A verdade sobre a Palestina
Por Roberto Bendia,
editor do Jornal dos Amigos
..Publicado
no Jornal dos Amigos em 8 de maio de 2002
|
A idéia de um Estado Palestino Tudo começou
há muito tempo, quando os judeus foram perseguidos pelos cristãos
na Europa, desde os tempos sombrios da Idade Média Naquela ocasião pensava-se em fazer o Estado natal para o judeu na Palestina ou Argentina (veja a comparação das bandeiras da Argentina e Israel logo abaixo). Depois, por questões econômicas e estratégicas, achou-se mais conveniente que o Estado judáico deveria ser localizado no Oriente Próximo, que hoje a Imprensa chama de Oriente Médio.
Entre 29 de janeiro a 10 de fevereiro de 1918 aconteceu o Primeiro Congresso Nacional Palestinos em Jerusalém. Como resultado desse encontro são enviados dois memorandos à Conferência de Paz em Paris, em Versalhes, rejeitando a Declaração Balfour e pedindo independência para a Palestina.
|
|
Comparação das bandeiras da Argentina e de Israel
A declaração Balfour
Esse documento foi a causa principal de tudo que ocorre hoje no Oriente Médio. Quando foi feita essa malfadada declaração, a Palestina era uma terra árabe, como outras da região tais como a Síria, Líbano, Jordânia, Iraque etc, incluídas até aquele ano no império otomano. A Palestina tinha uma população de aproximadamente três milhões e meio de habitantes, sendo a maioria (92%) de árabes e o restante (8%) de judeus.
No fim do século 19 surgiu na Europa, por intermédio de alguns judeus ricos e influentes, o movimento sionista com falsos fundamentos religiosos e raciais que, entre outros objetivos, tinham como meta principal a implantação de um Estado judáico na Palestina. Essa meta incluia as seguintes ações: expulsar os seus habitantes, saquear os seus bens, tomar as suas cidades e fazer emigrar para a região judeus espalhados pelo mundo, principalmente da Europa.
Em 1917, quando a Grã-Bretanha estava
em guerra com a Alemanha -o império
austro-húngaro e o império otomano- o primeiro-ministro inglês,
Lloyd George, fez um pronunciamento declarando que os líderes sionistas
prometeram-lhe conseguir o apoio financeiro dos judeus de vários países,
principalmente dos Estados Unidos, caso a Inglaterra se comprometesse a ajudá-los
a se estabelecerem nas terras árabes da Palestina.
Apesar de não terem nehum direito, porque a Palestina não lhes pertencia, o então ministro das relações exteriores Lord Arthur Balfour, em carta ao banqueiro judeu Lord Rotschild, comunicou-lhe dizendo que o gabinete britânico havia aprovado em 2 de novembro de 1917 a promessa de se instalar na Palestina o Estado judeu, conforme segue:
"O Governo de Sua Majestade encara com simpatia o estabelecimento na Palestina de um Lar Nacional Judeu e empregará seus maiores esforços para a consecução desse objetivo, ficando claramente entendido que nada será feito que prejudique os direitos religiosos ou civis das comunidades não-judias existentes na Palestina, ou os direitos e estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país".
O desenrolar da história
Em abril de 1920 os britânicos afastam do cargo de prefeito de Jerusalém o sr. Musa Kazim al Husseini, por fazer oposição a sua política pró-sionista. A Conferência de Paz de San Remo cede o mandato da Palestina aos britânicos.
Em maio-junho de 1921, o 4º Congresso Nacional Palestino, reunido em Jerusalém, decide enviar delegação palestina a Londres para explicar a posição palestina contra a Declaração de Balfour.
Em 1922, os britânicos obtêm da Liga das Nações mandato para governar a Palestina. Jerusalém torna-se capital sob administração civil britânica.
De 1922 a 1939, foi o período em que houve numerosas revoltas palestinas contra a ocupação britânica e maciça imigração judia.
Em 1925, houve greve geral na Palestina em protesto à visita privada de Lord Balfour a Jerusalém.
Em 28 e 29 de agosto de 1929, ocorrem revoltas palestinas em várias cidades como reação às demonstrações militares judias junto ao Muro das Lamentações.
Em outubro de 1933 acontecem os protestos em Jafa contra a política britânIca pró-sionista.
Em 8 de maio de 1936 ocorre a conferência de todos os comitês nacionais reunidos em Jerusalém pedindo "nenhuma taxa sem representação". Começa a greve geral.
Finalmente chega o acontecimento mais dramático
para a nação Palestina. Em 29 de novembro de 1947, a resolução
181 da ONU aprovou a criação dos Estados de Israel e da Palestina,
cabendo ao Estado judeu 56% e ao palestino 44%, sobre a totalidade do antigo
Estado palestino. Decidiu-se também que naquela ocasião Jerusalém
e Belém tivessem status à parte, ou seja, sob regime internacional,
administrado por um Conselho Curador de responsabilidade das Nações
Unidas.
O território perdido
Em 1948, logo após o término do mandato britânico, os judeus -quase todos nascidos na Europa- instalam o Estado de Israel, com armas e dinheiro fornecidos principalmente pelos Estados Unidos e Inglaterra. Nessa ocasião começa o massacre dos israelenses contra a população civil e desarmada da Palestina, levando ao exílio mais de 800 mil palestinos. Israel então, passando por cima da resolução 181 da ONU, ocupa pela força das armas 78% do território, avançando 22%, isto é, tomando 50% do que deveria ser o Estado da Palestina. De 1948 para cá, os israelenses
sempre faltaram com a verdade, dizendo que chegaram na região
desarmados e perseguidos e lutaram contra cinco Em 1967 Israel ataca o mundo árabe, um ataque preventivo -disseram eles (a alegação foi de que fora atacado primeiro). Ataca o Egito e destrói toda a sua aviação no chão. Ataca o exército da Síria e ocupa os outros 22% da palestina histórica. Tomam a península do Sinai do Egito e as Colinas do Golan, da Síria. Em 1972 Israel ataca Beirute e ocupa o sul do Líbano. |
Israel desviou as águas do Rio Jordão. A Jordânia agora depende de Israel para ter água. Oitenta e seis por cento da água que deveria estar do lado palestino agora estão nas colônias judaicas. Em Israel tem água nas piscinas. No lado palestino (nos 22%) não tem água para beber.
Desde então várias resoluções da ONU -do Conselho de Segurança e da Assembléia Geral- pedindo Israel que desocupe os territórios ocupados não são atendidas. Israel desrespeita a ONU, a começar com a resolução 242 que determina que Israel deve voltar às suas fronteiras ocupadas antes de 1967. E várias outras resoluções condenando os acampamentos judeus no lado palestino que nunca foram acatadas.
O que é
ser palestino
Dentro da partilha determinada pela ONU, Jerusalém
Oriental deve ficar com os árabes palestinos. Mas os massacres e o
desrespeito aos palestinos continuam até os dias de hoje. Israel condenou
o povo palestino a viver em verdadeiros guetos e campos de refugiados. Nenhum
palestino pode andar de um bairro para outro sem ser revistado. Mulheres que
precisam dar à luz são impedidas de chegarem aos hospitais e
muitas vezes o parto acontece na própria rua. As habitações
dos palestinos não podem ser aumentadas e nem construídas outras.
O palestino que sai de seu território é impedido de voltar e
as famílias palestinas têm sido dizimadas. O homem palestino
vem perdendo a sua identidade e, por isso, a única alternativa que
lhe resta é virar homem-bomba. Na verdade, nenhum palestino nasce terrorista.
As condições de massacre e humilhações impostas
durante anos fizeram-no agir com violência.
O verdadeiro
terrorista
O atual primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, começou a sua vida em 1948 quando fazia parte do grupo terrorista Haganá, que iniciou a ocupação da Palestina, grupo esse que mais tarde veio a ser o exército de Israel. Hoje a humunidade -o mundo que compreendemos como civilizado- o considera o maior terrorista da história. Segundo o jornalista e deputado federal Hélio Costa, a única diferença entre Sharon e Hitler é que este enterrava os mortos.
Airel Sharon, que em 2000 foi eleito primeiro-ministro de Israel, nunca quis sentar em uma mesa para conversar sobre paz. Ele só sabe o que é matar, assassinar civis e pessoas desarmadas.O seu currículo não é para ser invejado. Em 1953 atacou de surpresa (não é novidade) com uma força sob o seu comando Qibya, uma aldeia na margem ocidental do rio Jordão, matando mais de 60 civis. Em 1982, quando era ministro da defesa, sitiou o setor ocidental de Beirute: dezenas de milhares de civis libaneses morreram. Em 1983, para acalmar a indignação mundial pelos crimes cometidos, Sharon é responsabilizado e condenado pela própria Justiça israelense e é destituído do cargo. Sharon é covarde, pois só ataca quem está desarmado, isto é, a população civil. A comparação de seus atos seria a polícia subir ao morro em uma favela para procurar um bandido e acabar com a favela. É o que os israelenses estão fazendo com os palestinos quando há um atentado por parte destes.
Em 4 de fevereiro de 2001, o diário israelense Maarif publicou parte do plano de Sharon, em que aponta a sua intenção de assassinar os líderes palestinos, desmantelar sua autoridade, enfraquecê-los politicamente. Até hoje dezoito líderes já foram executados.
Em julho de 2000, por culpa de Bill Clinton e Barak, nas conversas que tiveram com Arafat em Camp David, a oferta que Barak fazia aos palestinos para construir o seu estado era mentirosa. Quando para o mundo ele dizia que estava oferecendo 96% dos 22% do território ocupado, quando na verdade ele tirava do acordo Jerusalém Oriental, os acampamentos judeus, as auto-estradas e o controle do espaço aéreo e na condição de que nenhum palestino exilado poderia voltar. Lógico que Arafat não aceitou.
A mentira pregada aos palestinos e o enfraquecimento
de Barak fizeram crescer a direita em Israel levando Ariel Sharon ao poder.
Então o processo de paz ficou muito distante e quase impossível
de ser alcançado, a não ser com a mobilização
internacional. Nessa mobilização os palestinos não contam
com os Estados Unidos e a Inglaterra. Israel é um Estado-irmão
dos Estados Unidos de tal sorte que a bandeira americana poderia ter mais
uma estrela ou todas as estrelas substituídas pela estrela de Davi.
Os Estados Unidos só tomam partido de Israel, a ponto de George W.
Bush dizer que Ariel Sharon é um homem de paz.
Alerta
Brasil
O exemplo de opressão ao povo palestino
pode acontecer a qualquer momento em qualquer parte no mundo. Aconteceu no
Afeganistão (a droga que estava banida voltou a rolar), está
acontecendo na Argentina pelo poder econômico (o FMI -leia-se Estados
Unidos- obrigaram-na a seguir uma receita que não deu certo...). Os
Estados Unidos mandam na ONU. Simplesmente é votado o que for de interesse
desse país. Recentemente foi destituído da direção-geral
da Organização das Nações Unidas para a Proibição
de Armas Químicas o embaixador brasileiro José Maurício
Bustani, por não agir de acordo com o interesse americano. E nesse
episódio está evidente, pelo seu silêncio, a atitude medrosa
do governo brasileiro.
A glória eterna aos
mártires da causa Palestina
Existe uma parcela expressiva da comunidade
internacional -mais de 80%- que concorda com a criação do Estado
da Palestina independente, com a autodeterminação de seu povo.
Os palestinos já se contentam com apenas 22% de território hoje
ocupado por Israel (pela resolução 181 da ONU teria direito
a 44%). Só depende da mobilização da comunidade internacional
para concretizar o direito natural e inalienável do povo palestino.
(*) Marcelo Antônio dos Santos Fernandes começou sua militância
pró-palestina em 1997 quando esteve em São Paulo e conheceu
a comunidade árabe. Nessa oportunidade foi convidado para criar e presidir
a seção Minas Gerais da Federação Árabe.
Representa interesses de 22 Estados árabes (sendo 13 embaixadas), mesmo
aliados naturais dos Estados Unidos como Kuwait e Arábia Saudita. A
sua posição política não é ser contra os
Estados Unidos ou Israel, mas o sentido de justiça na criação
legítima do Estado da Palestina.
Contato com
a Fearab - Federação de Entidades Árabes Brasileiras
Tel: (31) 3491-2207 - E-mail: fearabmg.marcelo@ig.com.br
Música
de fundo em arquivo MID (experimental):
"A fala da paixão",
de Egberto Gismonte.
Seqüência MIDI: Egberto Gismonte
Nota para a seqüência Midi: *****
Participe do Jornal dos Amigos,
cada vez mais um jornal cidadão
O Jornal dos Amigos agradece a seus colaboradores e incentiva os leitores a enviarem textos, fotos ou ilustrações com sugestões de idéias, artigos, poesias, crônicas, amenidades, anedotas, receitas culinárias, casos interessantes, qualquer coisa que possa interessar a seus amigos. Escreva para o e-mail:
Se o conteúdo
estiver de acordo com a linha editorial do jornal, será publicado.
Não esqueça de citar seu nome, a cidade de origem e a fonte
da informação.
Solicitamos
a nossos colaboradores que, ao enviarem seus textos, retirem as "flechas",
isto é, limpem os textos daquelas "sujeiras" de reenvio do
e-mail. Isso facilita bastante para nós na diagramação.
www.jornaldosamigos.com.br
Política internacional