A verdade sobre a Palestina

Por Roberto Bendia, editor do Jornal dos Amigos

..Publicado no Jornal dos Amigos em 8 de maio de 2002


Texto resultante de entrevista com
*Marcelo Antônio dos Santos Ferreira, presidente da FEARAB - Brasil,
Federação de Entidades Árabe-Brasileiras,
seção Minas Gerais

 

 

A idéia de um Estado Palestino

Tudo começou há muito tempo, quando os judeus foram perseguidos pelos cristãos na Europa, desde os tempos sombrios da Idade Média

Em 9 de dezembro de 1917, com a rendição das tropas turco-otomanas em Jerusalém, as forças aliadas dirigidas pelo general Allenby conquistaram a Palestina e Jerusalém, que ficaram sob a administração militar britânica. Poucos meses depois terminava a primeira guerra mundial.

Naquela ocasião pensava-se em fazer o Estado natal para o judeu na Palestina ou Argentina (veja a comparação das bandeiras da Argentina e Israel logo abaixo). Depois, por questões econômicas e estratégicas, achou-se mais conveniente que o Estado judáico deveria ser localizado no Oriente Próximo, que hoje a Imprensa chama de Oriente Médio.

  • Oriente Próximo: Bacia oriental do mar mediterrâneo compreendida pela Grécia, Turquia, Síria, Líbano, antiga Palestina (Israel), leste da Jordânia e Iraque.
  • Oriente Médio: Índia, Tibet, Sirilanka e Birmânia

Entre 29 de janeiro a 10 de fevereiro de 1918 aconteceu o Primeiro Congresso Nacional Palestinos em Jerusalém. Como resultado desse encontro são enviados dois memorandos à Conferência de Paz em Paris, em Versalhes, rejeitando a Declaração Balfour e pedindo independência para a Palestina.

Este menino é o símbolo da vitória palestina

 

 


Quadro em 1997

Dados básicos sobre a Palestina e os territórios ocupados

Capital reclamada pelos palestinos:
Jerusalém Oeste

Principais cidades: Gaza, Ramallah, Khan Yunis, Rafah, Nablus e Hebrón


Superficie histórica
da Palestina

Israel atual: 21.946 km2

Territorios palestinos: 6.257 km2

Cisjordania: 5.872 km2;
Gaza: 378 km2

Área autônoma em 1997:
4% de Cisjordania e Gaza

Área com automia limitada aos assuntos civis: 23% da Cisjordania e Gaza

População total de palestinos em 1997: cerca de 7 milhões

Distribuição dos palestinos em 1997

  • Cisjordania: 1.450.000
  • Gaza: 1.050.000
  • Israel: 900.000
  • Jordania: 2.100.000
  • Líbano: 350.000
  • Siria: 350.000
  • Resto do mundo: 800.000

Fonte: Palestina en castellano
www.nodo50.org/palestina/

Comparação das bandeiras da Argentina e de Israel

A declaração Balfour

Esse documento foi a causa principal de tudo que ocorre hoje no Oriente Médio. Quando foi feita essa malfadada declaração, a Palestina era uma terra árabe, como outras da região tais como a Síria, Líbano, Jordânia, Iraque etc, incluídas até aquele ano no império otomano. A Palestina tinha uma população de aproximadamente três milhões e meio de habitantes, sendo a maioria (92%) de árabes e o restante (8%) de judeus.

No fim do século 19 surgiu na Europa, por intermédio de alguns judeus ricos e influentes, o movimento sionista com falsos fundamentos religiosos e raciais que, entre outros objetivos, tinham como meta principal a implantação de um Estado judáico na Palestina. Essa meta incluia as seguintes ações: expulsar os seus habitantes, saquear os seus bens, tomar as suas cidades e fazer emigrar para a região judeus espalhados pelo mundo, principalmente da Europa.

Em 1917, quando a Grã-Bretanha estava em guerra com a Alemanha -o império
austro-húngaro e o império otomano- o primeiro-ministro inglês, Lloyd George, fez um pronunciamento declarando que os líderes sionistas prometeram-lhe conseguir o apoio financeiro dos judeus de vários países, principalmente dos Estados Unidos, caso a Inglaterra se comprometesse a ajudá-los a se estabelecerem nas terras árabes da Palestina.

Apesar de não terem nehum direito, porque a Palestina não lhes pertencia, o então ministro das relações exteriores Lord Arthur Balfour, em carta ao banqueiro judeu Lord Rotschild, comunicou-lhe dizendo que o gabinete britânico havia aprovado em 2 de novembro de 1917 a promessa de se instalar na Palestina o Estado judeu, conforme segue:

"O Governo de Sua Majestade encara com simpatia o estabelecimento na Palestina de um Lar Nacional Judeu e empregará seus maiores esforços para a consecução desse objetivo, ficando claramente entendido que nada será feito que prejudique os direitos religiosos ou civis das comunidades não-judias existentes na Palestina, ou os direitos e estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país".


O desenrolar da história

Em abril de 1920 os britânicos afastam do cargo de prefeito de Jerusalém o sr. Musa Kazim al Husseini, por fazer oposição a sua política pró-sionista. A Conferência de Paz de San Remo cede o mandato da Palestina aos britânicos.

Em maio-junho de 1921, o 4º Congresso Nacional Palestino, reunido em Jerusalém, decide enviar delegação palestina a Londres para explicar a posição palestina contra a Declaração de Balfour.

Em 1922, os britânicos obtêm da Liga das Nações mandato para governar a Palestina. Jerusalém torna-se capital sob administração civil britânica.

De 1922 a 1939, foi o período em que houve numerosas revoltas palestinas contra a ocupação britânica e maciça imigração judia.

Em 1925, houve greve geral na Palestina em protesto à visita privada de Lord Balfour a Jerusalém.

Em 28 e 29 de agosto de 1929, ocorrem revoltas palestinas em várias cidades como reação às demonstrações militares judias junto ao Muro das Lamentações.

Em outubro de 1933 acontecem os protestos em Jafa contra a política britânIca pró-sionista.

Em 8 de maio de 1936 ocorre a conferência de todos os comitês nacionais reunidos em Jerusalém pedindo "nenhuma taxa sem representação". Começa a greve geral.

Finalmente chega o acontecimento mais dramático para a nação Palestina. Em 29 de novembro de 1947, a resolução 181 da ONU aprovou a criação dos Estados de Israel e da Palestina, cabendo ao Estado judeu 56% e ao palestino 44%, sobre a totalidade do antigo Estado palestino. Decidiu-se também que naquela ocasião Jerusalém e Belém tivessem status à parte, ou seja, sob regime internacional, administrado por um Conselho Curador de responsabilidade das Nações Unidas.

O território perdido

Em 1948, logo após o término do mandato britânico, os judeus -quase todos nascidos na Europa- instalam o Estado de Israel, com armas e dinheiro fornecidos principalmente pelos Estados Unidos e Inglaterra. Nessa ocasião começa o massacre dos israelenses contra a população civil e desarmada da Palestina, levando ao exílio mais de 800 mil palestinos. Israel então, passando por cima da resolução 181 da ONU, ocupa pela força das armas 78% do território, avançando 22%, isto é, tomando 50% do que deveria ser o Estado da Palestina.

De 1948 para cá, os israelenses sempre faltaram com a verdade, dizendo que chegaram na região desarmados e perseguidos e lutaram contra cinco
exércitos árabes e venceram.

Em 1967 Israel ataca o mundo árabe, um ataque preventivo -disseram eles (a alegação foi de que fora atacado primeiro). Ataca o Egito e destrói toda a sua aviação no chão. Ataca o exército da Síria e ocupa os outros 22% da palestina histórica. Tomam a península do Sinai do Egito e as Colinas do Golan, da Síria.

Em 1972 Israel ataca Beirute e ocupa o sul do Líbano.

Israel desviou as águas do Rio Jordão. A Jordânia agora depende de Israel para ter água. Oitenta e seis por cento da água que deveria estar do lado palestino agora estão nas colônias judaicas. Em Israel tem água nas piscinas. No lado palestino (nos 22%) não tem água para beber.

Desde então várias resoluções da ONU -do Conselho de Segurança e da Assembléia Geral- pedindo Israel que desocupe os territórios ocupados não são atendidas. Israel desrespeita a ONU, a começar com a resolução 242 que determina que Israel deve voltar às suas fronteiras ocupadas antes de 1967. E várias outras resoluções condenando os acampamentos judeus no lado palestino que nunca foram acatadas.


O que é ser palestino

Dentro da partilha determinada pela ONU, Jerusalém Oriental deve ficar com os árabes palestinos. Mas os massacres e o desrespeito aos palestinos continuam até os dias de hoje. Israel condenou o povo palestino a viver em verdadeiros guetos e campos de refugiados. Nenhum palestino pode andar de um bairro para outro sem ser revistado. Mulheres que precisam dar à luz são impedidas de chegarem aos hospitais e muitas vezes o parto acontece na própria rua. As habitações dos palestinos não podem ser aumentadas e nem construídas outras. O palestino que sai de seu território é impedido de voltar e as famílias palestinas têm sido dizimadas. O homem palestino vem perdendo a sua identidade e, por isso, a única alternativa que lhe resta é virar homem-bomba. Na verdade, nenhum palestino nasce terrorista. As condições de massacre e humilhações impostas durante anos fizeram-no agir com violência.


O verdadeiro terrorista

O atual primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, começou a sua vida em 1948 quando fazia parte do grupo terrorista Haganá, que iniciou a ocupação da Palestina, grupo esse que mais tarde veio a ser o exército de Israel. Hoje a humunidade -o mundo que compreendemos como civilizado- o considera o maior terrorista da história. Segundo o jornalista e deputado federal Hélio Costa, a única diferença entre Sharon e Hitler é que este enterrava os mortos.

Airel Sharon, que em 2000 foi eleito primeiro-ministro de Israel, nunca quis sentar em uma mesa para conversar sobre paz. Ele só sabe o que é matar, assassinar civis e pessoas desarmadas.O seu currículo não é para ser invejado. Em 1953 atacou de surpresa (não é novidade) com uma força sob o seu comando Qibya, uma aldeia na margem ocidental do rio Jordão, matando mais de 60 civis. Em 1982, quando era ministro da defesa, sitiou o setor ocidental de Beirute: dezenas de milhares de civis libaneses morreram. Em 1983, para acalmar a indignação mundial pelos crimes cometidos, Sharon é responsabilizado e condenado pela própria Justiça israelense e é destituído do cargo. Sharon é covarde, pois só ataca quem está desarmado, isto é, a população civil. A comparação de seus atos seria a polícia subir ao morro em uma favela para procurar um bandido e acabar com a favela. É o que os israelenses estão fazendo com os palestinos quando há um atentado por parte destes.

Em 4 de fevereiro de 2001, o diário israelense Maarif publicou parte do plano de Sharon, em que aponta a sua intenção de assassinar os líderes palestinos, desmantelar sua autoridade, enfraquecê-los politicamente. Até hoje dezoito líderes já foram executados.

Em julho de 2000, por culpa de Bill Clinton e Barak, nas conversas que tiveram com Arafat em Camp David, a oferta que Barak fazia aos palestinos para construir o seu estado era mentirosa. Quando para o mundo ele dizia que estava oferecendo 96% dos 22% do território ocupado, quando na verdade ele tirava do acordo Jerusalém Oriental, os acampamentos judeus, as auto-estradas e o controle do espaço aéreo e na condição de que nenhum palestino exilado poderia voltar. Lógico que Arafat não aceitou.

A mentira pregada aos palestinos e o enfraquecimento de Barak fizeram crescer a direita em Israel levando Ariel Sharon ao poder. Então o processo de paz ficou muito distante e quase impossível de ser alcançado, a não ser com a mobilização internacional. Nessa mobilização os palestinos não contam com os Estados Unidos e a Inglaterra. Israel é um Estado-irmão dos Estados Unidos de tal sorte que a bandeira americana poderia ter mais uma estrela ou todas as estrelas substituídas pela estrela de Davi. Os Estados Unidos só tomam partido de Israel, a ponto de George W. Bush dizer que Ariel Sharon é um homem de paz.


Alerta Brasil

O exemplo de opressão ao povo palestino pode acontecer a qualquer momento em qualquer parte no mundo. Aconteceu no Afeganistão (a droga que estava banida voltou a rolar), está acontecendo na Argentina pelo poder econômico (o FMI -leia-se Estados Unidos- obrigaram-na a seguir uma receita que não deu certo...). Os Estados Unidos mandam na ONU. Simplesmente é votado o que for de interesse desse país. Recentemente foi destituído da direção-geral da Organização das Nações Unidas para a Proibição de Armas Químicas o embaixador brasileiro José Maurício Bustani, por não agir de acordo com o interesse americano. E nesse episódio está evidente, pelo seu silêncio, a atitude medrosa do governo brasileiro.


A glória eterna aos mártires da causa Palestina

Existe uma parcela expressiva da comunidade internacional -mais de 80%- que concorda com a criação do Estado da Palestina independente, com a autodeterminação de seu povo. Os palestinos já se contentam com apenas 22% de território hoje ocupado por Israel (pela resolução 181 da ONU teria direito a 44%). Só depende da mobilização da comunidade internacional para concretizar o direito natural e inalienável do povo palestino.


(*) Marcelo Antônio dos Santos Fernandes começou sua militância pró-palestina em 1997 quando esteve em São Paulo e conheceu a comunidade árabe. Nessa oportunidade foi convidado para criar e presidir a seção Minas Gerais da Federação Árabe. Representa interesses de 22 Estados árabes (sendo 13 embaixadas), mesmo aliados naturais dos Estados Unidos como Kuwait e Arábia Saudita. A sua posição política não é ser contra os Estados Unidos ou Israel, mas o sentido de justiça na criação legítima do Estado da Palestina.

Contato com a Fearab - Federação de Entidades Árabes Brasileiras
Tel: (31) 3491-2207 - E-mail: fearabmg.marcelo@ig.com.br


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"A fala da paixão", de Egberto Gismonte.
Seqüência MIDI: Egberto Gismonte
Nota para a seqüência Midi: *****

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Belo Horizonte, 17 fevereiro, 2005

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