Bob Tostes lança "Sinatra in bossa"

Disco produzido por Menescal traz 13 sucessos
arranjados ou transformados em Bossa Nova

Por Carolina Cotta

No início de 2006, Roberto Menescal ligou para Bob Tostes para falar sobre um projeto muito especial: um disco chamado Sinatra in bossa, a ser lançado no mercado japonês. Menescal foi direto ao ponto: "Bob, você é o único que pode gravar esse álbum". Surpreso com o convite, o cantor mineiro brincou que Menescal até podia fazê-lo, mas ele -Bob- não era irresponsável a esse ponto. Do outro lado o amigo respondeu: "Não tem problema, colocamos Call me irresponsible como subtítulo". A música, que desarmou Bob Tostes, é parte do disco com mais  
12 interpretações de músicas de Sinatra, que chega às lojas esta semana, pela Albatroz.

A proposta não era fazer algo semelhante ao ídolo, e sim dar um clima de Bossa Nova como ninguém melhor que Menescal consegue fazer. Ele divide a autoria dos arranjos com Raymundo Bittencourt. E, desta união surge um colorido diferente, como define Tostes. "Conseguimos dar uma cara nova a músicas muito conhecidas. Algumas delas estavam mesmo batidas...não por Sinatra, mas pelas inúmeras gravações em mais de meio século". O exemplo é Blue Moon, que já foi gravada de diversas formas e por variados intérpretes, e até receber o arranjo, ele não imaginava um jeito diferente de cantá-la. Já para It had to be you, Bob recebeu de Menescal um arranjo parecido com o que tinha imaginado, com o baixo sincopado e um balanço gostoso, à João Donato. Mas a grande surpresa é My way. A música nunca foi uma das favoritas do cantor mineiro, mas foi uma exigência dos japoneses. É a última faixa do disco e surpreendeu até mesmo o intérprete. O resultado é uma bossa lenta, algo que lembra os arranjos feitos para Diana Krall por -coincidência- Claus Ogerman, arranjador de Tom Jobim: um olhar diferente para uma das músicas mais conhecidas de Frank Sinatra. No disco, as três se destacam pelo resultado final, bastante diferente do original.

Bob Tostes define Sinatra in bossa como um disco de duas faces: uma, das músicas arranjadas como bossa; outra, das músicas que se transformaram em bossa nova. Fly me to the moon, I´ve got you under my skin, Just in time e The lady is a tramp são cantadas quase como jazz, mas em ritmo de bossa. Diferentes de It had to be you, All of me ou That old black magic, que parecem ter sido compostas em samba. Para Strangers in the night Menescal buscou referência no arranjo de Além do Horizonte que fez para Nara Leão, dando uma agilidade inédita à canção.

O disco foi gravado em julho, no estúdio de Menescal, em apenas um dia e meio, porque Bob já estava bastante familiarizado com os arranjos, recebidos 40 dias antes. O repertório partiu de uma seleção inicial de 30 canções feita por Bob Tostes, das quais Menescal escolheu as 12 que compõem o disco (My way, a 13ª, é a bonus track). Elas resgatam e mesclam um pouco da carreira de Sinatra entre as décadas de 30 e 60.

Sinatra e Tostes

Sinatra sempre foi o cantor preferido de Bob Tostes - nas várias fases do cantor americano e nas várias fases do cantor mineiro. Tostes o conheceu pelos filmes musicais, ainda criança; mas redescobriu Sinatra em 1991. Foi nessa época, estudando canto com Babaya, que compreendeu porque Sinatra era...Sinatra. "Foi como se meu ouvido criasse um novo canal e eu entendi quão especial ele era como cantor. Acontece conosco, com relação a grandes nomes da música ou do cinema. Gostamos porque nos disseram que é bom. Às vezes, o tempo desmancha essa impressão. Às vezes, ao contrário, ele confirma - e a redescoberta nos encanta... Assim foi com Sinatra". Bob não se esquece que começou a reparar como tudo em Sinatra era perfeito: a dicção, a colocação da voz, a emissão, a inflexão. "Não há excessos em suas interpretações - seja na melancolia contida das baladas ou na alegria vibrante dos números com big-band".

O bom gosto nos arranjos e a inteligência ao formar o repertório que o tornou, em 1966, o primeiro grande nome da música internacional a gravar um disco só com canções de Tom Jobim, também são motivos de admiração. "Sinatra sem dúvida acertou ao dedicar um álbum a Jobim, compositor à altura dos clássicos americanos como Gershwin e Cole Porter. Foi mais sensível ainda ao convocar também Claus Ogerman, arranjador favorito de Tom, o que, além de sinatriano, tornou Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim um álbum profundamente jobiniano".

O intérprete

Bob Tostes dedicou a vida à música; assim como alguns de seus parceiros de shows e discos como Suzana Tostes, Roberto Menescal, Renato Motha, Patrícia Lobato, Juarez Moreira, Marilton Borges, Nara Leão, Célio Balona, Jane Duboc, Talita Babl, Aécio Flávio, Paulo Nehmy, Roberto Guimarães, Pacífico Mascarenhas, dentre outros.
Em 1968, ainda como estudante de direito da UFMG foi classificado em 4° lugar no "I Festival Mineiro da Canção" com a composição "Chore". Em 1969, foi finalista na fase mineira do "IV Festival Internacional da Canção" (FIC), com as composições "Caminhada" -parceria com Roberto Guimarães- e "Noite mais linda" - com Bebete Farah. Nesse mesmo ano foi líder do grupo mineiro do Movimento Musicanossa, criado no Rio de Janeiro por Roberto Menescal. Bob Tostes também foi o organizador, 1970, do "Festival Estudantil da Canção" (FEC), que revelou a música Clube da Esquina, classificada em 4º lugar. O festival contou com a participação dos então iniciantes Lô Borges, Beto Guedes, Flavio Venturini, Toninho Horta,Túlio Mourão, Tavinho Moura e Ivan Lins.

Em 1971 formou-se em direito e entrou para a Faculdade de Comunicação da PUC Minas, época em que compôs trilhas sonoras para peças infantis montadas pelo Teatro de Equipe, como "O cavalinho azul" (de Maria Clara Machado) e "O casaco encantado", ambas dirigidas por Priscila Freire. Nas décadas de 60, 70 e 80, assinou as colunas musicais dos jornais Diário da Tarde e Diário do Comércio e, nos anos 90, publicou ensaios no caderno "Pensar" do jornal Estado de Minas. Nesse mesmo período foi proprietário da loja de discos BobTostes, uma referência no mercado belorizontino.

Bob Tostes também foi produtor da rádio Inconfidência FM na inauguração da programação "Brasileiríssima", em 1979. Em 1996, retornou à emissora para a produção de programas diários sobre cinema e MPB, até se transferir para a rádio Guarani FM, em 1999, para participar da reformulação da programação e da produção de especiais. Atualmente também apresenta uma coluna semanal de cinema no Jornal da Alterosa - 2ª edição, e dirige o coral infantil do Colégio Santo Tomás de Aquino.

Discografia

Participações especiais e coletâneas

Download para MP3 de trecho de "Call me irresponsible", na voz de Bob Tostes


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Vivo sonhando", de Tom Jobim

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Belo Horizonte, 9 dezembro, 2006

No tempo da Bossa Nova