Um personagem importante da Bossa Nova

Por Roberto Bendia

Aloysio de Oliveira, produtor, cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro, capital, em 30 de dezembro de 1914. Ainda adolescente, fez parte do conjunto vocal e instrumental "Bando da Lua" que depois ficou famoso. Em 1931 o conjunto estreou em disco na Brunswick, com dois sambas de Mazinho e Maércio: "Que tal a vida?", cantado por Castro Barbosa, e "Tá de mona", interpretado por ele mesmo  

Dentista formado, sem nunca ter exercido a profissão. Em 1939, junto com uns amigos, seguiu para os Estados Unidos acompanhando Carmen Miranda. Trabalhou com Walt Disney em trilhas sonoras como consultor, narrador de documentários e dublador de desenhos. O filme "Alô, amigos" (Saludos amigos), de 1943, no qual cantou "Aquarela do Brasil", de Ari Barroso, tem a sua marca registrada.

Foi assessor técnico de vários filmes cujo tema era o Brasil. Fazia também programas radiofônicos, transmitidos semanalmente de Los Angeles para o Brasil, apresentando entrevistas com astros do cinema (programa "Fala Hollywood") e concertos sinfônicos (programa "Hollywood Bowl"). Além de seus trabalhos no cinema e no rádio, dirigiu o "Bando da Lua" em nova fase, iniciada em 1949, até a dissolução do grupo em 1955, com a morte de Carmen Miranda.

Em 1956 voltou para o Brasil, depois de 17 anos residindo nos Estados Unidos e assumiu o cargo de diretor-artístico da Odeon, no Rio de Janeiro. Trabalhou também no programa "Se a Lua Contasse", ao lado de Aurora Miranda e Vadico, na Rádio Mayrink Veiga.

Em 1959 foi responsável pelo lançamento, na Odeon, do LP "Chega de saudade", de João Gilberto, tido como um dos criadores da Bossa Nova.

Em 1960 deixou a Odeon para trabalhar na Philips onde permaneceu cerca de oito meses. No ano seguinte produziu os shows: "Skindô", com Sílvia Telles, Odete Lara, Trio Iraquitã, Moacir Franco e outros e "Tio Samba" com Chocolate, Trio Maraiá, José Tobias, entre outros.

Em 1962 participou da comitiva de brasileiros que se apresentou no Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall, em Nova York.

Em 1963, ainda nos Estados Unidos, casou-se com a cantora Sílvia Teles que teve vários discos produzidos por ele. Nesse mesmo ano fundou no Brasil a gravadora Elenco, que abrigou os integrantes da Bossa Nova vindos da Odeon.

Em 1968, ano de extinção da Elenco, os direitos sobre o catálogo da gravadora foram vendidos à Polygram, que reeditou 23 títulos remasterizados, com notas bilíngües sobre os artistas e detalhes da gravação. No mesmo ano voltou aos Estados Unidos, onde produziu discos de artistas brasileiros na Warner Bros.

Em 1972 regressou ao Brasil e trabalhou durante três meses na Rede Globo. Foi produtor na RCA Victor e Som Livre. Em 1983 publicou livro de memórias "De banda pra lua", pela Editora Record.

Faleceu em Los Angeles, Estados Unidos, em 20 de fevereiro de 1995.


Músicas de sucesso em parceria com Tom Jobim, compostas nos anos 60:

Dindi

Antônio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira

C7+                       Bb7+
Céu, tão grande é o céu
                    C7+                        Bb7+
E bando de nuvens que passam ligeiras
A7+                  Gbm7
Para onde elas vão
                B7/6           E
Ah, eu não sei,   não sei
       C7+                     Bb7+
E o vento que fala nas folhas
                         C7+                         Bb7+
Contando as histórias que são de ninguém
A7+                       Gbm7       B7/6    E
Mas que são minhas  e de você também... 

C7+    Bb7+         C7+      Em7                Gm7
Ai, Dindi   se soubesses o bem que eu te quero
       C7/9    F7+   
O mundo seria, Dindi
Fm6                          C7+     F/G   G7
Tudo, Dindi,   lindo  Dindi
C7+    Bb7+       C7+   Em7      Gm7
Ai, Dindi,  se um dia você for embora
       C7/9      F7+           Fm6          
Me leva contigo, Dindi  /   Fica Dindi   
    C7+         Gbm7/-5     B7
Olha Dindi

Em7                  Eb0 B7/-9      Em7 B7/-9    Em7 A13-
E as águas deste rio  /      Onde vão   eu  não sei
Dm7                 A13-            Dm7     A13-     Dm7  G7/5+
A minha vida inteira  /    Esperei,             esperei
         C7+    Bb7+
Por você, Dindi
              C7+           Em7        Gm7
Que é a coisa mais linda que existe
      C7/9     F7+     
Você não existe, Dindi
Fm6                  C7+               Fm6
Olha Dindi,  adivinha Dindi,  deixa Dindi
                 C7+
Que eu te adore,  Dindi



O barquinho

Por Roberto Bendia

Roberto Menescal, ou melhor, Roberto Batalha Menescal, compositor e instrumentista, nasceu em Vitória, Espírito Santo, em 25/10/1937. Estudou piano com Irma Menescal, em 1950, e teoria, harmonia e violão com Moacir Santos, em 1958. No mesmo ano, organizou um dos primeiros conjuntos instrumentais de Bossa Nova e fundou, com Carlos Lira, uma academia de violão, responsável pela divulgação do instrumento que mais se adaptou à expressão do espírito intimista desse movimento musical


Menescal na década de 60

Com seu conjunto, participou da gravação do LP Garotos da Bossa Nova, na gravadora Odeon, em 1959. Sua primeira composição gravada foi "Jura de pombo" (com Ronaldo Bôscoli), por Alaíde Costa, também em 1959. Seu primeiro sucesso, "O barquinho", que em 1960 teve gravações simultâneas de Maísa, Peri Ribeiro e Paulinho Nogueira, tornou-se uma das músicas mais conhecidas e representativas da Bossa Nova, com várias gravações também no exterior.

Como surgiu "O barquinho"

O Barquinho seria provavelmente de Nara Leão se na época ela já cantasse profissionalmente. Namorada de Ronaldo Bôscoli, Nara sempre o acompanhava nas excursões ao mar de Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro, que ele fazia com o parceiro Menescal, um aficcionado da caça submarina. Foi naquele ambiente praieiro que nasceu "O Barquinho" -uma canção paisagística que trouxe do mar para a Bossa Nova o amor, o sorriso e a flor.

Na vida real "O Barquinho era o Thiago III, uma traineira com motor a gasolina e capacidade para dez passageiros, que Menescal alugava para transportar sua turma aos locais de pescaria. Dirigia o Thiago III o barqueiro Ceci, um tipo meio bronco que jamais acreditou serem seus passageiros "artistas de rádio".


Bôscoli e Menescal nos áureos
tempos da pesca submarina

Rapidamente, "O Barquinho" deslizou para os primeiros lugares das paradas musicais, ganhando várias gravações como a de Maysa, mais apreciada até do que a do seu lançador, João Gilberto. Aliás, nessa gravação do João -informa Ruy Castro no livro Chega de Saudade- o tecladista Walter Wanderley quase foi a loucura, por não conseguir reproduzir no órgão um ronco de navio, no exato timbre que o cantor insistia em lhe transmitir...com a voz. Finalmente, no arremate do disco, o maestro Tom Jobim conseguiu colocar nos trombones o tal ronco imaginado e desejado pelo João.

Em 1962, com o conjunto de Eumir Deodato, atuou no programa de Marlene na TV-Rio. Grande incentivador dos shows realizados nas universidades cariocas em 1959, 1960 e 1961, a 21 de novembro de 1962 participou do Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall, Nova York, EUA.

De 1958 a 1965, o Conjunto de Roberto Menescal apresentou-se como acompanhante em shows de Sílvia Teles, Maísa, Vinícius de Morais e Dorival Caymmi, na boate Zum-Zum, e de Araci de Almeida e Bílly Blanco.

Em 1966 estudou teoria, harmonia e contraponto com Guerra-Peixe, na Pró-Arte. Participou da gravação de trilhas sonoras de filmes, como "Joana, a francesa" (1973), de Carlos Diegues, e "Vai trabalhar, vagabundo" (1974), de Hugo Carvana, entre outras.

Realizou shows em teatros e teve algumas de suas composições incluídas em peças de teatro e novelas de televisão. Gravou com Sílvia Teles, Jair Rodrigues, Elis Regina, Gal Costa, Lúcio Alves, Beth Carvalho, Maísa e Claudete Soares. Excursionou pelo Uruguai, com Norma Benguel, e pela Argentina, com Sílvia Teles e Maísa. Com Elis Regina, que acompanhou de 1968 a 1970, viajou pela Europa, apresentando-se no MIDEM, em Cannes, França. Foi diretor artístico da TV Excelsior, cargo que passou a ocupar depois na Phonogram (Philips). Gravou na Elenco os LPs "A Bossa Nova de Roberto Menescal" e seu sexteto e "A nova bossa de Roberto Menescal".

O encontro com Sylvinha Telles

Ele era garoto quando conheceu Sylvinha Telles. Segundo suas palavras, foi no Teatro Folies, no posto 6 em Copacabana, num Teatro de Revista chamado "Gente bem e Champanhota", dirigido pelo cômico Colé, que Menescal se encantou com Sylvinha e Candinho.

Menescal tinha dezoito anos, e entrava meio escondido no teatro, onde era proibido para menores de vinte e um anos. Ficou impressionado com a maneira de interpretar de Sylvinha acompanhada com o violão moderno e bem tocado por Candinho. A oportunidade fez com que Sylvinha lhe oferecesse seu primeiro trabalho profissinal. Excursionou pelo Norte e Nordeste acompanhando-a em shows.

Menescal empresário

Entre 1971 e 1986 foi diretor artístico da gravadora Polygram e, em 1997, fundou a produtora e gravadora Albatroz. Vários de seus LPs, gravados pela etiqueta Elenco, foram relançados em CD, entre eles "Conjunto Roberto Menescal" (Polygram), "Ditos e feitos" (Warner),
"Eu e a música", com participação de Wanda Sá (CID) e "Uma mistura fina", com Wanda Sá e Miele (Albatroz).

Menescal e a passagem do tempo

Suas obras e sucessos

Rio

Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli

Rio que mora no mar
Sorrio pro meu Rio que tem no seu mar
Lindas flores que nascem morenas
Em jardins de sol
Rio serras de veludo
Sorrio pro meu Rio que sorri de tudo
Que é dourado quase todo o dia
E alegre como a luz

Rio é mar,
Eterno se fazer amar
O meu Rio é lua
Amiga branca e nua

É sol, é sal, é sul
São mãos se descobrindo em tanto azul

Por isso é que meu Rio da mulher beleza
Acaba num instante com qualquer tristeza
Meu Rio que não dorme porque não se cansa
Meu Rio que balança
sorrio, sorrio, sorrio, sorrio, sorrio

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Crédito da foto na ilustração: Revisita da Música Popular Brasileira
Roberto Menescal aos 18 anos com Sylvinha Telles

Download de músicas em arquivo MID


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Dindi", de Antônio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira

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Belo Horizonte, 15 março, 2005

No tempo da Bossa Nova