Venezuela incrementa arsenal
militar e inquieta EUA
Enviado por Gustavo Barreto, Rio de Janeiro-Capital

Por Andy Webb-Vidal, do Financial Times
Tradução de Danilo Fonseca

Fonte: Financial Times
14 março, 2005

O principal oficial militar norte-americano responsável pela cooperação em questões de segurança na América Latina foi advertido sobre o potencial desestabilizador representado para a região pelo controvertido e opaco programa de aquisição de armas do governo venezuelano.

Hugo Chavez, presidente do país que é o quinto maior exportador de petróleo do mundo, começou a assinar contratos para a compra de vários tipos de armamentos. A idéia de Chavez é melhorar as defesas do país no sentido de dissuadir aquilo que, segundo ele, poderia ser uma "agressão externa".

Tais temores intensificaram-se duas semanas atrás, quando oficiais venezuelanos alarmaram-se com a presença de belonaves e marines norte-americanos nas proximidades de Curaçao, ao largo da costa da Venezuela. Oficiais norte-americanos disseram que se tratava de uma manobra rotineira.

Equipamentos que incluem 50 caças MiG-29 de última geração, dezenas de helicópteros de combate, 100 mil fuzis automáticos Kalashnikov, e uma frota de belonaves estariam prestes a integrar o novo arsenal da Venezuela.

O general Bantz Craddock, comandante-em-chefe do Comando Sul norte-americano, diz que o plano venezuelano de aquisição de armas é motivo de preocupação, já que o seu motivo é obscuro, gerando temores entre os vizinhos latino-americanos.

"Estamos querendo saber qual é a intenção por trás disso", afirmou o general Craddock em uma entrevista. "Se é para a defesa soberana, é óbvio que cada nação pode agir como quiser, assim como quando se trata de proteger a soberania e as fronteiras nacionais."

Mas o general Craddock, que deve falar na próxima terça-feira perante o Comitê do Senado para Assuntos das Forças Armadas, disse que não está claro se o usuário final de algumas das armas, especialmente dos 100 mil fuzis, será realmente a Venezuela.

"Se for para exportar instabilidade, então a situação é diferente", afirmou. "Preocupamos-nos com isso e não gostaríamos que tal fato ocorresse."

Autoridades militares norte-americanas estão especialmente preocupadas com a possibilidade de que, tão logo os fuzis russos sejam entregues, haja risco de que outras armas ou munições da Venezuela caiam nas mãos dos guerrilheiros colombianos que procuram derrubar o presidente Álvaro Uribe, o principal aliado de Washington na região.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ou Farc, há muito recebem armas e munições de facções renegadas de governos de países vizinhos.

Vladimiro Montesinos, diretor da inteligência peruana sob o governo do ex-presidente Alberto Fujimori, teria articulado a entrega de 10 mil Kalashnikovs às Farc, como parte de uma operação clandestina quando estava no poder.

No entanto, autoridades norte-americanas estão menos preocupadas com os aparentes planos de Chavez para a aquisição de caças MiG-29 da Rússia. "A maioria dos analistas aqui acredita que isso seria um desperdício colossal de dinheiro por parte de Chavez, já que ele provavelmente não seria capaz de manter esses aviões voando por muito tempo", disse um oficial militar dos Estados Unidos.

A Venezuela já possui caças F-16 norte-americanos e Mirages franceses. Mas os analistas acreditam que poucas dessas aeronaves estejam em condições operacionais.

Algumas autoridades norte-americanas estão mais preocupadas com aquilo que vêem como falta de transparência financeira na negociação dos acordos de armas, do que com a capacidade bélica dos armamentos em si. Há boatos de que o valor das compras de armamento, pagas pelo petróleo de Chavez, chegaria aos US$ 5 bilhões. Mas nenhuma dessas operações foi ainda debatida no âmbito do legislativo venezuelano.

"Trata-se de uma orgia de corrupção", afirma Roger Pardo-Maurer, vice-secretário-assistente para Questões do Hemisfério Ocidental do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

Chavez respondeu no mês passado que os Estados Unidos não têm autoridade moral para fazer tais reclamações, já que "mentiram" sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, utilizando essa mentira como principal justificativa para invadir aquele país.


A ocupação oficializada
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital

Observatório do Jornal Nacional

Por Gustavo Barreto
http://www.consciencia.net/midia/jornalnacional.html

2 março, 2005

Impressiona a boa vontade que o Jornal Nacional tem em relação aos governantes norte-americanos - a saber, um grupo de extrema-direita que aumentou a antipatia de quase toda a população mundial depois de distribuir terror e medo pelo planeta, seja diretamente ou pela ajuda militar a aliados terroristas.

Após informar que um juiz e seu filho, que trabalhavam no julgamento do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein, foram mortos por pistoleiros em Bagdá, o JN afirmou que o presidente norte-americano está "preocupado" com a situação. Bush quer "que Saddam seja julgado como criminoso comum". E conclui: "Não vai ser uma tarefa simples, se os rebeldes começarem a ameaçar os 50 juízes e promotores que trabalham no julgamento".

O JN não se preocupa, por exemplo, em falar sobre a ilegalidade do que está ocorrendo no Iraque, que tem sua soberania estuprada há algum tempo. Os EUA, por conta dessa invasão, é o grande promotor da insatisfação interna, mas continua a afirmar que não sai de lá enquanto não houver paz.

Exatamente como está no sítio oficial do que chamam de "governo interino do Iraque": "The longer terrorists continue to destroy Iraqi lives the longer the multi-national forces will remain" [Quanto mais os terroristas destruirem vidas iraquianas, mais tempo permanecerão no país as forças multinacionais]. Se você preferir, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse na sexta (11/2) "que as tropas americanas só deixarão o Iraque quando a insurgência for derrotada".

Em outras palavras: nunca vão deixar completamente o país. É tão transparente a visão dos editores do JN de que o Iraque não merece soberania que o repórter, falando de Washington, informou apenas o que George W. Bush declarou. E o presidente do Iraque? O que pensa? A Casa Branca ignora e, como aliada no Brasil, conta com os serviços da Rede Globo.

Para não soar "radical", vou materializar a pergunta óbvia: por que ouvir apenas autoridades norte-americanas se os magistrados eram iraquianos, foram assassinados por iraquianos e estavam no Iraque?

Por falar em crimes comuns, você sabia que um advogado de familiares de vítimas do World Trade Center entrou com uma ação na Justiça acusando o presidente Bush de ter ordenado pessoalmente os atentados contra as Torres Gêmeas e Pentágono?

Foi o que informou uma rádio da Califórnia, mais precisamente o programa Alex Jones Rádio Show, e também uma corrente alternativa na Internet.

O jornalista Mário Augusto Jakobskind dá detalhes: o advogado Stanley Hilton, representando 400 familiares das vítimas -apesar, segundo ele, das pressões que está recebendo em todos os níveis- não se calou e tem afirmado que um criminoso está sentado no Salão Oval da Casa Branca. Ele se chama George W. Bush.

"Uma das testemunhas de Hilton é uma mulher que, segundo o advogado, foi esposa de um dos agentes secretos designados para espionar árabes residentes nos Estados Unidos. Este espião foi um dos 'terroristas' que se encontrava em um dos aviões comerciais que se chocou contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, garante Hilton. Ele revelou também que os agentes foram treinados em bases militares estadunidenses, na Pensacola Naval Air Station".

Será que amanhã ou depois, no JN, ouviremos que 400 familiares de vítimas do World Trade Center querem que Bush seja julgado como um criminoso?

Da minha parte, estou enviando uma carta para a redação -o email é jn@redeglobo.com.br- para solicitar a inclusão dessa informação. Ela é real e importante, os detalhes estão aqui. Suponho que haja gente boa lá para verificar. Haverá, no entanto, vontade e coerência?


China, o gigante acordado

Há algum tempo, a China era chamada de "gigante adormecido". Hoje, na posição de economia que mais cresce no mundo, passou a ser conhecida como "gigante acordando". Ver mais


Os mestres do universo

Por Jô de Carvalho, articulista de Direto da Redação,
foi apresentadora das redes Record e Bandeirantes

8 fevereiro, 2005

Os americanos divulgaram recentemente um relatório elaborado pelo NIC - National Intelligence Council's – o think tank da CIA, onde traçam a "ordem internacional" dos próximos anos. Nele fazem previsões pouco encorajadoras para a Europa de 2020.

Mapping de Global Future é uma síntese de 120 páginas, coordenada por Robert Hutchings, diretor do NIC. Segundo o estudo, elaborado a partir das análises de mais de mil especialistas dos 5 continentes, a União Européia deixará de ser uma potência mundial daqui a 15 anos. Pior que isso, poderá mesmo se desmantelar se, entre outras coisas, não reformar rapidamente seu sistema social.

"O peso da Europa no mundo dependerá de sua coesão política", diz relatório para, em seguida, fazer a crítica: "A recente integração de 10 novos países será prejudicial à consolidação de suas instituições, ao surgimento de uma visão estratégica comum, de uma política estrangeira e ainda de defesa européia".

Situação agravante, a adesão da Turquia à União "com sua numerosa população muçulmana" será um freio ao desenvolvimento da Europa e "impedirá que ela desempenhe o papel que ela merece no plano internacional."

No plano econômico, o relatório prevê que a UE será completamente ultrapassada pela China, India e mesmo pelo Brasil ou Indonésia.

Vários fatores justificariam um tal declínio, segundo Washington : falta de crescimento demográfico e população idosa, falta de revitalização econômica, a expansão sem fim de suas fronteiras, dificuldades em integrar uma população muçulmana cada vez maior…

Os autores do relatório criticam a capacidade da Europa em coordenar e racionalizar suas despesas com a defesa e a capacidade de suas forças militares em projetar sua potência. Em seguida, preconizam que a força da Europa, visto o seu comprometimento com o "multilateralismo", poderia estar em servir de modelo de governo, global ou regional, à potências emergentes em busca de alianças alternativas à forte dependência dos EUA.

Resumindo, o NIC vaticina que, com todas essas dificuldades, a União Européia será incapaz de desempenhar o papel que seus fundadores sonharam para ela.

Conclusão óbvia: daqui a 15 anos, os Estados Unidos serão a única super potência do mundo.

Como não podia deixar de ser, Mapping Global Future foi muito mal recebido por Bruxelas. O pessoal da Comissão Européia não gostou nem um pouco do "cenário catástrofe" desenhado pelos americanos nem tampouco da impressão que eles querem dar ao mundo de total contrôle sobre as questões do planeta. O assunto certamente será lembrado quando da visita de Bush à Bruxelas dia 22 de fevereiro.

Javier Solana, chefe da diplomacia da União reagiu prontamente. "Nossa política não é de falar dos americanos, mas com eles", lembrando que há muito trabalho a ser feito em conjunto no que diz respeito à Rússia, à Ucrânia e ao Oriente Médio.

Os comentários sobre a entrada na Turquia na União às vésperas da abertura das negociações da adesão com Ankara e o fato do documento não fazer nenhuma alusão à Constituição Européia no exato momento em que vários países da União se preparam para plebiscitá-la provocaram muita irritação.

Se os americanos fizeram de propósito para semear a cizânia, tenho a impressão que não funcionou. Os jornais daqui deram pouco ou nenhuma atenção ao relatório da Cia. Na França, apenas dois jornais se interessaram pelo assunto, mesmo tendo o diretor do NIC vindo pessoalmente apresentá-lo em um seminário da prestigiosa escola de Ciências Políticas da Sorbonne.

Tamanho pouco caso soa como uma boa resposta ao desejo dos americanos, tão clara nas entrelinhas, de ver uma Europa moribunda e poder desempenhar tranquilamente seu papel de mestres do universo.


As verdadeiras razões de Bush
Enviado por Paulo Oliveira, São Paulo-Capital

Antes dos EUA invadirem o Iraque, Saddam havia abandonado o dólar como padrão e adotado o euro. Estranhamente esse fato não foi citado da mídia. Se outros países decidissem fazer o mesmo, o Império ruiria, e muitos iriam junto, como explica o articulista

Por Said Barbosa Dib, professor de história

16 janeiro, 2005

Não são justas as análises simplificadoras e ingênuas da mídia que colocam o presidente George W. Bush como um monstro ou um energúmeno sanguinário. Mesmo que seu intelecto não seja dos mais geniais, ele não é, definitivamente, um camarada mau nem bobo. Pelo contrário, é um cidadão patriota que está tentando salvar os EUA da bancarrota, impedir a queda do Império sob seu comando. Digo isso porque, ao contrário do que se fala, o governo norte-americano está totalmente desesperado com a ruína iminente de sua economia.

Segundo W. Clark, do jornal "Indy Time", o temor do Federal Reserve (Banco Central americano) é de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), nas suas transações internacionais, abandone o padrão dólar e adote definitivamente o euro. O Iraque fez esta mudança em novembro de 2000 - quando o euro valia cerca de US$ 0,80 - e escapou ileso da depreciação do dólar frente à moeda européia (o dólar caiu 15% em relação ao euro em 2002).

Esta informação, se analisada por aqueles que conhecem os problemas estruturais do sistema de Breton Woods e as atuais limitações energéticas dos norte-americanos, coloca em dúvida a hegemonia do dólar no mundo e explica a razão pela qual a administração Bush quer, desesperadamente, um regime servil na história Mesopotâmia. Se o presidente norte-americano tiver sucesso, o Iraque voltará ao padrão dólar, não correndo o risco de servir de modelo alternativo para outros países dependentes como o Brasil. É por esta razão que o governo norte-americano, ao mesmo tempo, espera também vetar qualquer movimento mais vasto da Opep em direção ao euro.

Por isso, essa informação é tratada quase como um segredo de Estado, pois governos dependentes como o nosso, que apostaram tudo no modelo neoliberal, iriam para o fundo do poço junto com seus chefes norte-americanos. Isso porque os países consumidores de petróleo teriam de despejar dólares das reservas dos seus bancos centrais -atualmente submetidos ao FMI- e substitui-los por euros. O dólar entraria em crash com uma desvalorização da ordem de 20% a 40%e as conseqüências, em termos de colapso da divisas e inflação maciça, podem ser imaginadas. Pense-se em algo como a crise Argentina em escala planetária, por exemplo.

Na verdade, o que permeia toda essa discussão é a chamada "crise dos combustíveis fósseis". O físico e pensador Batista Vidal lembra que "as reservas de petróleo estão extremamente concentradas em poucos pontos do planeta, pois o total descoberto no mundo está situado em vinte campos supergigantes". Assim, na ótica do Primeiro Mundo, se os atuais países em desenvolvimento realmente se desenvolvessem, o Mundo teria ou que descobrir meia dúzia de campos supergigantes ou o petróleo acabaria em 10 ou 15 anos.

Por isso, o sistema de poder financeiro mundial, subjugado pelo padrão dólar, está completamente desacreditado, falido. Os bancos estão caindo aos pedaços em todos os países ditos desenvolvidos , principalmente nos Estados Unidos e Japão. Prevê-se um colapso a qualquer momento. Agora o que sustenta isso? Devido à ocupação militar no Oriente Médio - ampliada a partir da
crise do petróleo da década de 70 -, mesmo com o déficit público monstruoso dos EUA, o dólar inflacionado compra artificialmente o petróleo, base de toda a economia americana e ocidental. Portanto , Sadam selou o seu destino quando, em fins de 2000, decidiu mudar para o euro.

A partir daquele momento, uma outra Guerra do Golfo tornava-se um imperativo para Bush Jr. Ou seja, o que está em jogo não é nem o caráter texano caricato de Bush, nem uma questão de segurança nacional norte-americana, mas a continuidade da falácia do dólar. E essa informação é censurada pela imprensa norte-americana e suas vassalas tupiniquins, bem como pela administração Bush, pois pode potencialmente reduzir a confiança dos investidores e dos consumidores, criar pressão política para formação de uma nova política energética que gradualmente nos afaste do petróleo do Oriente Médio e da órbita anglo-americana, e fazer com que projetos como o nosso Pró-Alcool mostrem sua força.

Nota do editor

É por isso que a Alemanha, defensora ferrenha do Euro, é terminantemente contra a guerra.
É por isso que a Inglaterra, que não adotou o Euro em seu país, é a favor da guerra.

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Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Georgia on my mind"
Nota para a seqüência MIDI: *****

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Belo Horizonte, 15 março, 2005

Política internacional