Ecologia humana

Ser versus ter, a última escolha da humanidade

A competição acirrada e a insegurança
esmagaram a possibilidade da fraternidade

 
Por Dib Curi, editor do Jornal Século XXI
E-mail: dib_curi@uol.com.br

O futuro da nossa sociedade tem ocupado as mentes de muitos pensadores na atualidade. O fato é que precisamos de mais pesquisas sobre as alternativas econômicas para vivermos em sociedade. As idéias atuais estão muito direcionadas e fica parecendo que há apenas um tipo de economia possível.

Os rumos sociais parecem estar confusos. Ao invés de estarmos estudando como gerar pessoas mais inteligentes e criativas, estamos muito mais preocupados em melhorar a inteligência artificial e em gerar técnicos reprodutores de rotinas. Pensamos muito em repressão e muito pouco em aprofundarmos a qualidade e o conceito da educação.

Estamos investindo recursos demais em máquinas e de menos em gente. A antiga justificativa da Revolução Industrial de que as máquinas iriam trabalhar por nós esfarrapou-se. Estamos trabalhando mais do que nunca. O trabalho transformou-se em uma espécie de religião. O atual sistema econômico está privatizando a Vida com uma velocidade neurótica e um consumismo totalmente irresponsável.

Esta cultura do consumismo está fazendo desaparecer a profunda diversidade de comportamentos existente entre nós. A uniformização da cultura está causando a uniformização dos comportamentos também. Todos ficam com desejos e atitudes parecidos.

Isso acontece, em parte, porque existe um investimento muito forte do mercado para tornar as "Marcas" símbolos de status. As "Marcas" estão se tornando os deuses da modernidade e o marketing é o seu principal ritual. Os jovens são levados a venerar as "Marcas" e as consideram como "Pontos de Mutação" para eles mesmos. Ao invés de jovens originais e criativos, estamos construindo mentalidades consumistas, individualistas, hedonistas e alienadas.

Estamos estimulando um excesso de materialismo nas "consciências" de nossos jovens enquanto deveríamos estar estimulando ocupações criativas. O problema é que um redemoinho gigantesco parece ter sugado a mente da maioria de nós para os ralos das nossas contas bancárias e nos tornamos escravos de preocupações materiais, necessidades e desejos sem fim.

Enquanto isto, dois bilhões de pessoas ganham menos do mínimo para sobreviverem e vivem em condições miseráveis. Se todos nós pudéssemos ser ricos, a Terra morreria em 15 anos, sufocada por uma luxúria consumista crescente. Hoje, antevemos um futuro aterrador, onde morremos sufocados por calor, gases e lixo, enquanto a Terra é explorada muito além de sua capacidade de regeneração.

Somos desleixados demais com o planeta. Nossa única relação com o meio ambiente é a de explorá-lo sem tréguas. Parecemos inconscientes do efeito catastrófico de nossas condutas e somos insensíveis ao reconhecimento da harmonia do Cosmos e do direito das espécies. Causamos aos animais toda espécie de sofrimentos atrozes, inclusive a extinção de muitos deles.

Ninguém ignora que nossa sociedade precisa passar por reformas radicais e urgentes. Não é mais possível que todos os neurônios humanos estejam envolvidos apenas com o desenvolvimento material. O ser humano é um ser espiritual. Existe uma sensibilidade a ser manifestada e ela está muito mais relacionada ao Amor do que ao dinheiro. Mais ligado à comunhão do que ao sucesso individual. Muito mais focada na liberdade e na criatividade do que em funções rotineiras. E aponta, principalmente, para a Sabedoria, muito antes do conhecimento. Para o grego Píndaro, "a Sabedoria é o conhecimento temperado pela Ética".

Embora falemos muito de Ética, não temos Ética nenhuma. Somos até vulgares em nome da nossa auto-preservação e defesa. A competição acirrada e a insegurança esmagaram a possibilidade da fraternidade. A única cumplicidade que estimulamos é a sexual. Estamos canalizando a nossa energia de afeto e novidade para o sexo.
Enquanto ficamos entediados de tanto trabalho e preocupações, nossos "dirigentes" continuam perseguindo o desenvolvimento com uma voracidade de dinossauros. Dizem que é porque o desenvolvimento gera empregos. Mas quem quer empregos quando precisamos mesmo é de vocações e talentos? Empregos são ofícios aborrecidos, que não contam, necessariamente, com o nosso envolvimento e amor. As vocações e talentos alegram as pessoas, trazem reconhecimento social e podem provê-las de recursos econômicos também.

Mas para uns poucos a vida é "Business": uma oportunidade de negociar com recursos naturais e humanos. Eles estão interessados no poder pela multiplicação das coisas e não no progresso das pessoas. Esta mentalidade não vai querer reformar o mundo. Ela vai é devorar o mundo todo. Somos nós, cidadãos, é que devemos fazer as reformas, se é que temos algum compromisso com a harmonia planetária e com a sobrevivência das futuras gerações.

Muito mais do que trabalhar pela sobrevivência física da humanidade, devemos trabalhar pela sobrevivência espiritual do ser humano. Temos que parar de gerar pessoas embotadas e estúpidas, porque elas ficam muito frágeis aos dinossauros. Precisamos gerar e educar pessoas livres e despertas, cidadãos criativos, afetivos e vocação em seus talentos.

Parece que nossa sociedade trocou as prioridades do viver e preferiu o Ter ao Ser. Continuamos entregando a maravilhosa história da humanidade ao canto de sereia do capitalismo selvagem. Será mesmo que este belo projeto que é a história humana vai acabar agora com estes novos filhotes de dinossauros, ainda mais ávidos por desenvolvimento material, consumo desmedido e trabalho alienado?

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Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Sanfona", de Egberto Gismonti
Seqüência Midi: Egberto Gismonti
Nota para a seqüência Midi: *****

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Belo Horizonte, 26 maio, 2010

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