Jornal Nacional sem opinião
Da editoria do Jornal dos Amigos

Fonte: Blog do Mário Morais
18 fevereiro, 2006


A Rede Globo de Televisão decidiu que Franklin Martins, Arnaldo Jabor e o cartunista Chico Caruso não são mais comentaristas fixos do Jornal Nacional.

Martins, que opinava sobre política todas as quintas, não aparece no "JN" desde a primeira quinzena de janeiro. Jabor (toda sexta) também já encerrou sua participação. E Caruso, que diariamente desenhava uma charge, deixou o "JN" no final de dezembro.

Franklin Martins continua no "Jornal Hoje" e, assim como Jabor, no "Jornal da Globo". Caruso terá um quadro no "Fantástico". A Globo diz que os três poderão voltar ao "JN" em "momentos especiais".

Essa decisão da Globo pode conter interesses não confessáveis de não criticar o governo Lula. E agora, se você quiser notícia e opinião, acesse a Internet e veja o Jornal dos Amigos.


De Bonner para Homer
Enviado por João Luiz Marinho, Brasília-DF

O editor-chefe do considera o obtuso pai dos Simpsons
como o espectador padrão do Jornal Nacional

Por Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo, jornalista e
professor da Escola de Comunicações e Artes da USP

19 janeiro, 2006

Perplexidade no ar. Um grupo de professores da USP está reunido em torno da mesa onde o apresentador de TV William Bonner realiza a reunião de pauta matutina do "Jornal Nacional", na quarta-feira, 23 de novembro.

Alguns custam a acreditar no que vêem e ouvem. A escolha dos principais assuntos a serem transmitidos para milhões de pessoas em todo o Brasil, dali a algumas horas, é feita superficialmente, quase sem discussão.

Os professores estão lá a convite da Rede Globo para conhecer um pouco do funcionamento do Jornal Nacional e algumas das instalações da empresa no Rio de Janeiro. São nove, de diferentes faculdades e foram convidados por terem dado palestras num curso de telejornalismo promovido pela emissora juntamente com a Escola de Comunicações e Artes da USP. Chegaram ao Rio no meio da manhã, e do Santos Dumont uma van os levou ao Jardim Botânico.

A conversa com o apresentador, que é também editor-chefe do jornal, começa um pouco antes da reunião de pauta, ainda de pé numa ante-sala bem suprida de doces, salgados, sucos e café. E sua primeira informação viria a se tornar referência para todas as conversas seguintes. Depois de um simpático bom-dia, Bonner informa sobre uma pesquisa realizada pela Globo que identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional.

Constatou-se que ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por exemplo. Na redação, foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático mas obtuso personagem dos "Simpsons", uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja.
É preguiçoso e tem o raciocínio lento.

A explicação inicial seria mais do que necessária. Daí para a frente o nome mais citado pelo editor-chefe do "Jornal Nacional" é o do senhor Simpson.

Essa o Homer não vai entender, diz Bonner, com convicção, antes de rifar uma reportagem que, segundo ele, o telespectador brasileiro médio não compreenderia.

Mal-estar entre alguns professores. Dada a linha condutora dos trabalhos -atender ao Homer-, passa-se à reunião para discutir a pauta do dia. Na cabeceira, o editor-chefe; nas laterais, alguns jornalistas responsáveis por determinadas editorias e pela produção do jornal; e na tela instalada numa das paredes, imagens das redações de
Nova York, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, com os seus representantes. Outras cidades também suprem o "JN" de notícias (Pequim, Porto Alegre, Roma), mas elas não entram nessa conversa eletrônica. E, num círculo maior, ainda ao redor da mesa, os
professores convidados.É a teleconferência diária, acompanhada de perto pelos visitantes.

Todos recebem, por escrito, uma breve descrição dos temas oferecidos pelas praças (cidades onde se produzem reportagens para o jornal) que são analisados pelo editor-chefe. Esse resumoé transmitido logo cedo para o Rio e depois, na reunião, cada editor tenta explicar e defender as ofertas, mas eles não vão muito além do que está no papel. Ninguém contraria o chefe.

A primeira reportagem oferecida pela praça de Nova York trata da venda de óleo para calefação a baixo custo feita por uma empresa de petróleo da Venezuela para famílias pobres do estado de Massachusetts. O resumo da oferta jornalística informa que a empresa venezuelana, que tem 14 mil postos de gasolina nos Estados Unidos, separou 45 milhões de litros de combustível para serem vendidos em parcerias com ONGs locais a preços 40% mais baixos do que os praticados no mercado americano. Uma notícia de impacto social e político.

O editor-chefe do Jornal Nacional apenas pergunta se os jornalistas têm a posição do governo dos Estados Unidos antes de, rapidamente, dizer que considera a notícia imprópria para o jornal. E segue em frente.

Na seqüência, entre uma imitação do presidente Lula e da fala de um argentino, passa a defender com grande empolgação uma matéria oferecida pela praça de Belo Horizonte. Em Contagem, um juiz estava determinando a soltura de presos por falta de condições carcerárias. A argumentação do editor-chefeé sobre o perigo de criminosos voltarem às ruas. Esse juizé um louco, chega a dizer, indignado. Nenhuma
palavra sobre os motivos que levaram o magistrado a tomar essa medida e, muito menos, sobre a situação dos presídios no Brasil. A defesa da matéria é em cima do medo, sentimento que se espalha pelo País e rende preciosos pontos de audiência.

Sobre a greve dos peritos do INSS, que completava um mês, matéria oferecida por São Paulo, o comentário gira em torno dos prejuízos causados ao órgão.

Quantos segurados já poderiam ter voltado ao trabalho e, sem perícia, continuam onerando o INSS, ouve-se. E sobre os grevistas? Nada.

De Brasília é oferecida uma reportagem sobre a importância do superávit fiscal para reduzir a dívida pública. Um dos visitantes, o professor Gilson Schwartz, observou como a argumentação da proponente obedecia aos cânones econômicos ortodoxos e ressaltou a falta de visões alternativas no noticiário global.

Encerrada a reunião segue-se um tour pelas áreas técnica e jornalística, com a inevitável parada em torno da bancada onde o editor-chefe senta-se diariamente ao lado da esposa para falar ao Brasil. A visita inclui a passagem diante da tela do computador em que os índices de audiência chegam em tempo real. Líder eterna, a Globo pela manhã é assediada pelo Chaves mexicano, transmitido pelo SBT. Pelo menos é o que dizem os números do Ibope.

E no almoço, antes da sobremesa, chega o espelho do Jornal Nacional daquela noite (no jargão, espelho é a previsão das reportagens a serem transmitidas, relacionadas pela ordem de entrada e com a respectiva duração). Nenhuma grande novidade. A matéria dos presos libertados pelo juiz de Contagem abriria o jornal. E o óleo barato do Chávez venezuelano foi para o limbo.

Diante de saborosas tortas e antes de seguirem para o Projac -o centro de produções de novelas, seriados e programas de auditório da Globo em Jacarepaguá-, os professores continuam ouvindo inúmeras referências ao Homer. A mesa é comprida e em torno dela notam-se alguns olhares constrangidos.


Isso é uma vergonha
Enviado pelo autor, Americana-SP

Por Juliano Schiavo Sussi, 18 anos, estudante de jornalismo
E-mail: jssjuliano@yahoo.com.br

7 janeiro, 2006

Ele nasceu em uma família de imigrantes russos. Sua infância foi difícil, pois, ainda no seu primeiro ano de idade, contraiu poliomielite. Aos 9, foi levado aos EUA para fazer uma cirurgia em suas pernas, pois tinha dificuldade de andar devido à perna direita ser menor que à esquerda.

Deu a volta por cima e iniciou seu histórico profissional na rádio em 1956, aos 15 anos. Entrou para uma faculdade de direito e, faltando seis meses para se formar, desistiu do curso. Seguiu seu coração: optou por atuar na área jornalística.

Trabalhou nas rádios Piratininga, Santo Amaro, Panamericana e Eldorado. Na imprensa escrita, dirigiu a redação da Folha de S.Paulo (74 a 76 e de 77 a 88). No mesmo jornal foi editor de política e da seção Painel.

Estreou na televisão em agosto de 1988, no TJ Brasil do SBT, até junho de 1997. Alguns estudiosos têm ele como o primeiro âncora da TV brasileira - jornalista a quem é dada autonomia para apresentar, editar e comandar de forma independente a equipe que produz o telejornal.

Ele também recebeu o Prêmio Rotary de Comunicação e foi premiado com o Troféu Imprensa de telejornalismo em 1992, 1993, 1994 e 2001. Foi o âncora do Jornal da Record de 14 de julho de 1997 até 30 de dezembro de 2005. Mas afinal, quem é ele?

Ele é Boris Casoy, um crítico feroz da atual administração petista -uma administração que adora calar a imprensa– e teve seu contrato com a Record desfeito. Por que será?

A presidência da Record relatou a Casoy que o governo não admitia críticas e que teria ameaçado corte de publicidade estatal no "Jornal da Record”, além de ter sugerido nomes para substituí-lo. Como o dinheiro fala mais alto no mundo capitalista, a direção da Record decidiu quebrar o contrato com o “simples” jornalista.

Mais uma vez a administração de Luiz Inácio Lula da Silva dá mostras de que os “fins justificam os meios”. A quebra de contrato do jornalista Boris Casoy demonstra que as bases do governo petista se estruturam na manipulação. Como diria Casoy: “Isso é uma vergonha!”.


Amenidades

Cuidado com "Ã-rã"
Enviado por Marcos Tobias, Belo Horizonte-MG

Por Aldo Veríssimo

O chefe de reportagem de um jornal carioca decidiu dar uma chance à estagiária recém-chegada da PUC que, além de esteticamente jeitosa, adentrava a redação com um desembaraço de quem tem mesmo jeito para a profissão:
- Você conhece o trabalho de Claude Monet?
- Ã-rã.
- Sabe a importância que ele teve no movimento artístico impressionista?
- Ã-rã.
- Então eu queria que você fizesse uma grande reportagem para a edição de domingo sobre a exposição de Monet no Museu Nacional de Belas Artes, o.k.?
- Ã-rã. Você tem o telefone dele?
- Dele quem?
- Do Cloude, uai!

Calcula-se que 97% dos universitários diplomados chegam ao mercado de trabalho pós-graduado em "ã-rã", um recurso de oratória freqüentemente utilizado em barzinhos de faculdade por quem não está entendendo a conversa, mas tem vergonha -ou preguiça- de pedir esclarecimento. Inofensivo na hora do recreio, o truque pode ser fatal quando empregado em ambiente de trabalho.

Ao invés de repórter contratada, a estagiária da PUC virou piada em todas as redações cariocas por causa desta história de querer entrevistar alguém que morreu em dezembro de 1926. Talvez não tivesse abortado prematuramente a sua carreira se, humildemente, perguntasse ao chefe quem é mesmo Claude Monet. Melhor desconhecer o defunto do que tentar falar com ele, não é?

Eis um conselho a quem está batendo a porta do mercado de trabalho: pergunte, encha a paciência dos mais experientes ao seu redor, pois é assim que se aprende. O pior ignorante é aquele que finge entender o que não sabe - este não tem cura. A autoconfiança é uma burrice que a gente aprende na escola. Leva a fama de burro -ou chato- o menino que levanta o dedo para tirar dúvidas, que, em geral, são de todos na classe.

O brasileiro, como se sabe, tem a pretensão de já nascer sabendo. Vivemos em um país de gente sabida, mas não se iluda, quase todo sujeito competente no trabalho foi um chato em sala de aula. Vence na vida quem diz "não". "Não" entendi, "não" sei, "não" conheço, "não" fui, "não" disse, "não" vi, "não" li, "não" sei como escrever...

Tem futuro também, quem procura saber quem, quando, como, onde e por quê.
Vamos lá: tente, pergunte, revele-se, aprenda. Fique inseguro, libere seu nervosismo, nenhum trabalho é bem realizado quando quem está por trás dele não tem dúvidas sobre o acerto daquilo que está fazendo. Não deixe que obichinho do "ã-rã" faça de você um bobão do mercado de trabalho.

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Música de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Bananeira
", de João Donato
Seqüência Midi: Marcos Borelli
Nota para a seqüencia Midi: *****

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Belo Horizonte, 20 fevereiro, 2006

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