A queda de renda
Enviado por Paulo Sérgio Loredo, São Paulo-Capital

O que a economia não explica é porque
o consumo não dá para todo mundo!!!
 
Enviada por Inara Cristina, Brasília-DF
 

A renda média dos assalariados está em baixa
há sete anos e em 2003 foi a pior do período

Fonte: Gazeta do Paraná
7 outubro, 2004

Curioso país o Brasil: o que deveria ser o ponto focal do discurso das oposições passou quase ao largo dos debates e dos programas do horário eleitoral. Poucos, muitos poucos, deram ênfase à queda do rendimento do trabalho no ano de 2003. Na verdade, há sete anos que a renda média do trabalhador está em queda, mas o pior registro do período se deu em 2003 - 7,4%! Juntando esse percentual aos anteriores temos uma queda de cerca de 19% do poder de compra dos salários.

A idéia de empobrecimento geral da população ocupada pode ser melhor entendida quando nos damos conta de que a massa de rendimento mensal caiu 6% no ano passado, e comparada com a do ano 2002 significa um recuo de R$ 3,6 bilhões. Ou seja, no ano de 2003, o da estréia do governo petista, o trabalhador assalariado foi ao fundo do poço. Estes números foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), recentemente divulgado.

Há razões para esperar que neste ano de 2004 os números não sejam tão negativos, mas sem perder de vista que possíveis melhoras significam apenas reposição de perdas e não ganhos efetivos. Os técnicos do Ipea dizem que mantida a taxa de crescimento atual, estimada em pouco mais de 4%, para este ano e para o próximo, ainda assim a renda média da massa salarial conseguirá apenas um empate com as perdas anteriores. (O Pnad fez a seguinte comparação: quem ganhava R$ 747,00 em 2002, chegou ao final de 2003 ganhando R$ 692,00).

Praticamente todos os brasileiros assalariados perderam, ficando a exceção para o pessoal do salário mínimo que teve um ganho quase insignificante. Nem seria necessário dizer que mais uma vez a maltratada classe média brasileira foi a que sofreu os golpes mais duros do empobrecimento. A migração de alunos das escolas particulares para as públicas, em 2003, por exemplo, foi a mais volumosa da última década.

Viagens, aulas de inglês, reforço pedagógico, nem pensar, quase todos estes "supérfluos" tiveram que ser cortados (e como dizia Oscar Wilde, "não conheço nada mais necessário que o supérfluo). Claro, que isso não é consolo, mas o Pnad constatou que os ricos também perderam, algo em torno de 9% considerando o ano anterior. Mas ao contrário dos humilhados e ofendidos, os ricos podem, e sabem, se defender, e muito bem.


O Brasil visto pelo exterior

Infra-estrutura ameaça expansão do PIB do Brasil. Deficiências
impedem que o país siga aumentando as exportações

Por Todd Benson, The New York Times
27 outubro, 2004

Todo ano, assim que a colheita da soja atinge seu pico, os brasileiros se deparam com um lembrete dos obstáculos de infra-estrutura que seu país precisa superar caso queira se estabelecer como grande exportador no mercado global.

Centenas de caminhões velhos carregados de soja e grãos fazem filas de mais de 80 quilômetros de extensão ao longo da estrada que leva a Paranaguá, um porto no Estado do Paraná, no Sul do país, que necessita desesperadamente de investimento para acompanhar o crescimento das exportações agrícolas do Brasil.

No pico da temporada de colheita do Hemisfério Sul, em março, os caminhoneiros esperam no acostamento da estrada por até 20 dias para descarregarem suas cargas, colocando os compradores da China até a Europa no limiar do medo de atrasos onerosos.

Gargalos semelhantes e infra-estrutura deficiente podem ser encontrados por todo o país, representando um desafio intimidador para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Graças ao boom nas exportações, a economia está crescendo em sua taxa mais rápida desde 1996 e está caminhando para crescer mais de 4% neste ano, se recuperando da breve recessão de 2003.

Mas muitos economistas e líderes empresariais alertam que a recuperação poderá perder fôlego já no início do próximo ano, caso o governo não encontre formas de atrair bilhões de dólares em investimentos para atualizar a infra-estrutura do Brasil.

"Infelizmente, se algo não for feito urgentemente em 2005, nós corremos o risco de vender produtos e não sermos capazes de entregá-los a tempo", disse José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior. "A economia simplesmente não pode crescer neste ritmo com a infra-estrutura que este país tem."

O Brasil conseguiu progressos significativos nos últimos anos para estabelecer suas credenciais comerciais, primeiro sob o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e agora sob Lula, que assumiu o governo em janeiro de 2003.

Apesar de o Brasil, que é a maior economia da América do Sul, ainda responder por menos de 1% do comércio global, as exportações cresceram de apenas 6,5% do Produto Interno Bruto, em 1998, para 17%. Até o momento neste ano, as vendas no exterior já ultrapassaram a quantia atingida em 2003, chegando a US$ 76,9 bilhões, e o país está a caminho de encerrar 2004 com um recorde de US$ 94 bilhões em exportações, segundo a mais recente previsão do Ministério do Comércio, Indústria e Desenvolvimento.

Grande parte do crescimento ocorreu após 1999, quando a decisão do Brasil de desvalorizar sua moeda, o real, tornou as exportações do país mais competitivas nos mercados mundiais.

Superávit limita investimento

Mais recentemente, o apetite voraz da China por commodities como soja e minério de ferro ajudou a alimentar as exportações brasileiras. Além disso, Lula, que tornou um aumento das exportações uma prioridade de seu governo, tem viajado extensivamente para buscar novos mercados para os produtos brasileiros.

Mas a ascensão do Brasil no cenário global também expôs falhas profundas em casa. Como Paranaguá, quase todos os portos do país estão lutando para acomodar o fluxo crescente de produtos. Com algumas raras exceções em Estados mais desenvolvidos como São Paulo, estradas por toda parte estão deterioradas e repletas de buracos, tornando cara e vagarosa a jornada do cinturão agrícola do país até a costa para envio das cargas.

Além disso, a malha ferroviária do Brasil mal foi expandida desde 1970, quando transportava apenas 50 milhões de toneladas de carga por ano. Neste ano, cerca de 300 milhões de toneladas de produtos deverão ser transportadas por trem.

"A malha ferroviária não avançou um quilômetro em mais de 30 anos, e ainda assim está lidando com um volume cinco vezes maior de carga do que aquele para qual foi construída", disse Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira de Infra-estrutura. "Não há muito mais que ela possa suportar."

A associação estima que para a economia brasileira continuar crescendo em uma taxa anual de 3,5% a 4%, o país precisa investir pelo menos US$ 20 bilhões por ano na infra-estrutura, especialmente em energia e logística. Mas como o governo federal precisa produzir um grande superávit orçamentário para reduzir sua enorme dívida, ele gasta apenas uma fração de tal valor.

Neste ano, o governo Lula reservou apenas RS$ 10,4 bilhões (US$ 3,5 bilhões) para gastos na infra-estrutura. Em sua proposta de orçamento para 2005, o governo reservou R$ 11,4 bilhões para a infra-estrutura. O Congresso espera aumentar o valor para próximo de R$ 15 bilhões, ou pouco mais de US$ 5 bilhões.

Parcerias Público-Privado

Isto deixa uma diferença de US$ 15 bilhões para ser coberta pelo setor privado. Mas alguns investidores têm relutado em entrar nesta área, optando por esperar até que o governo de esquerda de Lula --que inclui várias autoridades que lutaram contra o capitalismo e os investidores estrangeiros no passado-- apresente uma legislação mais amistosa para o investimento privado.

Em agosto, por exemplo, Mickey Peters, vice-presidente sênior da Duke Energy Corp. na América do Sul, disse em uma conferência de comércio em São Paulo que sua empresa, que tem sede em Charlotte, Carolina do Norte, suspendeu novos investimentos no Brasil, dizendo que os planos do governo para regular o setor de energia desencorajaram o investimento.

As autoridades do governo disseram que não têm intenção de intervir no mercado de energia, e insistem que o Brasil é um local seguro onde realizar negócios.

Uma forma pela qual o governo está buscando atrair investimento é por meio de uma legislação que apresentou para estabelecer a base para parcerias público-privadas para investimento em projetos de infra-estrutura. Mas o projeto continua parado no Congresso.

"Nós estamos cientes do desafio que representa a infra-estrutura, e estamos dando os passos necessários para encorajar o investimento privado", disse Demian Fiocca, um alto funcionário do Ministério do Planejamento que está coordenando uma força-tarefa para infra-estrutura.

Contornando gargalos

Enquanto isso, os exportadores estão lutando para encontrar formas mais rápidas para entregar seus produtos no mercado externo.

Frustrada com as longas esperas no porto de Santos, a Volkswagen, a montadora alemã, começou a desviar parte de suas exportações de uma de suas fábricas brasileiras para a Argentina, em abril, por meio de um porto muito menor em São Sebastião, na costa norte do Estado de São Paulo. Poucos meses depois, ela também começou a desviar cargas para o Irã e a China, desta vez pelo Rio de Janeiro.

Outras empresas como a Caramuru Alimentos, uma exportadora de grãos, e a gigante de mineração Companhia Vale do Rio Doce, estão investindo pesadamente em infra-estrutura própria para contornar os gargalos.

A Caramuru, por exemplo, está gastando US$ 10 milhões para construir seus próprios trens para garantir que sua colheita de soja seja enviada por via férrea até o porto de Santos, em 2006.

A Vale do Rio Doce, a maior produtora e exportadora de minério de ferro do mundo, já é dona de mais de 9 mil quilômetros em estradas de ferro e conta com oito terminais portuários, e está planejando investir US$ 330 milhões para construir 450 quilômetros de ferrovias no Estado de Minas Gerais.

Outras empresas também usam a infra-estrutura da Vale para transportar seus produtos, contribuindo com mais de 12% da receita da empresa de mineração.

Mas a Vale não é a única empresa brasileira que está lucrando com a oferta de infra-estrutura confiável em um país onde buracos de estrada e gargalos são a norma.

A América Latina Logística, uma empresa de transporte que está crescendo rapidamente e uma operadora de estradas de ferro cujas ações passaram a ser negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo em junho, mais que dobrou sua receita nos últimos quatro anos, para R$ 990 milhões.

"A infra-estrutura é uma das maiores oportunidades de negócio existentes no Brasil no momento", disse Rubens Barbosa, um ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos e no Reino Unido e que agora dirige uma firma de consultoria em São Paulo. "As empresas que perceberem isto ganharão muito dinheiro."


“Economistas”

Por Gustavo Barreto, editor da revista Consciência.Net
16 setembro, 2004

É assim, de forma bem geral, que o jornal "O Globo" de 15/9, decidiu repercutir um possível (e depois confirmado) aumento dos juros. Na manchete: “Economistas: alta de juros tem efeito a curto prazo, mas garante salários”. Fica a impressão de que a classe, em peso, não acha tão ruim assim que os juros da taxa básica Selic aumentem.

Impressiona o fato de que, apesar de toda a gritaria de diversos setores da economia (aqueles que empregam ou trabalham e não apenas dão palpites), o jornal consiga produzir frases como “Economistas: alta de juros tem efeito a curto prazo, mas garante salários”.

Curioso, fui verificar quem são os “economistas”. Concordam com essa opinião apenas dois “especialistas”: Luís Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, adepto das políticas de Malan e Palocci, e José Márcio Camargo, da consultoria "Tendências", outra organização partidária do ex-presidente Fernando Henrique, e no qual trabalham alguns dos analistas que quebraram o país. Os dois são da mesma linha, monetarista, nome oficial do que se costuma chamar ‘neoliberal’.

Lá no meio da reportagem colocam a opinião de um professor da UFRJ, que acha a decisão “sempre ruim do ponto de vista das expectativas”. Não está, portanto, incluído entre os “economistas” do título, apesar de ser um.

Depois, a repórter: “Os analistas também sugerem como alternativa para segurar a inflação, em vez de uma alta dos juros, um aperto na política fiscal, com a elevação da meta de superávit do governo, hoje em 4,25% do PIB”.

A idéia de restringir investimentos a este patamar sob o pretexto de “reduzir a atividade econômica e, assim, evitar alta de preços” soa absurda para muitos – os economistas não ouvidos, que provavelmente não existem para o jornal. Na Argentina, a meta é de 3% e mesmo assim é considerada alta.

Mas “economistas” concordam com isso. Quantos? Um. O mesmo e José Márcio Camargo, ouvido acima. Da mesma consultoria, a "Tendências".


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"New York, New York"
Nota para a seqüência Midi: ***
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Economia


Belo Horizonte, 5 novembro, 2004