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O amor de sua vida
Enviado por Regina
Célia Toledo Albuquerque, Rio de Janeiro-Capital
Por Marta Medeiros
Por que você ama quem você ama?
Ninguém ama outra
pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos,
simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes
batendo à porta.
O amor não é
chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro
amor acontece por empatia, por magnetismo.
Ninguém ama outra
pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã
do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro,
pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento
que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam,
pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Então que ela
tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é
mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora
implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele
cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo
que encontra no armário. Ele não tem a maior vocação
para príncipe encantado, e ainda assim você não
consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca,
você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais
e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte
para mim.
Você é inteligente.
Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos
Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica
também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para
ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas
no lugar (ou quase). Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.
Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu
fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor,
não pega no pé de ninguém. Com um currículo
desse, criatura, por que diabo está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa.
Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação
matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio
nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons
motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue
ser do jeito do amor da sua vida!
O amor
Enviado por Ana Paula Rocha, São Paulo-Capital
Por Artur da Távola
Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima
posição no ranking das virtudes, o amor ainda lidera com
folga. Tudo o que todos querem é amar. Encontrar alguém
que faça bater forte o coração e justifique loucuras.
Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata.
Que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro
de um ônibus lotado. Depois que acaba esta paixão retumbante,
sobra o que? O amor...
Mas não o amor
mistificado, que muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra
é o amor que todos conhecemos, o sentimento que temos por mãe,
pai, irmão e filho. É tudo o mesmo amor, só que
entre amantes existe sexo. Não existem vários tipos de
amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro
de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único,
como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge
ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher
não há laços de sangue, a sedução
tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de durabilidade,
qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança
em cobrança acabamos por sepultar uma relação que
poderia ser eterna.
Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo,
mas insustentável...
O sucesso de um casamento
exige mais do que declarações românticas! Entre
duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito
mais do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão
intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões
zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma
paciência. Amor, só, não basta. Não pode
haver competição. Nem comparações. Tem que
ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente
combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos
de carência, infantilidades. Tem que saber levar.
Amar, só, é pouco. Tem que haver inteligência. Um
cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais,
rejeições, demissões inesperadas, contas prá
pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não
gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.
Entre casais que se unem visando à longevidade do matrimônio
tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância,
vida própria, um tempo prá cada um. Tem que haver confiança.
Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer
de conta que não escutou. É preciso entender que união
não significa, necessariamente, fusão. E que amar, "solamente",
não basta.
Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia,
tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade.
Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que
sozinho não dá conta do recado. O amor é grande
mas não é dois. É preciso convocar uma turma de
sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência.
O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não
se basta.
Um bom Amor aos que já têm! Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!
Cada
um no meu lugar
Texto
dedicado pelo editor do Jornal dos Amigos a todas as mulheres que
trabalharam em 1978 nas unidades comerciais Ipanema e Copacabana da
Telerj, Rio de Janeiro, ocasião em que foi gerente
Por Artur da
Távola, de
seu livro "Cada um no meu lugar"
Há um momento,
no auge do desentendimento, em que o máximo de raiva está
a um milímetro do máximo de amor.
- Há algo que
permanece em tudo que se separa. Esse algo é o que dói,
mesmo quando a separação é, ou foi, o melhor
caminho.
- Há um projeto
sempre irrealizado em toda a relação que se realiza.
Uma necessidade nova sempre se coloca a cada satisfação
da anterior.
- Entre pessoas que
se amam, há verdades e sentimentos que, se aparecem quando
elas estão juntas, separam; e se aparecem quando elas estão
separadas, machucam, dão saudade, vontade de juntar.
- Gostar não
é apenas durante. É, sobretudo, depois.
- Amar é apesar,
aquém e além da pessoa amada.
- Dilema do homem. Na
vigência do casamento ele se sente preso e atado. Quer, quer
a separação. Não agüenta mais as limitações
da vida comum. Aí pinta a separação e ele, mais
do que a mulher, entra em pânico.
- O homem está
menos preparado para a liberdade da mulher do que ela.
- Os verdadeiros apetites
sensuais sempre se manifestam com mais clareza quando a inviabilidade,
a dificuldade ou impossibilidade da relação se impõe.
- Casais separados conseguem
certas intensidades amorosas impossíveis na vigência
do matrimônio.
- Certos graus de amor
só são perceptíveis a partir da impossibilidade
de se exercerem ou da ameaça de não poderem jamais vir
à tona.
- O caminho da liberdade
pessoal, da descoberta das próprias potencialidades, muitas
vezes só é possível a partir de um sofrimento
de amor.
- A vigência de
neuroses não complementares impede a possibilidade de melhora
e crescimento interior de ambos.
- Um neurótico
nunca vai para o brejo sozinho.
- Uma separação
dolorosa às vezes acaba por se transformar na melhor maneira
de ensinar a pessoa a ela mesma.
- Quase sempre desprezamos
a chance do novo em nossas vidas. Atados que estamos a uma necessidade
de eco e repetição de tudo o que nos traz(ia) segurança.
- Em convivência
e em amor, o que perdura através do tempo, mesmo que à
custa de muita dificuldade e de um precário equilíbrio,
revela a existência de uma relação profunda. Tempo
nem sempre é acomodação. Muitas vezes é
sinal de uma sabedoria intuitiva que autoriza a permanecer com a ligação
mesmo quando ela pareça insatisfatória e incompleta.
O que consegue vencer o tempo consegue vencer, também, impulsos
passageiros com sabor de emoção e novidade.
- O que não acaba
apesar da convivência, abençoado está.
- Em amor, se é
preciso explicar, então já não se deu o entendimento
profundo, a adivinhação da verdadeira necessidade do
outro.
- O que se precisa explicar
nunca será explicado.
- Quem não te
adivinha não te merece.
- Rende-te à
natureza de quem amas e esta começará a te obedecer.
- O que perdura numa
relação que se fragmenta é sempre o que de verdadeiro
havia nela.
- Uma impossibilidade
bem vivida é mais rica que uma possibilidade mal vivida.
- O que volta depois
de ter passado é porque nunca deixou de existir.
Música
de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Ela disse-me assim", de Lupiscínio Rodrigues
Nota para a seqüência Midi: *****
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