Enviado pela autora, alegrete-RS
4 abril, 2009

Momentos medonhos


Por Sandra Silva, socióloga e jornalista

E-mail: sandra.silva@brturbo.com.br

O Brasil vive momentos medonhos! O Congresso Nacional se empanturra de denúncias. Pior do que isso é ver e ouvir os congressistas evitarem dar esclarecimentos compatíveis com o respeito que a sociedade merece. A maioria nesses períodos de turbulência foge da mídia ou lava as mãos imitando Pilatos.

Há uma epidemia de cegueira e surdez: ninguém vê e ninguém ouve. Mas o chicote nas mãos dos algozes faz com que levas marchem ao patíbulo tributário mais cruel que esta nação teve conhecimento. É a nação mais cara em impostos, taxas e juros de que se tem notícia no planeta. Somente a expressão de pensamento ainda não paga tributo e assim mesmo desde que alguém não a leve aos tribunais na busca de indenizações milionárias.

A Corte Suprema do país entregou 1,7 milhões de hectares de terras nacionais a uma população indígena ínfima. Enumerou regras para evitar que as riquezas minerais, vegetais e animais sejam degradadas e exploradas inescrupulosamente, mas serão elas obedecidas em um país onde todos querem levar alguma vantagem de forma ilegal ou abaixo de propina? Tão poucos índios precisavam de tanta terra?
Qual o interesse do príncipe Charles em estar no Brasil justamente no momento em que a Corte Suprema julgava a questão? Coincidência? Nem todos são tolos!

* * *

O capitalismo e o socialismo correspondem a dois tipos de sistemas político-econômicos. Antes do declínio da União Soviética o mundo era bipolar com duas grandes nações, uma representando o capitalismo e outra o socialismo, cada qual arregimentando para si outras nações que se identificavam com os respectivos sistemas. Desmantelou-se a capitã do socialismo e a sua oponente enfrenta gravíssima crise que constrange a economia global. O capital e o lucro estão afundando e montanhas de dinheiro surgem para tentar dar oxigênio ao ente moribundo. De onde, de repente, veio tanto dinheiro? São verdadeiras montanhas! Se estiverem emitindo cédulas, o caos foi instalado. Mas, se estava estocado nos tesouros federais, por que se deixou a economia despencar no precipício para depois atirar-se a corda redentora?

* * *

Humanos matam com selvageria. Humanos estupram vítimas indefesas. Humanos praticam pedofilia. Humanos traficam e consomem drogas sem qualquer temor. Humanos se sentem impunes e imunes a qualquer repressão. Humanos provocam ódios e raivas. Humanos chafurdam na mediocridade e rancor. Humanos estão absurdamente frustrados. Humanos deixaram de ser humanos para se tornarem objetos na ilusão de que são tudo, quando nada se é e em decomposição fétida encerramos o ato de nossas vidas. Humanos se tornaram desumanos.

Onda anárquica

Diversas vezes manifestei opinião contrária ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST em razão de suas práticas de violência para obter justiça social sob o argumento de que os meios justificariam o fim.

Não encontro raciocínio cabal para acolher que esse grupo social, com o pretexto de que frações ou extensões de terras sejam improdutivas, invada propriedade particular e dela tome posse na tentativa de fazer justiça pelas próprias mãos, obviamente por interpretar as ações do INCRA como lentas e demasiadamente burocráticas.

É importante que fique bem claro que emprego da força e invasão de prédios públicos ou imóveis rurais com o objetivo de constranger o governo e expropriar terras para a reforma agrária é crime. Isso significa que sob hipótese alguma essas ações podem ser financiadas com dinheiro público.

Este entendimento não é pessoal, é do Supremo Tribunal Federal. Aliás, o esbulho possessório, mesmo tratando-se de propriedades alegadamente improdutivas, constitui ato revestido de ilicitude jurídica. Revela-se, portanto, contrária ao Direito porque constitui atividade à margem da lei.

O processo de reforma agrária em uma sociedade estruturada em bases democráticas não pode ser implementado pelo uso arbitrário da força e pela prática de atos ilícitos de violação possessória. A ruptura jurídica que o MST vem promovendo há tantos anos deveria ter o repúdio de todos aqueles que se dizem democratas.

O recente episódio denominado "Carnaval Vermelho" que promoveu a invasão de diversas fazendas, incluindo o assassinato de quatro homens que trabalhavam como seguranças, demonstra com clareza o perigo que a sociedade brasileira corre permitindo que essa turba continue avançando e promovendo esses atos de violência, incluindo-se as constantes manifestações em rodovias com barreiras que impedem a trafegabilidade. Somente por este ato tolhendo o direito de ir e vir dos cidadãos que pagam impostos e cumprem as normas legais, deveriam ser prontamente interrompidos pelas forças de segurança. Não é o que acontece, infelizmente. Resultado: a ordem democrática é constantemente violada e as autoridades, lenientes, apenas observam. Isso se chama caos.

A questão se torna mais grave quando se sabe que nos últimos sete anos o governo já entregou ao MST através de instituições cadastradas que lhes repassa recursos, o extraordinário valor de 49,4 milhões de reais. Pior do que isso é o que o Tribunal de Contas da União já detectou que a prestação de contas dessas entidades apresenta desvio de finalidade dos recursos recebidos e notas frias. Como o MST não tem personalidade jurídica nunca é processado, mas admite receber verbas para financiar projetos de educação rural, construção de moradias, eletrificação, saúde, produção e comercialização agrícola, entre outros. Obviamente jamais irá admitir que tais recursos também financiam invasões as quais sempre deixam um rastro de depredação quando não de violência e morte, como recentemente.

Qualquer pessoa com razoável compreensão há de desabonar as ações grotescas do MST, pois fora da lei nenhum movimento social é legítimo e o ente público (federal, estadual ou municipal) não pode aceitar, passivamente, a imposição de agendas político-sociais de quem quer que seja quando caracterizadas por práticas ilegítimas.


Enviado por Walmor Rugeri, Rio de Janeiro-Capital
1º abril, 2009

Eles ajudaram a destruir o Rio

Por Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília

Fonte: Jornal de Brasília

É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.

Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon. Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.

Quanto mais glamoroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco.

Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca -e brasileira- por extensão. Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.

Festa sem cocaína era festa careta. As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do
asfalto.
Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado
terminou.

Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.

Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastaqüera (pessoa recentemente enriquecida que não perde oportunidade para chamar a atenção, pelo luxo que ostenta e pelos gastos que faz), que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa-lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.

Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado.

Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir: "Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro".

Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.

Edição anterior


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Viveco, panela e canecas",
Milton Nascimento e Fernando Brandt
Nota para a seqüência MIDI: *****

Participe do Jornal dos Amigos,
cada vez mais um jornal cidadão

O Jornal dos Amigos agradece a seus colaboradores e incentiva os leitores a enviarem textos, fotos ou ilustrações com sugestões de idéias, artigos, poesias, crônicas, amenidades, anedotas, receitas culinárias, casos interessantes, qualquer coisa que possa interessar os seus amigos. Escreva para o e-mail:

Se o conteúdo estiver de acordo com a linha editorial do jornal, será publicado.

Não esqueça de citar o seu nome, a cidade de origem e a fonte da informação.

Solicitamos a nossos colaboradores que, ao enviarem seus textos, retirem as "flechas", isto é, limpem os textos daquelas "sujeiras" de reenvio do e-mail. Isso facilita bastante para nós na diagramação.

Início da página


Belo Horizonte, 12 abril, 2009

Política