Charge de Melado - 9 setembro, 2005

Jovens, idosos, de cabelos brancos,
são de esquerda, centro ou direita?

Por Helio Fernandes, jornalista

Fonte: Tribuna da Imprensa
8 janeiro, 2007

Stalin, Mussolini ou Hitler, pela ordem de entrada em cena, tinham ideologicamente alguma coisa em comum? Ou se hostilizavam por convicção? De jeito algum. Os três tinham projeto de Poder, que executavam de qualquer maneira. Stalin, em 1942, acabou com o Comintern, destruindo o ensinamento de Marx: a Revolução não duraria se fosse implantada apenas em um país. Mussolini, quando jornalista e diretor de jornal, se dizia Socialista. Foi o que deixou bem claro na marcha sobre Roma, em 1922. Depois, faria qualquer negócio pelo Poder, é difícil identificá-lo nessas três palavras que povoam o dicionário dos trouxas.

Hitler, quase um pintor de paredes na Áustria (onde nasceu), cabo na Primeira Guerra Mundial, sem ideologia, filosofia ou idolatria, criou o "Reich dos mil anos", dos quais aproveitou ou preencheu apenas 10. De 1936, quando morreu o presidente da Alemanha, marechal Hindemburg, até 1946, quando derrotadíssimo cumpriu o que já havia dito e garantido: "Vivo não me pegarão, não ficarei em exposição como num zoológico". Suicídio, junto com a mulher, que jamais utilizou fisicamente, era sexualmente neutro. Não foi o único, de Emerson até jornalistas recentes, também sexualmente desinteressados.

Sem terem o mínimo da repercussão desses três, podemos juntar Pierre Laval e Saddam. Este, conheci em 1961 à esquerda de Nasser, não só na foto que tiramos, também naquilo no qual acreditava. (Na foto, além deste repórter, Millor, Gilberto Chateaubriand e Moacir Werneck de Castro, os outros desistiram. Saddam morreu há dias, enforcado. Usando as palavras dos bobos, Laval apareceu na extrema esquerda, morreu na extrema direita. Também enforcado).

De uma certa maneira, todos esses caminhavam em direção a Marx ou se alinhavam contra ele. Só que bem mais tarde. E Marx não era comunista, bolchevique, menchevique, sovietista, não aceitava nem divulgava qualquer rótulo. Marx era ardente, exclusiva e deliberadamente Marxista. Ninguém foi tão Marxista quanto ele. E a parte Social do seu Manifesto de 1848 era visivelmente baseada na pregação de Jesus Cristo, o maior líder que a humanidade já conheceu. E que a Igreja fez tudo para "canonizar", "idolatrar", transformar num "milagreiro" vulgar.

Então Lula está com a razão, os jovens devem ser o que chamam de "esquerda" e envelhecer reconhecendo que existe a "direita"? Tolice pura, Lula não conhece História e não vai participar dela, mesmo que tenha paixão pelo Poder, como todos. E temos que reconhecer, é fato irrevogável: foi o autor da primeira alternância de Poder no Brasil. Só que era melhor que não tivesse havido alternância nenhuma, Lula decepcionou a todos.

E o próprio Lula, antes, agora e depois, é de esquerda, de centro ou de direita? Não é porque não acredita em nada. E adora o Poder pela possibilidade de não fazer nada e ainda assim se reeeleger.

Essa identificação, esquerda, centro, direita, surgiu por acaso, com a Revolução Francesa de 1789. Foi a primeira vez que se instalou um Parlamento em hemicírculo, por causa do pluripartidarismo. Era a Assembléia Nacional Francesa. Mesa majestosa, plenário com 3 entradas: uma pela esquerda, outra pelo centro, a terceira pela direita. Os parlamentares que acreditavam nas mesmas coisas, naturalmente sentavam juntos. Vinham pelo mesmo lugar, criou-se o hábito e a definição burra, que se consolidou. A burrice sempre se consolida. Eternamente.

A Câmara dos Comuns, desde 1647, só tinha 2 partidos, Conservadores e Trabalhistas, "tories" e "wighs". Não havia presidente e sim o "espiquer", devidamente traduzido. Os parlamentares sentavam em frente, não se dirigiam ao presidente, que não existia, o "espiquer" ficava lá no fundo.

No Parlamento dos EUA, que iria promulgar a Constituição de 1787, ainda não o Palácio Monroe, não em Washington e sim em Nova Iorque, em Wall Street (rua do muro), hoje o maior cassino do mundo. Muito maior do que os de Las Vegas. Era em hemicírculo, quase não foi notado.

Na Constituinte de 1946, o PSD e o PTB sentavam à direita, a UDN à esquerda. Depois, ali na esquerda (do plenário), consagração da "Banda de Música", que diziam que era de direita.

O que existe é igualdade e desigualdade, pobreza e riqueza, fazer ou não fazer, e a vontade alucinada de chegar ao Poder, usando ou refugando uma das três palavras.

PS - Com o avanço formidável da acumulação dos recursos, do desenvolvimento da tecnologia, da necessidade de enganar o público, surgiu uma quarta palavra, essa sim poderosa, invencível, dominadora: C-O-M-U-N-I-C-A-Ç-Ã-O. Também é chamada de mídia e se intitula defensora da LIBERDADE e da DEMOCRACIA.

PS 2 - Ia esquecendo: economistas, sociólogos e cientistas políticos surgiram muito depois.


Os fins justificam os meios
Enviada pela autora, Alegrete-RS

Se os fins justificam os meios, quem justifica
os fins quando os meios utilizados são maus?

 
Por Sandra Silva, socióloga, professora
e acadêmica de direito

E-mail: E-mail: sandrasilva33@yahoo.com.br
 

29 outubro, 2006

Neste longo processo eleitoral que envolveu a nação e o povo brasileiro assistimos a coisas extravagantes, mentiras de toda a sorte, denúncias que rasgaram com certeiras flechas a gregos e troianos. Ficamos todos abestalhados lendo jornais, acessando a rede mundial, refletindo sobre sagazes artigos de revistas e apreciando os horários de propaganda eleitoral obrigatória.

Em todo o processo, no entanto, faltou uma grande discussão, apesar de pouco questionada pelos cidadãos que estão preocupados em sobreviver hoje para chegar ao dia seguinte. Não se viu e não se ouviu teses sobre ideologia. Isso mesmo: i-de-o-lo-gia. Os debates e os questionamentos se detiveram sobre as pessoas, o que fizeram e o que vão fazer, deixando no fundo de algum baú o aspecto ideológico, que é a face de um governo. E a sociedade brasileira, mais uma vez, por seu despreparo intelectual, não questionou fato de tamanho realce, inclusive buscando a Imprensa que corriqueiramente é a porta-voz de suas reivindicações, como mediadora dessa questão. Vê-se, então, a importância da universalização da educação e do conhecimento, pois somente com eles podem-se fazer melhores escolhas.

A sociedade vai às urnas sem noção profunda de seu gesto, em sua grande maioria. Tanto o é que nem a moral e a ética estão sendo capazes de análise mais profunda, tornando-se tão triviais como qualquer produto falsificado.

Conta-nos a história que coube a Maquiavel, na sua obra "O Príncipe" a lapidação da frase "os fins justificam os meios". Vê-se que após quinhentos anos da publicação muitos são os que se apropriam dos conhecimentos dos pensadores da idade moderna para estabelecerem seus impérios.

As teses comunistas não foram enterradas com o desmanche da Rússia e da Alemanha Democrática. Ledo engano pensar que não há mais espaço para essa doutrina. Marx, tão lido e decantado, não foi lá um exemplo de cidadão, segundo registros escritos. Sabe-se que três de suas filhas suicidaram-se e outros três filhos acabaram morrendo de fome por sua inércia. Sem pensar que abusou da empregada doméstica, engravidando-a. Sem dúvida, faltava-lhe moral. Salvo se esse seu perfil era moral proletária, onde tudo é permitido.

Moses Hess, Marx, Engels e mais recentemente Antonio Gramsci, são teóricos que alimentam as teses do Foro de São Paulo que tem, entre seus participantes, grande parte de militantes que ocupam espaços governamentais. Mas o povo brasileiro tem lá noção do que é o Foro de São Paulo? Para simplificar: lá está a ideologia; lá está o objetivo da tomada de poder. Aliás, explique-se que projeto de governo e projeto de poder têm diferenças.

Na área programática estão aí inúmeras iniciativas a gerar melhorias de curto prazo em campos tradicionalmente abandonados da sociedade brasileira. O resultado dessas ações é a obtenção fácil de votos e prestígio. Assim se toma o governo. Por outro lado, essas vantagens que foram denominadas de esmolas acontecem com o crescimento do Estado e aí, por antipatia que cause a posição, há um desastroso prejuízo ao desenvolvimento. Essas denominadas melhorias não passam de desastrosos danos logo ali à frente. Mas garantem sucesso eleitoral.

No campo institucional os golpes foram duros e secos. Golpeou-se o Congresso retirando-lhe a independência quando os parlamentares trocaram dever representativo por somas vultosas (caso mensalão). O ciclo é de um parlamento cooptado e uma sociedade seduzida por migalhas, caminho perfeito para a tomada do poder, com o respectivo retrocesso sociopolítico.

Não sei se não estamos de ponta-cabeça com um índice de crescimento ridículo que se equipara ao Haiti que sofre de mazelas terríveis. Também não sei se estamos em alinhamento com Hugo Chávez. Mas sei que após décadas de tentativas, a revolução gramsciana explode vitoriosa, com as massas anestesiadas e a relativização moral e política.

Hitler seduziu as multidões e não teve escrúpulos para usar os instrumentos do Estado alemão para cabalar votos na massa idiotizada. Tinha projeto de governo, de poder e ideologia. E por ele levou seu povo a cometer o maior genocídio de que temos conhecimento.

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Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Carolina"
, de Chico Buarque
Nota para a seqüência MIDI: ****

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Belo Horizonte, 9 março, 2007

Política