Monopólio dos meios de comunicação
Enviado por Luiz Carlos de Oliveira Arantes

Um pouco das malandragens de The Globe

Por Marcelo Salles

Fonte: Site A Nova Democracia
28 agosto, 2006


Arte: Alex Soares
 

Roméro da Costa Machado, 56 anos, é autor dos livros "Afundação Roberto Marinho" e "Afundação Roberto Marinho 2". As obras relatam o período de dez anos em que trabalhou nas Organizações Globo, em que chegou ao cargo mais alto de uma fundação, o de controller. Nessa oportunidade, em entrevista a Marcelo Salles, o escritor revela desde crimes comuns praticados pela Globo, como revenda de carros roubados e falsificação de documentos, até a manipulação do noticiário em favor de interesses obscuros, citando literalmente a invenção dos "caras-pintadas"

Roméro é categórico ao confirmar a relação íntima da emissora do Jardim Botânico com os governos ianque e "brasileiro" subserviente aos interesses do FMI. O escritor também adianta histórias de seu novo livro sobre um país fictício, onde um golpe militar só deu certo por conta do esquema de comunicação "visando domesticar e domar a população".

AND - Você está preparando um novo livro?

- Sim. Nele eu conto a história de um país tropical, onde quase toda a costa é de maravilhas, um país naturalmente selvagem e que como toda a América vivia de golpes militares, alternando com vários ditadores. E nesse país o golpe consegue dar certo por conta do esquema de comunicação, porque quando se monta o esquema de dominação de um país, ninguém visa derrubar o presidente nem neutralizar o exército inimigo. A primeira coisa visada é o sistema de comunicação daquele país. Por exemplo, Bagdá. Você só conseguiu ter Bagdá derrubada quando foi tomado o sistema de comunicação da cidade. E, internamente, foi divulgado por rádio, jornal, televisão, por todos os veículos de comunicação, que Bagdá estava tomada. Enquanto não foi tomado o sistema de comunicação, o que se dizia de Bagdá? Que estava em guerra.

AND - Mas, voltando ao país tropical...

- Então, quando foi tentado esse golpe militar, o que aconteceu? Visando domesticar e domar a população, tinha-se que ter controle sobre o sistema de comunicação. Para isso, eles engendraram o quê? Montar o próprio sistema de comunicação deles. Como? Então, eu conto a história de um jornalista medíocre, que não entendia nada de jornal e que nem era jornalista, nem tinha sentado num banco de faculdade, herda um jornal falido do pai chamado O Globo, se associa ao golpe militar imposto pela CIA e enriquece, se transforma no maior empresário daquele país, montando um verdadeiro império de comunicação. Então, qualquer paralelo entre esse país, "El Chaco", e o acontecido no Brasil é mera coincidência. Aí eu conto toda a história que não pode ser contada ou que não deve ser contada com base em documentos, de tudo o que aconteceu de 1964 até os dias de hoje. Você vai rever a guerrilha do Araguaia ou de Sierra Maestra, ou seja lá o que for, do jeito que tinha que ser contado.

AND - É uma história envolvendo o monopólio da imprensa e a Globo, em particular?

- Tudo. Tudo! A Globo era o sistema de comunicação da CIA. Dentro da Globo você tinha Joe Wallack. No Brasil, governando, você tinha Vernon Walters.

AND - O Joe Wallack não era o responsável técnico?

- Ah, era (risos). Tinha um monte de adido cultural também (risos). Você acha que o cara entra no Brasil com o crachá "Agente da CIA"?

AND - Qual era a função do Joe Wallack?

- A função do Joe Wallack era defender os interesses da CIA dentro da Globo. Proteger os investimentos. Ver o que vai e o que não vai ao ar. O que divulga e o que não divulga. Ele era representante técnico do Time-Life.

AND - Então, a programação da Globo é direcionada pelos interesses da agência de inteligência ou de espionagem do USA?

- Sim. Mas, veja bem, a coisa é feita de uma maneira subliminar. Vamos aos dias atuais. Israel matou 55 "terroristas". Quem morre do outro lado é terrorista. "Israel matou" é uma coisa normal. Ninguém vai questionar o parceiro do USA. Mas se um cara se suicida, você não vê um veículo de comunicação perguntando: Por quê? Por que um cara perde a vida, meu Deus? Então, veja bem, é doutrinário que os meios de comunicação se refiram aos adversários de "americanos" como terroristas. No outro lado as notícias são rápidas. Por exemplo, você chama de campo de refugiado, território ocupado. Você já viu algum veículo de comunicação chamar de campo de concentração? O que são os territórios ocupados? São campos de concentração! O que é a base de Guantánamo? O que são os prisioneiros que foram levados pra lá? Então, se você expor um soldado americano, a "mídia" inteira se revolta, dizendo que ele tem direitos humanos. "Convenção de Genebra está sendo violada, porque estão mostrando a cara de um soldado americano...". Mas você prender o presidente de um país e mostrar ele barbado, debilitado e fazer achincalhe com ele é normal. Então, é muito complicado porque as coisas são feitas de modo subliminar. Hoje nós temos um elemento pior do que Hitler, do que Mussolini, pior que tudo o que você possa imaginar, chamado George W. Bush. E, no entanto, ele é considerado democrata. Por que não se diz que o USA tinha transformado Cuba num prostíbulo? Ao invés de você criticar o homem-bomba, você deveria perguntar por que ele está dando a vida pelo país dele. E que se um cara está dando a vida por um país, é impossível dominar esse país.

AND - Você disse que Cuba, no passado, foi transformada num prostíbulo. Quando você vê agora, qualquer veículo da Globo se passar por escandalizado nas areias de Copacabana e mostrar um turista pagando não sei quantos dólares por sexo, ainda mais no Carnaval...

- O turismo sexual foi a coisa mais incentivada pelo USA em todas as republiquetas. Todas as republiquetas que eles domesticaram, que eles incentivaram, tiveram como característica a corrupção, a violação dos direitos humanos e, principalmente, a prostituição em larga escala. Todos os países. Não existe nenhum registro na humanidade de um império tão terrível quanto o império americano. Nem Ghengis Khan, nem Império Romano. Nada se compara. Todos os principais ditadores no século XX estiveram aliados ao USA: Costa e Silva, no Brasil, Jorge Videla, na Argentina, Somoza, Papa-Doc, Noriega... O próprio Osama Bin Laden, que hoje eles tanto repudiam, foi aliado "americano". Olha, o maior comerciante de drogas do mundo era sócio do George Bush pai. Então, tudo isso é feito e ninguém é denunciado, porque as pessoas não sentem medo do gângster bonitinho. Você instintivamente passa a ter ódio do feio.

AND - E sobre a falsificação de documentos da Globo em São Paulo?

- Para a compra de empresas de São Paulo, eles inventaram CPF de pessoas numa época em que nem existia CPF. E os caras apareciam com CPF na procuração. Você quer coisa pior do que o caso que eu denunciei do roubo dos carros? Um colega meu comprou um carro em leilão, um carro da Globo, e quando foi registrar o carro era roubado.

AND - Como foi essa história?

- A coisa começou com a briga da Globo com o Malta, dono da Transengi, que locava todos os carros da Globo. E aí o Malta foi preso em flagrante na operação Mosaico. Ele disse: "Nem adianta me prender porque eu e Boni já cheiramos tudo. Não tem flagrante". E o Hélio Fernandes botou na primeira página da Tribuna da Imprensa a declaração do Malta. E a Globo, o que fez? O Boni mandou cortar o contrato com a Transengi e matou a empresa. Aí o que aconteceu: o Malta não tinha para quem vender aqueles carros. A Globo incorporou grande parte daqueles carros ao patrimônio dela a partir do momento que a Transengi quebrou. Como a vistoria dos carros da Globo nunca passava pelo Detran, o que aconteceu? Ele (Malta) comprou muito carro roubado e os carros eram vistoriados dentro da Globo. O cara chegava lá e regularizava os carros. Só que tinha um problema: quando o carro virava sucata tinha que ser vendido. E foi o que aconteceu. No leilão que a Globo fez dos carros, eles venderam um lote grande de carro roubado e deu azar de vender para um amigo meu uma Caravan, da Globo, com chassis remarcado. Carro roubado. E aí ameaçaram prender esse meu amigo. Paulo Roberto Romano é o nome dele. Aí ele: "Pô, eu compro um carro roubado e ao invés de vocês prenderem o Roberto Marinho, que me vendeu, vocês vão prender a mim? Porque está aqui, ó... Quem me vendeu foi o Roberto Marinho". Resultado: o cara do Detran mandou ele sair de lá. "Some com esse carro daqui porque eu não posso dar parte". Aí ele foi na Delegacia de Roubos e Furtos para dar parte, porque ele comprou um carro roubado. A delegacia expulsou ele, porque não podia dar queixa contra a Globo. Isso parecia um filme italiano chamado "Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita". Toda a documentação provando o roubo de carros e nem o Detran, nem a polícia puderam registrar a ocorrência. Lógico, eu tirei xerox de tudo, publiquei na Tribuna da Imprensa... Está nos arquivos da Tribuna. Isso é de domínio público. E aí a Globo foi lá no Paulinho, comprou o carro e mandou destruir.

Continua


Música de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Delibes pizzicato"

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Belo Horizonte, 11 junho, 2007

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