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A palavra facção
Enviado por Luiz Carlos de O. Arantes, São Paulo-Capital
Por Sérgio Rodrigues
Fonte: Nominimo.com.br
28 maio, 2006
Quem alerta é Luiz Garcia no Globo de hoje (23, maio): a palavra facção, usada em peso pela Imprensa para falar do PCC, é flagrantemente inadequada. Responsável por zelar pelo texto do jornal carioca e autor de seu Manual de redação e estilo, Garcia gostaria que essa e outras organizações criminosas fossem chamadas de quadrilhas. Facção, argumenta, é um termo neutro que não merecem.
Faz sentido. As duas primeiras acepções de facção no Houaiss ficam entre o francamente positivo (expedição militar ou feito de armas heróico) e o neutro (grupo de indivíduos partidários de uma mesma causa em oposição à de outros grupos); só na terceira surge uma certa conotação negativa (bando ou partido insurreto).
O mesmo dicionário informa que não faltam sinônimos de quadrilha em nossa língua. Podemos escolher entre baderna, bando, cacaria, cachorrada, cáfila, cambada, canalha, canzoada, caterva, corja, farândola, malta, mamparra, matilha, matula, matulagem, parranda, partida, récua, saparia, seqüela. Ou, para simplificar, quadrilha mesmo.
Que o próprio PCC goste de se ver como facção, entende-se. Que o Brasil embarque de gaiato numa escolha vocabular política, esperta e interessada, não se entende nem se perdoa. Ah, mas isso é um detalhe sem importância? Pense outra vez. Sabe-se há muito tempo a frase é atribuída a Confúcio que, se a linguagem não está de acordo com a verdade das coisas, nada chega a bom termo.
Só para registrar: o Globo continua chamando o PCC de facção.
A imprensa Dorian Gray
Enviado pelo autor, Americana-SP
Por Juliano Schiavo Sussi, 18 anos, estudante de jornalismo do ISCA E-mail: jssjuliano@yahoo.com.br |
13 maio, 2006
No livro O retrato de Dorian Gray,
Oscar Wilde conta a história de um jovem aristocrata inglês,
cuja aparência é de real beleza que um pintor, amigo de Dorian,
decide eternizá-la numa pintura. Dorian, ao observar o retrato, se
entristece e diz:
Que tristeza! Vou ficar velho, e horrível, e medonho. Mas este
retrato permanecerá eternamente jovem. Precisamente como neste dia
de junho. Se pudesse dar-se o inverso! Ser eu eternamente jovem e o retrato
envelhecer! Daria tudo para que isso acontecesse! Tudo o que há no
mundo! Daria a própria alma!.
O pedido é atendido e, embora o jovem passe a levar uma vida devassa,
seus excessos de todo tipo não lhe marcam o rosto, mas aparecem no
retrato, que é a imagem de sua alma.
Dorian Gray tem muito a ensinar para a nossa sociedade, que vive de aparências.
Principalmente a grande mídia, que sofre com a síndrome de Dorian
Gray.
Ela se mantêm imaculada em sua aparência, enquanto seus princípios,
infelizmente, são desvirtuados do caminho ético. Seu aspecto
exterior, sempre maquiado pela imparcialidade, é ilusório,
pois ela toma bandeiras para defender seus interesses. Interesses que estão
acima do leitor, seu verdadeiro patrão.
Falta a democracia aos meios de comunicação. Nas
questões políticas, por exemplo, tudo que é tratado só
se relaciona entre PT e PSDB. É raro se ouvir falar de outros
partidos políticos na imprensa. A pergunta que fica: por quê?
O mesmo vale para os jogos de futebol. Só os grandes times tem vez
e voz na tela das televisões. Os pequenos são relegados a segundo
plano.
O papel da imprensa é dar voz aos excluídos
ou simplesmente servir de reprodutora fiel dos grandes capitais? A imprensa
não deveria ser pluralista? Afinal, o que a grande mídia deve
defender: seus interesses ou o direito de informação da sociedade?
A imprensa Dorian Gray só vive de aparências. Logo, estará
fadada a assassinar sua alma ao perceber sua verdadeira face. O que falta
é seguir o código de ética jornalística e lutar
pela verdadeira democracia, pelo direito de informação e pela
soberania nacional.
Nota do editor
Grifo em vermelho da editoria
do Jornal dos Amigos, que cumprimenta Juliano Schiavo pela lucidez
do texto.
Como triunfar no jornalismo pós-moderno
(ou como fugir da ética e ganhar
muito dinheiro)
Da editoria do Jornal dos Amigos
Fonte: Simplíssimo, jornal virtual
A
monocultura mediática
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital
Por Gustavo Barreto, editor da revista eletrônica Consciência.Net
Enquanto os hectares destinados à monocultura se expandem e, com apoio do Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, criam um deserto verde improdutivo, camponeses e indígenas são empurrados para as cidades na esperança de uma melhor condição de vida. A história é antiga - e continua sendo exaustivamente ignorada pela imprensa de grande circulação. Esta reportagem especial foi realizada pela Revista Consciência.Net, em 14 de março de 2006 |
Os telejornais diários têm obrigação moral de citar as razões pelas quais os milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais se movimentaram, no Rio Grande do Sul, contra a Araracruz Celulose e seu laboratório. No entanto, nenhuma palavra acerca da expansão da monocultura de eucalipto. Essa atividade vem crescendo vertiginosamente e, segundo as agricultoras presentes na ação, tem transformado a região em um deserto verde improdutivo.
Não só os movimentos campesinos são ameaçados pela produção de monoculturas como eucalipto, soja, cana-de-açúcar e a agropecuária. As comunidades indígenas são literalmente expulsas de suas terras quando se estabelece a grilagem e a corrupção dos meios de fiscalização, em qualquer parte do território Brasileiro.
A monocultura é uma típica política colonialista que impede o desenvolvimento de trabalhadores, como camponeses familiares autônomos, ao impor um alto custo de produção com retorno econômico de alto risco.
Não pense que camponeses existem somente no interior do país. Não pense que os índios estão restritos às florestas. Enquanto os hectares destinados à monocultura se expandem com apoio do Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, todas estas pessoas são empurradas para as cidades na esperança de uma melhor condição de vida. A história é antiga. Desde a 'Revolução Verde', o processo agroindustrial moderno, propagandeado intensivamente dos anos 70 em diante, encheu as cidades de todo o planeta.
Não acredite que o processo era necessário. A agricultura familiar ainda é responsável por 70% dos alimentos que o brasileiro tem no prato. A duras penas, as famílias camponesas brasileiras resistem, com as mãos sujas de terra e os dedos calejados. Elas não possuem os mesmos mecanismos de incentivo direcionados à monocultura de larga escala.
Eucalyptus globulus, uma árvore imperialista
Neste caso, o problema está no eucalipto, não somente na monocultura. A espécie é nativa da Austrália e sua expansão é controlada por vorazes coalas que apenas se alimentam de suas folhas. O eucalipto tem a característica de sugar rios, nascentes e lençóis; a plantação exclusiva de eucalipto, sem o controle biológico de coalas, representa a desertificação do território e a árvore acaba reinando soberana.
E por que o eucalipto e não outra árvore? Porque ele cresce rápido, pode ser podado várias vezes e é ótimo para fazer papel. Seu tronco é todo em lascas, fácil para moer e virar pasta de celulose. Outra grande razão é que suas folhas são beneficiadas pela indústria química e farmacêutica. O cultivo de eucalipto é uma monocultura como outra qualquer — não se trata de reflorestamento, idéia passada pela edição do Jornal Nacional da TV Globo do dia 8/3/2006. Só é reflorestamento se feito com plantas nativas. |
A
monocultura é uma
típica política colonialista que impede o desenvolvimento de trabalhadores |
Para quem planta eucalipto, ainda tem o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que promove o plantio de árvores como forma de seqüestrar carbono. Uma leitura nos sites das empresas de celulose mostra quantos prêmios já foram conquistados por conta desse mesmo mecanismo. A constante luta dos movimentos ambientalistas contra a indústria de papel não é somente o espectro do deserto verde, mas também que as substâncias usadas por essa indústria são consideradas uma caixa de pandora para contaminação de rios e afluentes.
Plantando armas
Por mais que nos façam crer que o crescimento do país só acontecerá com a agricultura intensiva, o modelo agroindustrial, que retira a subsistência das famílias rurais, é a base da economia de guerra que países como os EUA necessitam para se manter. A quantidade de insumos químicos despejados nos países em desenvolvimento, a maquinaria moderna e o uso intensivo de energia para produção de alimentos foram as estratégias de arrecadação de verba e a maneira de controlar a economia desses países.
Todos os insumos da agroindústria fazem parte da mesma indústria, capaz de produzir armas químicas e biológicas que, na primeira Guerra Mundial, transformaram o conflito na pior guerra química enfrentada pela humanidade. Todos os armamentos de guerra utilizados, desde então, têm a mesma base industrial que uma indústria de defensivos e tratores. |
Para
quem planta eucalipto,
ainda tem o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que promove o plantio de árvores como forma de seqüestrar carbono |
Pense bem: a monocultura extensiva que se utiliza dessas propriedades é que possibilita os conflitos entre países. O uso intensivo de energia também entra no esquema, pois a base para tais produtos é o petróleo. A base da sociedade contemporânea é o petróleo e seus conflitos.
Quando se mostra camponeses e indígenas que protestam desta maneira, destruindo sementes e laboratórios de pesquisa, não se pode colocá-los como vândalos sem justificativa. A situação extrema, que leva pessoas a cometerem tais protestos, é uma tentativa de impedir — já que nenhum outro mecanismo consegue - a continuação deste processo.A sociedade do petróleo está com seus dias contados. Esta mesma indústria investindo na biodiversidade é conseqüência do fim deste capítulo. O que não muda no enredo é o pensamento de dominação de pessoas sobre outras pessoas. A industrialização da vida está criando e utilizando este mesmo procedimento para impedir que 70% de nossa alimentação seja produzido por pessoas que não conferem 100% do lucro a uma dúzia de acionistas. Para eles a resistência de 70% de um mercado é uma parcela muito grande. Então vale a pena brigar por ela. Uns com a pá e outros com tratores.
Ao invadirem o laboratório destruindo as sementes, as trabalhadoras rurais expressaram seu repúdio ao modelo econômico que lhes têm roubado o sustento e a própria vida. No entanto, a ação das Sem Terra tem sido veiculada pelos telejornais como a grande imprensa fazia no início do século XX: um caso de polícia.
Essas observações são óbvias para qualquer jornalista agrário que tenha dois neurônios e uma ligação entre eles. Entretanto, parece que na redação dos telejornais diários a preocupação com a ética e a vida não estão presentes, e sim os valores do agrobusiness.
Especial
A realidade, segundo a TV
Enviado pelo autor, Belo Horizonte-MG
Por Ivani Cunha, jornalista
E-mail: ivanicunha@ig.com.br
12 agosto, 2004
O prezado leitor ou leitora costuma entrar na casa de parente ou amigo sem
cumprimentar ninguém, e só depois de contar algumas novidades
diz bom dia, boa tarde ou boa noite?
Se a resposta for sim, estamos falando de uma pessoa mal-educada ou, quem
sabe, fora de seu juízo perfeito. O ritual, todos sabemos, consiste
em se anunciar, cumprimentar os de casa e depois iniciar a conversa.
Se estivermos de acordo que assim deve ser, talvez alguém possa me
explicar: por que os apresentadores dos telejornais aparecem na tela lendo
as manchetes e só depois, ao iniciar a apresentação dos
blocos de notícias, cumprimentam os telespectadores?
Quando o jornal começa, ou pouco antes, abrimos a porta para apresentadores
e repórteres trazerem à nossa casa as notícias que os
editores consideram mais importantes. Aqueles que chegam primeiro, os apresentadores
do telejornal, deveriam, segundo uma norma elementar da etiqueta, começar
cumprimentando; depois, leriam a síntese do noticiário a ser
apresentado.
Não é assim que fazem, e a maioria dos telespectadores acaba
se acostumando também com essa esquisitice levada à telinha.
Mais grave que a manipulação de aspectos do real é a
firme decisão dos executivos das emissoras privadas em ignorar que
essas empresas, existentes graças a concessão do governo, têm
o dever de ajudar a educar as pessoas, além de entreter e informar.
Ou seja, espera-se que elas ofereçam aos cidadãos algo mais
do que eles pedem. Embora isso pareça cada vez mais necessário,
não deve ser fácil, porque o modelo atual garante boa audiência
e, portanto, satisfaz os anunciantes.
Entendo o ar de desânimo do leitor porque, por enquanto, estamos falando
de um sonho. Os executivos de TV não buscam telespectadores de qualidade.
Interessa-lhes, sim, a quantidade de pessoas sentada na frente dos aparelhos.
Nenhum desses figurões das emissoras, exceto daquelas mantidas diretamente
pelos cofres públicos, tem o menor constrangimento, por exemplo, de
impor mudanças radicais à filosofia
das empresas para atender ao objetivo chamado lucro. De repente concordam,
por exemplo, com a prática de um jornalismo baseado principalmente
na cobertura de fatos policiais, desgraças, notícias negativas
em geral.
Qualquer pessoa um pouco mais atenta ao noticiário das TVs deve se
lembrar de que, nos últimos 20 anos, até emissoras que tinham
aversão a matérias sobre violência e problemas sociais
em geral passaram a produzir reportagens com o predomínio desses temas,
sobretudo os mais sangrentos, em todos os seus telejornais. Tudo pelo Ibope.
Os editores sabem que esses milhões de cidadãos aos quais se
dirige a programação
sentem um certo alívio de não fazerem parte dos fatos mostrados
na telinha. Do jeito que a violência está se espalhando, ficar
fora do noticiário é mesmo um privilégio.
As pessoas que se concentram na ilusão de segurança só
porque não estão no noticiário, talvez se contentem com
isso e não observem esquisitices como o cumprimento dos apresentadores
depois da leitura das manchetes.
Para as emissoras é claro que não se trata de esquisitices,
mas uma forma de se mostrarem simples ou informais como qualquer cidadão,
embora as pessoas normais não se comportem como os apresentadores.
Assim a TV cai no outro extremo. Antes, havia a preocupação
de mostrar refinamento, principalmente em alguns horários, e às
vezes até escorregavam no preconceito. Em meados dos anos 70, a matriz
de uma delas mandou cortar, nos créditos, o sobrenome de casada de
uma apresentadora de Belo Horizonte. Era um sobrenome norte-americano, que,
segundo a chefe do jornalismo, não correspondia ao tipo brasileiro
da profissional, uma bela negra.
Este é apenas um exemplo de como a realidade, às vezes, ganha
máscara na TV para ficar mais parecida com o real imaginado pelas pessoas
que comandam seus programas.
Música
de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Faz parte do meu show",
de Cazuza
Nota para a seqüencia Midi: *****
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