O sertanejo e o direito não
reclamado
Enviado pelo autor, Santa Maria - RS
Por
Rafael Reinehr, escritor e editor
E-mail: superjazz7@terra.com.br
e Internet: http://simplicissimo.com.br
26 de junho, 2006
A Copa do Mundo não traz
só o futebol para dentro de nossas casas. No outro dia,
foi chamada minha atenção por uma reportagem televisiva
que mostrava a vida de alguns sertanejos no interior do Maranhão,
em uma localidade onde a luz elétrica ainda não
chegou. Os jogos da seleção brasileira de futebol
por lá são acompanhados pelo rádio de pilha,
muitas vezes com funcionamento garantido por estarem acoplados
a uma gigantesca antena daquelas que se usa para televisores.
Pessoas se deslocam um, dois
ou até quatro quilômetros a pé, de bicicleta
ou no lombo do jumento para irem à casa de alguém
que tenha um rádio funcionando para escutar o jogo da
Copa. O mais feliz (e também estressado) morador do local
é o único técnico eletrônico que
fica responsável pelo conserto dos rádios do povoado,
distante pelo menos oito quilômetros da mais próxima
fonte de eletricidade. A olhos atentos, não choca tanto
a ausência de um televisor mas imaginar como podem viver
por lá sem um refrigerador para estocar os alimentos.
Suco, água, refrigerante ou uma cerveja gelada não
tem vez.
O que grita ao coração
é ver que, ao fim da reportagem, o sertanejo tira de
cima da mesa uma folha de papel onde vemos escrito algo como
Sou brasileiro com muito orgulho. A pergunta que
não quer calar é: o que fez este Brasil para que
tenhas este amor incondicional? Como te relacionas com esta
pátria de forma tão amorosa se ela, negando o
próprio Hino Nacional, não tem sido nem de perto
mãe gentil? Se esta nação te priva os direitos
básicos devidos à qualquer ser humano que são
o acesso à luz e à água tratada, como te
inclinas com tanta facilidade?
Se tentamos imaginar o que faria
um cidadão francês privado de um direito que é
concedido a outro cidadão do mesmo país, percebemos
como nós brasileiros somos dóceis e inertes frente
aos absurdos que encontramos neste grande país.
Nossa capacidade de mobilização
para resolvermos questões cruciais, que afetam nossos
direitos mais primários, é absurdamente pífia.
Chega a dar vergonha pensar muito tempo sobre isso. Nos submetemos
a mudanças nas regras do jogo feitas para depois de amanhã,
quando estas tratam de espoliar ainda mais nossos bolsos através
da criação de novas taxações e impostos,
enquanto em boa parte dos países verdadeiramente civilizados
as mudanças que afetam trabalhadores, estudantes e aposentados
são planejadas com quinze ou vinte anos de antecedência.
A chegada da eletricidade para aquele povo não é
um favor que o Estado lhes faz. É um dever que há
muito deixou de ser cumprido, pois por lá, a voz não
fala.
Falta-nos uma pequena dose de
ferocidade. Precisamos aprender a não esbravejar somente
diante do televisor durante nossas refeições.
Necessitamos aprender a reclamar em conjunto. E o momento é
propício.
Os bons velhos
tempos...
Enviado pelo autor,
Lavras-MG
Por
Pedro Coimbra, escritor, ex-cineasta (cinema novo) e
ex-crítico do jornal "Estado de Minas"
E-mail: ppadua@navinet.com.br
16 junho, 2006
O escritor Paulo Rodarte tem
dito que cada vez mais adoto uma direção de viés
memorialista nos meus textos. Estou cansado de saber que o passado
é constituído de outras histórias, mas
agarro-me a ele como uma forma de não deixar que fique
perdido em brumas densas. É como uma forma didática
de mostrar aos mais jovens, que a nossa vidinha de então,
sem muita sofisticação, era bastante emocionante.
Quando "Os Rollings Stones" promoveram recentemente
um mega show em Copacabana, poderia ter ido assistí-los,
mas não o fiz. Por um motivo muito simples. Quando jovem
eu gostava de "Os Beatles" e ignorava solenemente
"Os Rollings Stones". Questão de gosto!
Recordo-me que numa festa na
casa do Fabinho Mesquita, onde todos foram para seu quarto ouvir
o último disco do conjunto, e eu fui pra sala. Na verdade
muito antes desse acontecimento eu, Luciano Carvalho, Mozar
Terra e Edilce Mesquita gostávamos muito mesmo era de
Bossa Nova: Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Jonhy Alf,
Sambalanço Trio, Zimbo Trio, Sérgio Ricardo, Gilberto
Gil, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Geraldo Vandré,
Teo de Barros, Torquato Neto, Heraldo do Monte, Airto Moreira
e outros.
Em 1965, assisti no Rio de Janeiro
ao segundo filme de "Os Beatles", Help!, a
cores, dirigido por Richard Lester, que alguns jornalistas teimavam
de chamar de "Socorro!", o que, evidentemente, não
colou. Uma história bobinha em que Ringo ganha um anel
de uma fã, e sem querer, acaba se envolvendo com uma
seita que quer matar quem estiver usando esse anel. Uma correria
louca! Os Beatles são perseguidos por todo o filme, esquiam,
no que pretende ser uma comédia, mas que serve mesmo
para divulgação das músicas dos jovens
de Liverpool.
São deste período
Help!, The night before, You've got to hide
your love away, I need you, Another girl,
You're going to lose that girl, Ticket to ride,
Act naturally, It's only love, You like me
too much, Tell me what you see, I've just seen
a face, Yesterday e Dizzy Miss Lizzy.
Logo a beatlemania fez a cabeça
dos jovens e dominou todo o Brasil. Yesterday passou a ser o
carro chefe de todas as serenatas para as amadas apaixonadas,
mesmo que fosse cantada um tanto ou quanto desafinada...
"Os Beatles" representaram o começo de uma
brutal mudança nos hábitos e costumes no mundo
todo e marcaram de vez os anos 60. De repente tudo foi dominado
pela juventude. A atitude passou a dominar, com Jean Seberg,
Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée, Twiggy, Jean
Shrimpton, Veruschka, Joan Baez, Marianne Faithfull e Françoise
Hardy.
Para quebrar de vez com o arzinho
bem comportado das moças casadoiras surgiu à minissaia,
que maravilha! Foi por está época, no finalzinho
de 1965, que Hércules, o Capitão Gancho, presidente
do Retiro Literário e Recreativo Sinval Silva, do Instituto
Gammon, me convidou a apresentar uma festa no Auditório
Lane Morton. Fizemos um roteiro e minutos antes da apresentação
um dos componentes do grupo musical, o Cacá Bertolucci,
me pediu que trocasse o nome de "Os Apaches" para
"Os Fantásticos". Apresentaram-se e deram um
show!
"Os Fantásticos"
era formado pelo Cacá Bertolucci, Wagner Camisão,
Jofrinho, Fausto Novaes e Jéferson. Começava aí,
a carreira de um conjunto musical que, na onda do ié-ié-ié,
fez muito sucesso, tocando também sucessos do "Tijuana
Brass". E já empresariado pelo Alfeu Alves Pereira,
gravou disco e apresentou-se em muitos lugares.
O mais triste destas recordações
foi lembrar a morte prematura do jovem baterista de franjinha
a la "Os Beatles", o Jofrinho...
Muitos anos depois meu filho
Ricardo me deu uma coletânea de toda a obra de "Os
Beatles", que sempre ouço, principalmente Ticket
to ride, que é a minha música preferida. A
letra numa tradução bem simplezinha, começa
assim: "Eu acho que vou ficar tiste/ Eu acho que vai ser
hoje/ Yeah/ A garota que está dirigindo me enlouquece/
Vai embora/ Ela tem bilhete para montar/ Ela tem bilhete para
montar/ Ela tem bilhete para montar,/Mas ela não tem
medo." As letras das músicas de John Lennon e Paul
McCartney pareciam despretensiosas perto das dos bolerões
e do início das músicas com fundo social que tocavam
nas rádios.
Sem dúvida, os bons velhos
tempos eram os de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison
e Ringo Starr
Um futuro melhor...
Enviado por Mag Guimarães, Roterdã-Holanda
Por
Lúcia Hippolito, comentarista e cientista política
Fonte: Rádio CBN, 25 dezembro,
2005
2 julho, 2005
Entre 7 de setembro e 4 de novembro
de 1940, a aviação alemã despejou várias
toneladas de bombas sobre Londres, numa das mais violentas batalhas
da Segunda Guerra Mundial.
Durante o que ficou conhecido
como a Batalha da Inglaterra, foram 57 noites de puro horror.
A população da capital inglesa viveu esses dias
inteiramente aterrorizada, dormindo em abrigos e voltando no
dia seguinte, para encontrar, no lugar onde tinha sido sua casa,
um monte de escombros.
A destruição atingiu
até mesmo uma ala do Palácio de Buckingham, residência
da família real. O rei George VI foi vivamente aconselhado
a deixar Londres com sua mulher e suas duas filhas, uma das
quais é a atual rainha Elizabeth II. Se a família
real se mudasse para o interior da Inglaterra, suas chances
de sobreviver às bombas nazistas seriam infinitamente
maiores.
Nessa hora, ao contrário
do que era aconselhado, a rainha ergueu-se como um monumento.
Baixinha, gordinha, sem nenhuma importância até
ali, a mulher de
George VI transformou-se numa leoa, na solidariedade ao seu
povo.
Não só declarou
que ninguém de sua família deixaria a cidade de
Londres, como passou a visitar diariamente bairros bombardeados
para mostrar que a família real continuava ali, ao lado
de seu povo, mesmo na mais tenebrosa adversidade.
A rainha conquistou para sempre
a admiração e o amor dos ingleses. Morreu em 2002,
com 101 anos, cercada pela devoção do seu povo.
Naqueles dias de 1940, a família
real inglesa demonstrou absoluta lealdade à sua gente.
A população de Londres não foi abandonada.
Na mais dura prova até
então vivida por uma grande cidade, os londrinos tiveram
ao seu lado o seu rei, sua rainha e seu governo.
A primeira família, seja
na realeza ou na República, é sempre simbólica.
Ela é uma transmissora de valores, de adesão às
marcas nacionais. Seus atos apontam caminhos, soluções
e possibilidades. O exemplo que ela dá revela seu compromisso
com o país e seu futuro.
Tudo isso me vem à lembrança
quando leio nos jornais que no Brasil a esposa do presidente
da República solicitou e conseguiu de um governo estrangeiro
cidadania para ela, seus filhos e seus netos. A
mulher do presidente Lula, seus filhos e netos são hoje
também cidadãos italianos. O
que será que isso quer dizer?
Como é que essa atitude
será interpretada pela maioria dos brasileiros, que não
querem fugir do país e que tentam, todo santo dia, fazer
do Brasil um país melhor?
Como o Brasil espera inspirar
confiança nos investidores estrangeiros, quando a família
do presidente da República já conseguiu para si
mesma uma "rota de fuga do país?"
Em tempo:
Vale recordar que Dona Marisa
Letícia (assim mesmo, agora ela usa os dois nomes, "para
ficar mais formal") andou se justificando com asinina (de,
ou pertencente ou relativo ao asno, ou próprio dele,
segundo o Aurélio) sinceridade: segundo ela, o pedido
de cidadania italiana foi para "garantir aos filhos um
futuro mais seguro".
Ela deve saber qual futuro seu
marido está construindo...
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Música
de fundo em arquivo MID (experimental):
"Faz parte do meu show", de Cazuza
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