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Afinal, a imprensa bate
ou não bate no Lula?
Enviado pelo autor, Belo
Horizonte-MG
Por Heraldo Leite, jornalista
15 novembro, 2006
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ter rusgas com
a Imprensa. Andou queixando-se do preconceito da mídia -ou de certos
setores da dita cuja- e até saiu-se com mais uma de suas frases
de efeito: "Antigamente era proibido falar mal do governo. Hoje é
proibido falar bem". A exemplo da operação padrão
dos controladores do tráfego aéreo (quando eles cumprem
fielmente as regras de segurança e assim atrasam o trabalho), a
Imprensa comportou-se do mesmo jeito durante a apuração
dos escândalos do governo Lula. Não ficou pedra sobre pedra
e tudo foi esmiuçado, investigado, apurado, perguntado, questionado
e escancarado ao vivo e a cores para o Brasil e o mundo globalizado.
Mas a mesma ânsia pela verdade parece não valer quando os
escândalos envolvem certas pessoas ou partidos. As ligações
do empresário Marcos Valério com outros políticos
que não os petistas ainda não foram aprofundadas e pairam
naquela sombria zona que só vai para o noticiário quando
não tiver mais jeito e a Justiça já bateu o martelo
culpando as pessoas. Caso contrário de alguns petistas já
condenados pela imprensa, mas contra os quais a Justiça admite
não ter provas.
Ficou faltando dar o nome aos bois e verificar como, quando, onde e porque
o
ex-governador Eduardo Azeredo e o atual vice-governador Clésio
Andrade tiveram contato com o chamado valerioduto. Se é que tiveram,
ressalte-se em nome da justiça e do princípio de que todos
são inocentes até prova em contrário. Como as coisas
não são esmiuçadas do mesmo jeito, os dois não
são culpados. Mas não há que afirme, com a veemência
que o caso exige, que são completamente inocentes.
Quem participou da campanha das "Diretas Já" deve lembrar
bem como os
repórteres da Rede Globo eram recebidos nos comícios: "O
povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Refresquemos
a memória dos mais velhos e contemos aos mais novos. A empresa
da família Marinho só fez reportagens quando os últimos
comícios já arrebanhavam quase 1 milhão de pessoas.
Antes, silêncio. É óbvio que os tempos eram outros
e os generais de plantão andavam mais do que assanhados, mas ignorar
o assunto mostra, até hoje, os critérios do que é,
ou não, notícia para a emissora. A Rede Globo só
mostrou os eventos quando eles cresceram tanto que ela acabaria perdendo
a audiência. Um episódio triste mas um belo exemplo quando
a discussão descamba para a liberdade de imprensa e de expressão.
Mas antes de meu discurso soar petista, ou lulista, ressalte-se que o
papel da Imprensa é esmiuçar, investigar, apurar, perguntar,
questionar e escancarar. O presidente só tem razão quando
aponta que os seus defeitos foram mais ressaltados do que o do seu adversário,
o tucano Geraldo Alckmin. No mais, tem mais é de controlar seus
"aloprados" e fazer o bom uso da ética que tanto apregoou.
Aliás, era essa defesa que o fazia diferente dos demais. Se continuar
com os métodos passa a ser igual ou pior do que seus famigerados
antecessores.
Estrela guia
Enviada pela autora, Alegrete-RS
![]() Por Sandra Silva, socióloga, professora e acadêmica de direito E-mail: E-mail: sandrasilva33@yahoo.com.br |
3 novembro, 2006
O ano termina. Alguns vitoriosos. Outros,
ao revés das ondas que não lhes foram favoráveis.
Restam feridas que se fecham no lapso do tempo. Às vezes nem deixam
cicatrizes. Melhor que não reste muitas lembranças. Nem
boas, nem más. E da secagem das perdas, renovem-se os milharais.
Em junho passado escrevi um artigo "Lula não ganha a eleição"
- com base no enxurro de denúncias contra integrantes do governo
que vinham se somando desde maio do ano anterior. Apesar do presidente
incessante e insistentemente dizer que não tinha conhecimento do
que se passava nas ante-salas de seu palácio, tive a impressão
de que no momento do voto, a sociedade daria um sonoro não às
mazelas que foram escancaradas.
As pesquisas eram favoráveis ao presidente, mas bem podiam sofrer
a dissecação da ética e da probidade. Ledo engano.
Luis Inácio venceu as eleições com mais de sessenta
por cento dos eleitores acolhendo sua palavra e entendendo que nada foi
ferido a ponto do presidente-candidato não prosseguir com sua obra.
Menos de quarenta por cento que optaram pela outra via têm de rever
suas reflexões. Afinal, pode ter havido um grosseiro erro de análise
e na verdade o governo não ter absolutamente nada de escabroso,
tendo sido tudo uma manobra maquiavélica de alguns cínicos
golpistas liderados por um parlamentar destrambelhado que possivelmente
cruzou um momento de profundo estresse misturando o mundo real com o imaginário.
À exceção do desconforto nos aeroportos, a sociedade
vive instante de profundo bem estar. Paira quase a certeza de um milagre
à frente. Finalmente se vai ver a queda vertiginosa do desemprego,
da violência urbana em especial, e teremos as melhores rodovias
para cruzar o país em doce descanso de férias. Como é
bom viver num país sem mazelas, com distribuição
perfeita de renda e que vai enterrar o crescimento de 2,3% para ressurgir
com 7% no ano que se avizinha. Isto é assombroso! Um verdadeiro
choque de gestão.
Do ponto de vista tributário pagamos em torno de 40% do PIB, mas
certamente logo esse percentual vai despencar para oferecer capacidade
de investimentos no país. Talvez até surjam alguns cortes
nas despesas públicas que progrediram significativamente nos últimos
tempos, mas que podem ser trocadas por redução de impostos,
inclusive o de renda, em faixas mais compatíveis com a população
assalariada do país. Isso será virtuoso! Aliás, nessa
questão de tributação é saudável que
se observe que a maioria dos países incide seus tributos sobre
patrimônio, renda e consumo. Neste ponto mantemos algumas heresias
profundas, pois os nossos tributos incidem sobre uma pessoa e ao mesmo
tempo um sobre o outro. Como exemplo citam-se os automóveis, sujeitos
ao ICMS, IPI e IPVA.
Enfim, teremos um Natal como nunca houve, inclusive sem a necessidade
das campanhas das associações filantrópicas, de bairros
e até dos poderes constituídos recolhendo gêneros
alimentícios nas portas dos supermercados para distribuir às
camadas populacionais que estavam à margem da própria dignidade.
Os programas sociais estão consolidados e definitivamente os brasileiros
fazem três refeições por dia, portanto, desnecessária
a benemerência para contemplar o que está erradicado.
Finalmente encontramos o caminho do bem-estar, da dignidade humana e da
paz social.
O Brasil desunido
Enviado por Sérgio Neves, Carangola-MG
Por Maria Lucia Victor Barbosa
3 novembro, 2006
Em cadeia nacional de TV, na noite de 31 de outubro, o presidente reeleito pediu união nacional. Em seu pronunciamento convocou os partidos de oposição e a sociedade brasileira a participarem de uma agenda comum em torno de temas de interesse geral. Na verdade, novamente o governo petista não possui projeto de governo, mas tão somente de poder, e a sociedade emergiu das eleições com sentimentos difusos de desunião nunca existente com tamanha profundidade.
Tal situação derivou da retórica do presidente em campanha. Ele estimulou o ódio entre classes com sua persistente acusação contra as elites. Ao mesmo tempo, Luiz Inácio aguçou diferenças regionais e estaduais na medida em que conquistava o nordeste e o norte nos moldes de um oligarca. Desse modo, usando e abusando do poder econômico e político que a reeleição permite, o candidato e presidente conquistou abundantes votos entre os pobres de todos os Estados e, especialmente, das regiões mais carentes do Brasil.Vestido com o antigo figurino de operário ele se disse vítima das elites que seriam constituídas por ricos malvados e golpistas. Era como se não fizesse parte, como presidente da República, da atual elite do poder na qual se incorporaram seus poderosos companheiros de governo petista.
Sempre escorado em persuasiva propaganda LILS omitiu a corrupção deslavada que enlameou os quase quatro anos de seu primeiro mandato. Ele nada teve a ver com o PT nem foi responsável pelo que aconteceu, porque, aliás, nada sabe, nada viu. Em compensação, conseguiu o feito de colar em seu adversário, Geraldo Alckmin, a pecha de elitista, ao mesmo tempo em que o responsabilizava pelo governo passado entendido como maléfico. Parecia que o candidato não era Alckmin, mas FHC, do qual, aliás, o governo do PT copiou a política econômica e os projetos sociais.
Como Alckmin é paulista uma das estratégias do candidato Luiz Inácio baseou-se no ataque sistemático e contundente a São Paulo, que de modo estapafúrdio e a partir do cacoete esquerdista foi transformado em imperialista. Sua Excelência cuidadosamente omitiu que São Paulo o acolheu, como a tantos nordestinos, e lhe deu a oportunidade de ascender politicamente que jamais teria em Garanhuns. Também escondeu o apoio das elites financeiras paulistas e de outras regiões do Brasil que muito o ajudaram em sua segunda vitória, como tinham possibilitado a primeira.
Quanto a Geraldo Alckmin, praticamente sozinho, traído muitas vezes pelo próprio PSDB, desenvolvendo uma campanha franciscana em contraste com a de Luiz Inácio, passou para o segundo turno contrariando as pesquisas. Mas Alckmin não logrou convencer a maior parte do eleitorado que, como o PT, mandou a ética às favas. Em vão o ex-governador de São Paulo deu exemplo de impressionante tenacidade e de grande competência administrativa. Seus discursos foram lúcidos, coerentes e objetivos, e seus eleitores pelo Brasil afora encarnaram a parcela dos que não se deixaram iludir pela propaganda enganosa, que não compactuaram com a corrupção, que não aceitaram o paternalismo que mantém os pobres sempre pobres.
Acabou vencendo Luiz Inácio com o voto das elites financeiras, dos beneficiários das bolsas esmolas, de parte da classe média que votara em Heloísa Helena e Cristovam Buarque, ambos PT para sempre em seus corações.
Entretanto, mesmo antes de iniciar o segundo mandato Luiz Inácio já experimenta de sua herança maldita: caos nos aeroportos causado pela greve dos controladores de vôo, sendo que o governo sabia desde 2003 das condições precárias de trabalho destes profissionais e não tomou as providências cabíveis; briga relativa a condução da política econômica, que promete esquentar entre desenvolvimentistas e monetaristas; ameaça de retomada das invasões de terras pelo MST que articula com a CUT e a UNE um período de paralisações em todo país; previsão pífia de crescimento; necessidade de redução de gastos, o que será difícil num governo de coalizão com companheiros, notadamente os do PMDB; previsão do aumento do gás da Bolívia e manutenção de forma humilhante da Petrobrás neste país como prestadora de serviço; ameaça a liberdade de imprensa, que foi demonstrada em vários episódios recentes.
Na Av. Paulista Luiz Inácio se vangloriou da vitória que lhe foi dada pelos de baixo, contra os de cima. Na verdade, os segundos são os que não voltaram nele, e que não o toleram, não por causa de sua origem, mas dos desmandos do seu governo. Os primeiros podem vir a se desencantarem com o salvador da pátria, pois jamais se viu um segundo mandato dar certo. No momento, no Brasil desunido e tumultuado, os justos pagam pelos eleitores.
Música
de fundo em arquivo MID (experimental):
"La Bohemes"
Nota para a seqüência MIDI: ****
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