Nome
aos bois
Enviado por Oswaldo França Rios, Fortaleza-CE
Por
Carlos Pessoa
A expressão dar "nome
aos bois" tem um sentido. Quem já teve a oportunidade
de lidar com gado sabe bem disso. O boi não só
tem nome como se acostuma e gosta de ser chamado por ele. Todas
as vezes que ouço a expressão "é preciso
dar nome aos bois" lembro-me de Rosca Seca, um aprázivel
lugarejo dos rincões de Minas Gerais, no município
de Aimorés, cidade fronteiriça com o Estado do
Espirito Santo. Ali eu nasci e comecei a trabalhar com 8 anos
de idade. Meu primeiro trabalho foi ser "candeeiro de bois".
Naquela época na minha região não existia
outro meio de transportes que não fosse de tração
animal. Também não havia energia elétrica
e a iluminação se fazia com lamparinas e lampiões.
Meu trabalho era bastante interessante
e eu gostava de executá-lo. Levantava da cama por volta
das 5 horas da manhã e ia ligeiro buscar os bois no pasto.
Esta era a primeira tarefa do dia. Logo depois, os bois eram
atrelados à canga e partíamos em busca da mercadoria
a ser transportada, que podia ser cana, feijao, arroz, milho,
etc. Duas pessoas coordenavam os trabalhos dos bois. O "carreiro",
que era o adulto, geralmente ia dentro do carro e o menino que
ia a frente dos bois. Para o carreiro, era importante fazer
o carro "cantar". A técnica para isso era passar
um chumaço de pano com querosene no eixo do carro para
aumentar o atrito.
Normalmente o carro de bois
trabalhava com quatro juntas, ou seja, com oito bois posicionados
dois a dois, ligados por uma canga. Todos tinham nomes. Alguns
até nomes engraçados ou bem colocados, que pareciam
com eles. Os que iam na frente eram chamados "bois de guia"
porque a eles cabiam guiar o comboio. Era só seguir o
menino, o candeeiro, que tudo dava certo. Os bois de guia eram
muito parecidos uns com os outros. Bois bem aparelhados, como
se dizia na linguagem da época. Um se chamava Passeio
e o outro Passagem.
O Passeio tinha um ritmo de
trabalho constante, uniforme. Da origem ao destino, mantinha
sempre a mesma cadência. Trabalhava bem, discretamente.
Já o Passagem, ao contrário,
iniciava bem o trabalho mostrando-se muito disposto no inicio,
mas volta e meia fazia "corpo mole" exigindo muito
mais atenção do Carreiro. De vez em quando, parava
para saborear algum capim gordura mais tenro que estivesse visível
à beira da estrada. Quando isso ocorria, o Carreiro dava-lhe
uma ferroada e o boi pulava rápido para frente, e só
não pisoteava o Candeeiro se ele estivesse atento.
De 8 aos 12 anos esse era o meu trabalho, executado com chuva
ou com sol. Porém, havia uma particularidade digna de
registro e que nunca saiu de minha memória: Quando o
comboio estava chegando ao destino e que a sede da fazenda era
avistada, o Passagem colocava toda a sua força no trabalho
de puxar o carro, chegando até a desequilibrar, a seu
favor, a harmonia da dupla. Esta particularidade valeu-lhe o
apelido de "boi de chegada". A idéia que passava
era a de que, no final, andando mais rápido ele folgaria
mais cedo. Passeio continuava no seu ritmo normal. Não
alterava, nem para mais nem para menos, a sua contribuição,
mas era bom de serviço. Um dia, ao chegarmos com o carro
de bois carregado de milho, notamos a presença de um
fazendeiro vizinho que fora visitar meu pai e que observava
a nossa chegada. Ao ver a disposição do Passagem,
puxando com mais força do que o Passeio e chegando na
frente, o nosso visitante exclamou, apontando para o esperto
boi de chegada: "Que maravilha! Se o outro fosse assim!".
Esta foi, sem dúvida, a primeira injustiça do
trabalho que presenciei.
Porém, só fui
compreender o significado dela quando, anos depois, ingressei
o mercado formal de trabalho. Ao ingressar em uma grande empresa
pude ver, muitas vezes, aquela cena se repetir. Alguém
trabalhando muito, o tempo todo e outros aparecendo, mostrando-se
como se fossem eles os autores das idéias e dos trabalhos
elogiados. Aprendi também que os erros de avaliação
no trabalho nas empresas são decorrentes do mesmo fato
que ocorreu no episódio do Passeio e Passagem: o julgamento
feito pelo avaliador, sem um acompanhamento contínuo
e sistemático das atitudes, comportamento e desempenho
do avaliado.
Trabalhei por 25 anos em um grande grupo empresarial onde tive
a oportunidade de ver, em várias ocasiões,o ressurgimento
dessas duas figuras inesquecíveis: o Passeio e o Passagem.
Alguém trabalhando muito, fazendo tudo certo e com menor
prestígio do que aqueles que aparecem mais, se expressam
melhor ou se aproximam mais de quem tem poder sobre as pessoas.
Nesses 25 anos tive uma gratificante relação de
emprego de servente a superintendente com meu empregador. Pude
perceber que nas organizações também se
cometem injusticas e que o "vizinho" pode influenciar
as decisões do chefe.
A grande diferença é
que os Passeios e Passagens das empresas são seres humanos
que guardam ressentimentos e mágoas. Os bois não
reclamam.
Conto proparoxítono
Enviado por Joni Lopes, Rio de Janeiro-Capital
Por
Luiz Henrique Mignone
Publicado
no site www.izabelfailde.com.br
Era a terceira vez
que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns
anos bem vividos pelas preposições da vida. E
o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha,
mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até
ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios
de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos,
num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa
oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu
esse pequeno índice. De repente, o elevador pára,
só com os dois lá dentro: ótimo, pensou
o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses,
quando o elevador recomeça a se movimentar: só
que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar
do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal
e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns
instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica,
bem suave e gostosa.
Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para
ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele
começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele
foi usando seu forte adjunto adverbial e rapidamente chegaram
a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam
terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar,
ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo
crescente: se abraçaram, numa pontuação
tão minúscula, que nem um período simples
passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era
vírgula: ele não perdeu o ritmo e sugeriu um longo
ditongo oral, e quem sabe, talvez, uma ou outra soletrada em
seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar
por essas palavras, estava totalmente oxítona às
vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela
totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias,
parônimos e substantivos, ele foi avançando cada
vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele,
com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta dela
inteira.
Estavam na posição
de primeira e segunda pessoas do singular, ela era um perfeito
agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome
do seu grande travessão forçando aquele hífen
ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo
auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou
dando conjunções e adjetivos nos dois, que se
encolheram gramaticalmente, cheios de preposições,
locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo
jovem, numa acentuação tônica, ou melhor,
subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios
e declarou o seu particípio na história.
Os dois se olharam,
e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo
o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou
o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não
era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando
dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo
do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez
mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao
seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que as
condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo
nasal, penetraria o gerúndio do substantivo, e culminaria
com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo,
vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois
dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto
final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu
conectivo, jogou pela janela, e voltou ao seu trema, cada vez
mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino
colocado em conjunção coordenativa conclusiva.
Agora, quem coloca
ponto final sou eu. Ou melhor: coloco dois. Um, é para
não perder a mania. Outro, é porque isso é
um conto rápido, e não uma oração
adjetiva explicativa.
A
poesia nossa de cada dia
Por
Luiz Alberto Machado, editor
do Guia de Poesia na Internet
Internet: www.sobresites.com/poesia/bio.htm
E-mail: lualma@terra.com.br
A poesia existe há muito
tempo, século e séculos atravessando os sentimentos
humanos. Por essa razão, seu conceito e definição
é bastante dificultado, principalmente, claro, em cada
época, em cada poeta, em cada período literário,
a poesia adquire uma concepção própria.
No entanto, para se ter uma
idéia, na Grécia antiga, a poesia era poièsis,
do verbo poiein que significa fazer, indicando o ato
que opera a passagem para o ser daquilo que antes não
existia. Entende-se que todo labor humano estava identificado
na arte poética.
E foi Platão, na antiga
Grécia, quem distinguiu a poesia em três formas:
a dramática, que era mimética e imitava os homens
em ação; a lírica, que não imitava
os homens em ação porque era subjetiva; e a épica,
ambas anteriores utilizando tanto o diálogo direito,
quanto a narração (Samuel et al, 1985).
Assim, conforme Samuel et al
(1985), a poesia lírica "(...) renuncia à
coerência gramatical, lógica e formal, pois necessita
se libertar para poder ser mais autenticamente momentânea";
a épica "(...) com estilo narrativo onde o poeta
narra, descreve e exalta fatos históricos e personagens
heróicos"; e a dramática que "(...)
encontra sua plena realização no espaço
de um palco e num tempo restrito a esse tipo de representação,
apoiada por recursos os mais variados...".
E foi a partir daí que
vieram os tratados de versificação baseados na
utilização do material fonológico para
finalidades métricas, compreendendo o regramento da silabação
e prosódia. Surge, então, o metro que se dividia
em silábico, quando o número de sílabas
é regulado; e o silábico-prosódico, quando
além da contagem das sílabas, certas características
são exigidas, tais como a quantidade, a intensidade e
tonalidade. Conta-se, ainda, outros tipos métricos intermediários.
Com isso, toda uma tipologia
de versificação com o passar dos anos foram sendo
adotados, tais como o grego e seus hexâmetros; o latino
do pentâmetro; o provençal com suas canções,
pastorelas e debates; o francês dos decassílabos
e alexandrinos rondéis e baladas; o italiano com seus
parassílabos madrigais; espanhol com suas redondilhas
e jogralescas coplas; o português com suas cantigas; o
inglês com seus versos brancos; o alemão com seus
versos aliterativos; em suma, como diz Delas & Filliolet
(1975), que "constituem modelos de combinações
métricas e sonoras recomendadas".
Assim sendo, o verso, conforme
Cohen (1966), "(...) continua sendo até hoje o veículo
corrente da poesia (...) é um processo de poetização"
e que "(...) o metro e o ritmo têm a mesma função
que a rima: assegurar aquele retorno sonoro que é a essência
do verso" .
Quanto à rima, Burke
observa que esta "(...) acentua habitualmente o princípio
repetitivo da arte (...). Seu atrativo é o atrativo da
forma progressiva desde que o poeta alcance seus efeitos com
estabelecer, em primeiro lugar, e depois alterar, um esquema
ritmático".
Contrário a esse regramento,
surgem, então, os versos livres que são aqueles
que não estão sujeitos a uma medida previamente
adotada e que não se prende a nenhuma contagem, porque
o poeta deixa que a sua inspiração flua à
vontade, exprimindo o pensamento à sua maneira. O ritmo,
no entanto, existe e está oculto.
Usando Delas & Filliolet
(1975), a finalidade dessas considerações históricas
era mostrar que a mudança da natureza das marcas da poeticidade,
ligada à evolução do modo de consumo da
poesia, impulsionou uma substancial evolução de
formas. Isso ocorre com a emergência do poético
visual que implicava no deslocamento da métrica normativa.
Isso com a ocorrência da poesia concreta que elimina o
verso como unidade rítmico-formal, numa tentativa de
ampliar as possibilidades de expressão e comunicação
do poema, a partir do ideograma chinês, propondo-se, assim,
a utilizar o espaço gráfico como substituto da
sintaxe.
Buscando uma conclusão
nessa abordagem histórica da forma de expressão
poética, Pound (1976) sugere que o poeta "(...)
identifique a assonância e aliteração, rima
imediata e retardata, simples e polifônica, tal como se
espera de um músico que conheça harmonia e contraponto,
assim como todas as minúcias de seus ofícios".
E adverte: "(...) nunca se escreveu poesia de boa qualidade
usando um estilo de vinte anos atrás, pois escrever dessa
maneira revela terminantemente que o escritor pensa a partir
de livros, convenções e clichês, e não
a partir da vida".
É evidente que os temas
aqui abordados de muito requereriam maior espaço, vez
que cada um deles, por si só, já ocupariam, por
certo, esta página. Neste caso, a nossa intenção
foi abordar modestamente os formatos poéticos que se
mostraram ao longo do tempo, requerendo, portanto, a devida
complacência quanto a determinadas omissões para
que pudesse fluir mais como sugestão do que propriamente
um estudo aprofundado. Isto enseja, contudo, novas explanações
a serem aqui exploradas.
Bobliografia consultada:
- BURKE, Kenneth. Teoria da
forma literária. São Paulo: Cultrix,USP, s/d.
- CAMPOS, Haroldo (Org.). Ideograma:
lógica, poesia, linguagem. São Paulo: Cultrix/USP,
1977
- COHEN, Jean. Estrutura da
linguagem poética. São Paulo: Cultrix, 1966
- DELAS, Daniel & FILLIOLET,
Jacques. Lingüística e poética. São
Paulo: Cultrix/USP, 1975
- PLATÃO. A república.
Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d
- POUND, Ezra. A arte da poesia.
São Paulo: Cultrix/USP, 1976
- SAMUEL, Rogel (Org.). Manual
de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 1985
O poema e a
poesia
Por Luiz Alberto Machado, editor
do Guia de Poesia na Internet
Internet: www.sobresites.com/poesia/bio.htm
E-mail: lualma@terra.com.br
Falar de poesia
num tempo tão sem poesia é, deveras, quase falar
balela. No entanto, apesar de tanta insensibilidade, tanta mediocridade,
tanta barbárie, insiste-se no sentimento do ser humano
na forma como realmente ele deve ser: humano.
Entenda-se que a insensibilidade,
a mediocridade e a barbárie sempre se fizeram presentes
no inventário humano, o que nos deixa, por conclusão,
que não é nenhuma novidade resistir. Se sempre
fora adversa a realidade com relação ao sentimento
humano, não será agora, que tudo se redima de
uma vez. A gente vai continuar resistindo mesmo que a indiferença
seja plena e que os ouvidos e toda percepção humana
se torne uma parede gélida de inumanidade.
Pois bem, antes de mais nada,
gostaria de fazer menção ao fato de que diversos
estudantes tem recorrido a este Guia, solicitando a diferença
entre poema e poesia. Então, aproveito tal interesse
para trocar umas idéias a respeito.
Inicialmente, na tentativa de
esclarecer o que é o poema, faço uso da definição
dada pelo eminente escritor Assis Brasil:
"Poema é o 'objeto'
poético, o texto onde a poesia se realiza, é uma
forma, como o soneto que tem dois quartetos e dois tercetos,
ou quatorze versos juntos, como é conhecido o soneto
inglês. Um poema seria distinto de um texto ou estrofes.
Quando essa nomenclatura definitiva é eliminada, passando
um texto a ser apresentado em forma de linhas corridas, como
usualmente se conhece a prosa, então se pode falar em
poema-em-prosa, desde que tal texto (numa identificação
sumária e mecânica) apresente um mundo mais ´poético`
ou seja, mais expressivo, menos referente à realidade.
A distinção se torna por vezes complexa. (...)
a poesia pode estar presente quer no poema que é feito
com um certo número de versos, quer num texto em prosa,
este adquirindo a qualidade poema-em-prosa".
Já poesia, Assis Brasil
define como:
"(...) uma manifestação
cultural, criativa, expressiva do homem. Não se trata
de um ´estado emotivo`, do deslumbre de um pôr-do-sol
ou de uma dor-de-cotovelo; é muito mais do que isso,
é uma forma de conhecimento intuitivo, nunca podendo
ser confundido o termo poesia com outro correlato: o poema".
Daí fica claro que um
é o objeto e, o outro, a manifestação.
E para não ficar tão simplista, possibilitando
maior amplitude, considere-se outras observações,
a meu ver, pertinentes. Aristóteles, por exemplo, em
sua Poética, tratou sobre o assunto:
"(...) não é
ofício de poeta narrar o que aconteceu; é sim,
o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que
é possível segundo a verossimilhança e
a necessidade. (...) a poesia é algo de mais filosófico
e mais sério do que a história, pois refere aquela
principalmente o universal, e essa o particular. (...) Daqui
claramente se segue que o poeta deve ser mais fabulador que
versificador; porque ele é poeta pela imitação
e porque imita ações".
Sobre esta visão aristotélica,
Ariano Suassuna considerou que a poesia, no sentido grego, significa
criação:
"(...) como espírito
criador que se encontra na raiz de todas as artes. (...) A poesia
seria o espírito criador que se encontra por trás
de todas as artes literárias, sejam estas realizadas
através da prosa ou do verso".
Assim, poesia é "o
ritmo e a imagem, principalmente a metáfora".
Ampliando mais a discussão,
no que concerne ao que pensam determinados poetas do que seja,
na verdade, a poesia.
Vejamos pois, o que pensa, por
exemplo, Maiakovsky:
"A poesia começa
onde existe uma tendência. (...) A poesia é uma
indústria: das mais difíceis e das mais complicadas,
mas, apesar disso, uma indústria. Aprender o ofício
de poeta não é aprender o modo de preparar um
tipo definido e limitado de obras poéticas, mas sim,
o estudo dos meios de todo o trabalho poético, o estudo
das práticas dessa indústria que ajudam a criar
outros. (...) O trabalho do poeta deve ser quotidiano, a fim
de melhorar a técnica, e acumular reservas poéticas".
Eliot, por outro lado, defende
que:
"(...) A poesia pode ter
um significado social deliberado e consciente. (...) Podemos
observar que a poesia difere de qualquer outra arte por ter
para o povo da mesma raça e língua do poeta um
valor que não tem para os outros. (...) nenhuma arte
é mais obstinadamente nacional do que a poesia (...)
a poesia que é o veículo do sentimento".
E arremata: "A poesia é
uma constante lembrança de todas as coisas que só
podem ser ditas em uma língua, e que são intraduzíveis".
E como tarefa de poeta, Eliot defende que primordialmente e
sempre se leve a efeito uma revolução na linguagem,
articulada com musicalidade de imagens e de sons. Pound, entretanto,
acrescenta: "Cada homem é o seu próprio poeta",
defendendo que ninguém será um poeta escrevendo
hoje com um jeito de anos atrás e que a linguagem deve
ser usada com eficiência.
Uma série de outras questões
podem e devem ser abordadas, ficando, portanto, para a próxima
oportunidade, uma maior observação a respeito
do tema poesia.
Bibliografia
ARISTÓTELES
- Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1979
BRASIL, Assis - Vocabulário técnico de literatura.
São Paulo: Tecnoprint, 1979
ELIOT, T. S. - A essência da poesia: estudos e ensaios.
Rio de Janeiro: Artenova, 1972
MAIAKÓVSKI, Vladimir - Poética. São Paulo:
Global, 1984
POUND, Ezra - A arte da poesia. São Paulo: Cultrix, 1976
SUASSUNA, Ariano - Iniciação à estética.
Recife: UFPE, 1975
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