$ 2,5 trilhões", disse.

Comentário de Didymi Borges

Por uma previdência distributiva de renda
e promotora do desenvolvimento

Os funcionários públicos têm insistido que não defendem privilégios mas tão somente supostos direitos quando querem manter o sistema diferenciado do regime de previdência social para os servidores públicos. O texto acima de Maria Luiza vai de encontro esta afirmação que nega estarem os servidores públicos brasileiros beneficiados por indevidos privilégios.

A reportagem de Jacques Guez, da France Press, demonstra que o Brasil é o país que mais gasta com previdência dos servidos públicos como percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) conforme levantamento da Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OECD), mesmo em comparação com 14 países países ricos. O sistema previdenciário brasileiro é o único que concede aposentadoria com benefício igual ao último salário -não há exemplo de tamanho privilégio em qualquer outro país do mundo. Ademais, além de ser regressiva em termos de distribuição de renda, a previdência social brasileira não desempenha o papel de captador de poupança para promoção do desenvolvimento econômico. Os Estados Unidos, por exemplo, têm no fundo de pensão dos servidores da União, Estados e Municípios uma fantástica soma de US$2,5 trilhões e este sistema foi introduzido em 1984, há vinte anos, portanto.

O corporativismo do funcionalismo público do Brasil, associado a uma esquerda retrógrada, acabou por impedir que a nossa previdência quebrasse as amarras do atraso e viesse a se constituir em elemento dinamizador da economia, por amealhar poupança para a promoção do desenvolvimento do sistema produtivo do país.

O ponto a ser discutido não é se a previdência deve ou não se constituir no principal instrumento de captação de poupanaça mas a forma garantidora de assegurar que esta poupança não seja malversada pela corrupção ou pela leniência de governos inescrupulosos para com a corrupção. Sabe-se de fundos de pensão de empresas públicas federais que foram usados inescrupulosamente nas privatizações viciadas durante a corrupção do governo FHC. Assim, a previdência será presa indesejável das negociatas e da corrupção.



Os fundos de pensão americanos
Enviado por Ricardo Martins Silva, São Paulo-SP

Por Tatiana Bautzer, de Washington
Fonte: Valor Econômico, 4 de agosto de 2003

Crise à vista. Fundos de pensão americanos projetam
déficit de US$ 350 bi. Nos EUA, está difícil fechar a
conta da previdência privada

Visto como um modelo para reformas da Previdência em todo o mundo, o sistema americano, que soma ativos de US$ 4 trilhões, está à beira de uma crise inédita. Recentemente, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, admitiu a um grupo de jornalistas que a crise dos fundos de pensão americanos poderá resultar em uma quebradeira semelhante à do sistema de crédito imobiliário em 1989.

Contraditoriamente, um comitê da Câmara dos Deputados aprovou uma legislação que abranda regras contábeis dos fundos, para tornar o "buraco" no financiamento das aposentadorias menos aparente. O projeto ainda não foi votado.

O maior problema está nos fundos de pensão com planos de benefício definido -que prometem o pagamento de uma aposentadoria de valor fixo, sem considerar o rendimento dos investimentos. Segundo a agência federal Pension Benefit Guaranty Corporation (PBGC), responsável por garantir as aposentadorias, hoje há um rombo de US$ 350 bilhões nesses planos, que atendem a 44 milhões de americanos e têm patrimônio beirando US$ 1,6 trilhão, segundo consultorias. Esses fundos perderam bilhões no mercado acionário, pois aplicam mais da metade dos recursos em ações.

A PBGC entrou no ano passado em um déficit bilionário (US$ 3,6 bilhões) por assumir planos de empresas aéreas e siderúrgicas quebradas. Os casos de fraude contábil, como o da Enron, não são sustentados pelo PBGC e os empregados da companhia simplesmente perderam a aposentadoria - a maior parte do dinheiro estava em ações da própria empresa. Recentemente, o Ministério do Trabalho entrou com ação judicial contra a Enron e seus ex-executivos para tentar receber algo no processo de falência.

A indústria americana de previdência privada tem mais de 730 mil planos diferentes - a maior parte, 92%, são de contribuição definida, no qual o valor da aposentadoria é determinado pelo rendimento dos investimentos ao longo do tempo. Incluindo contribuição e benefício definidos, mais de 100 milhões de americanos têm planos de previdência privada. O sistema público (Social Security) paga no máximo US$ 800 por mês aos aposentados.

Os últimos dados oficiais sobre o patrimônio dos fundos são de 1998, quando os ativos eram de US$ 4 trilhões. O montante diminuiu desde então. Segundo estudo da consultoria Cerulli Associates, de Boston, nos planos 401K (contribuição definida) o patrimônio terminou o ano passado em US$ 1,6 trilhão, com perda de US$ 100 bilhões nos investimentos ao longo de 2002.

A queda do mercado acionário americano (veja gráfico nesta página) atingiu em cheio a indústria de previdência privada dos EUA, que aplica muito em ações. Nos últimos três anos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, acumula perda de 13,11%. Os papéis das empresas de alta tecnologia tiveram performances ainda piores. O índice Nasdaq Composite acumula perda de 53,93% em relação a julho de 2000.

A dificuldade dos fundos de pensão em obter rendimentos apropriados em suas aplicações está obrigando os idosos americanos a trabalhar mais tempo. Segundo o Ministério do Trabalho, o número de trabalhadores acima de 55 anos cresceu 47% nos últimos dez anos, de 14,2 milhões em 1993 para 21,05 milhões este ano. Acima de 65 anos, são 4,5 milhões de trabalhadores, ou 13% da população de 33,8 milhões nesta faixa etária. Parte dessas pessoas continua a trabalhar porque não conseguiu juntar o dinheiro necessário para viver da aposentadoria.

A crise dos fundos causa tanta polêmica nos EUA que a sessão do comitê da Câmara que votou um projeto sobre o assunto terminou com a polícia expulsando deputados democratas da sala. O bate-boca entre democratas e republicanos começou porque a oposição só teve acesso ao projeto no dia da votação.

O projeto atendeu a pedidos das companhias que mantêm fundações de previdência e permite que os fundos mudem o cálculo de seus passivos, usando uma taxa de juros superior a dos bônus de 30 anos do governo. Os administradores argumentam que esses papéis estão perdendo a liquidez e são muito voláteis. Agora, poderão usar as taxas de bônus corporativos, mais altas, o que reduzirá contabilmente os passivos futuros. Em resumo: a nova contabilidade diminui o rombo.

Essa será uma regra temporária, adotada durante três anos, com a intenção de compensar os efeitos da queda do mercado acionário sobre os ativos. Depois disso, será adotada uma taxa ainda não definida.

O projeto também aumentou de 70 para 75 anos a idade que o trabalhador é obrigado a começar a receber a aposentadoria. E os valores máximos de contribuição dedutível para os fundos foram elevado para US$ 5 mil no caso de contas Individual Retirement Accounts (IRA) e US$ 15 mil para os planos 401K.

A aprovação das medidas foi comemorada pelos fundos de pensão e bancos que gerenciam os recursos. A vice-presidente da Securities Industry Association (SIA), Liz Varley, afirma que o projeto corrige valores de contribuição, que eram baixos. A indústria financeira também gostou da permissão dada pelo projeto para que os administradores possam dar consultoria financeira aos participantes dos fundos.

Para o presidente do American Benefits Council (ABC), James Klein, que representa as empresas patrocinadoras, "o uso das taxas de bônus de 30 anos estava provocando distorções". Segundo Klein, os juros muito baixos estimulava o crescimento de saques pelos aposentados - que podes receber uma soma em dinheiro de uma só vez ou optar por valores mensais de aposentadoria. Com a taxa de juros baixa, o valor atual do benefício aumenta. Klein argumenta que isso estava "drenando" os recursos de fundos já exauridos pelas perdas em investimentos.

Os sindicatos também são favoráveis à alteração na contabilidade. A AFL-CIO, que representa 13 milhões de trabalhadores, deu um depoimento ao Congresso a favor da mudança e pedindo que a nova taxa seja estável, para evitar flutuações nas contribuições das empresas.

O ABC também é favorável ao aumento da idade máxima obrigatória para o início do recebimento dos benefícios. "A longevidade da população aumentou", afirma Klein.

Liz Varley, da Securities Industry Association, concorda que muitos investidores estão decepcionados com as perdas nos últimos anos. "Mais gente está querendo administrar o dinheiro sozinha", afirma Varley. Segundo o Employee Benefit Research Institute, a participação dos trabalhadores em previdência privada caiu de 52% em 2000 para 50% em 2001.

Tamanho da indústria americana
dos fundos de pensão
(dados de 1998)

  • Total de ativos: US$ 4 trilhões
  • Seguro de vida privado: 9%
  • Planos do governo federal: 7%
  • Planos estaduais e municipais: 18%
  • Contas individuais e de aposentadoria: 21%
  • Planos privados de benefício definido: 21%
  • Planos privados de contribuição definida: 24%
  • Social Security - aposentadoria máxima US$ 800
  • Contas individuais de investimento: 33,9 milhões de pessoas.

Retorno projetado dos fundos de pensão
Plano de benefícios definido
(300 maiores empresas americanas)

Período
Média
Faixa de rendimento
2002
8,66%
7,5 a 9,5%
2001
9,07%
8,1 a 10%
2000
9,17%
8,2 a 10%
1999
9,11%
8,3 a 10%

Nota do editor

A matéria acima projeta o que poderá ser a
previdência privada no Brasil pós-reforma.


Governo pode promover a inclusão
social de 40 milhões de brasileiros

Enviado pelo autor, Recife-PE

Por Didymo Borges

Uma medida altamente positiva do relatório da reforma da previdência poderá ser a redução de 20% para 8% sobre o salário mínimo da contribuição dos autônomos para o INSS. Isso propiciará a proteção previdenciária de cerca de 40 milhões de brasileiros despossuídos que não têm condição de contribuir para a Previdência tais como camelôs, empregadas domésticas e trabalhadores avulsos.

A redução da alíquota de contribuição reduzirá para R$ 19,20 a contribuição mensal da previdência para estes excluídos dos benefícios previdenciários. É por isto que se pode dizer que o corporativismo dos funcionários públicos é extremamente perverso pois só com a extinção de descabidos privilégios será possível a inclusão social de quase 20 % do povo brasileiro. Por outro lado esta medida será um significativo e precioso legado do governo petista para as futuras gerações de brasileiros.

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Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Papel marché" de João Bosco. Seqüência MIDI Jorge Esqueff
Seqüência MIDI: *****

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Belo Horizonte, 21 fevereiro, 2004