Novos tempos
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital

Por Gustavo Barreto, editor da revista Consciência.Net
,
colaborador do Núcleo Piratininga de Comunicação ,
estudante de Comunicação Social da UFRJ e
bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Inciação Científica (PIBIC)
pela ECO/UFRJ


28 de setembro, 2004

De onde vem importantes denúncias sobre abusos do poder público, da mídia e de grandes grupos empresariais? Antigamente, dizem os mais saudosos, era preciso se encontrar em becos sombrios, usar óculos escuros e ter senso de discrição. Novos tempos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, uma das principais fontes de jornalistas profissionais é o "weblog", espécie de diário na Internet. Focalizando em um único tema, alguns deles acabam descobrindo aspectos de uma questão que dificilmente um profissional teria tempo ou a sorte de revelar.

Nesta semana ocorreu mais um caso. A rede de televisão CBS admitiu falhas em reportagem sobre o serviço militar do presidente George W. Bush, depois que os bloggers levantaram dúvidas sobre os documentos apresentados. E Bill Clinton sabe o quanto lhe foi caro as boas informações de alguns desses diários.

Aqui no Brasil não é muito diferente. Cinco pessoas formam a turma do "Imprensa Marrom" (www.imprensamarrom.com.br), sempre atenta aos escorregões da mídia, com muito bom humor. Já o "Mídia Vigiada" (www.midiavigiada.kit.net) possui textos sobre TV, cinema e quadrinhos. Brincando com o Observatório da Imprensa, surgiu o "Xingatório da Imprensa" (http://xingatorio.blogspot.com/), sempre atento aos deslizes de grandes jornais e sua relação com o poder.

A lista é imensa, mas pouco a pouco o internauta atento poderá selecionar quais são os que realmente têm credibilidade.


Manchete versus conteúdo
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital

Por Gustavo Barreto, editor da revista Consciência.Net

5 setembro, 2004

Mais uma vez os jornais diários cometem o erro infantil da disparidade entre manchete e conteúdo nestas eleições. Mesma com a pesquisa desta terça (31/8) para a sucessão em São Paulo indicando empate técnico, já que a margem de erro é de 3,5 pontos percentuais e a diferença entre Serra e Marta era de 4%, diversos jornais -entre eles os maiores do Rio e de São Paulo, "O Globo" (foto ao lado) e "Folha de S.Paulo"- estamparam em suas capas uma suposta liderança do candidato do PSDB. A pergunta que fica no ar é: falta conteúdo à manchete ou aos jornalistas?

Malandragem visual

Para convencer seus leitores de que o País, adotando a ortodoxia da economia de mercado, irá alcançar um crescimento sustentável com distribuição de renda, os editores do jornal "O Globo" não só reproduzem um noticiário amigável ao governo e aos investidores internacionais. A comunicação possui técnicas pouco conhecidas do público, mas fartamente utilizadas pelos profissionais de mídia e muito estudadas no meio acadêmico.

 

O Globo, 1/9/2004,
detalhe de capa


Uma delas, utilizada na capa (foto acima), consiste em começar as linhas da manchete com palavras-chave, fixando-as de forma que, repetidas diariamente, acabem criando um "consenso", fundamental para convencer o leitor. Na manchete original -"Mercado interno faz o PIB crescer além do esperado"- duas palavras foram destacadas e dizem muito sobre a política econômica adotada pelo governo: "Mercado" e "crescer". Coincidência ou não, é exatamente esta a lógica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e sua incessante busca por "estabilidade econômica".

É só alegria

  Para completar, a capa traz três fotos que é só amor. Mais abaixo, Ronaldinho beija sua namorada durante um treino, enquanto o jogador de vôlei Giba faz afagos em sua filha recém-nascida. Acima, o clima de festa se completa com um Lula sorridente apertando a mão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que é pura alegria (foto aberta ao lado). De que todos tanto riem? Provavelmente das notícias que aparecem na própria página: a carga tributária em proporção do PIB passará de 35% para 37% e os bancos, com medo do conservadorismo do Banco Central, já aumentaram os juros ao consumidor.
Para completar, o Departamento de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) divulgou na própria quarta (2/9) que, em agosto, a cesta básica ficou mais cara em 15 das 16 capitais pesquisadas. Em outras palavras, menos dinheiro no bolso do brasileiro e mais dinheiro no caixa do sorridente Palocci, que desvia 5% do Tesouro Nacional para pagar em dia credores nacionais e internacionais. E as Organizações Globo, cujo maior cliente do setor publicitário é o próprio governo, não tem mesmo do que reclamar.

"Bom de tato"

Para não deixar dúvidas de que lado está, o diário carioca noticiou no sábado (4/9) um debate entre o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato, e representativos segmentos do movimento social, como o MST. No título da matéria, o jornal estampa: "Executivo bom de tato na resposta a críticas". Sandra Quitle, da Rede Brasil, disparou: "Os ajustes impostos pelo FMI não somente causam a devastação social, mas solapam as bases do desenvolvimento econômico". Os representantes da sociedade civil entregaram uma carta a Rato na qual afirmam que o débito externo brasileiro já foi pago. Eles defenderam uma auditoria na dívida e chamaram o Fundo de “guardião dos credores internacionais”, classificando-o de instituição autoritária. Rato não conseguiu responder de forma convincente as questões, mas O Globo preferiu classificar o executivo como "bom de tato".

Folha em campanha

A Folha de S.Paulo mostrou mais uma vez que está em campanha em São Paulo - não se sabe se contra a atual gestão de Marta Suplicy (PT) ou a favor do candidato José Serra (PSDB). Fato é que Serra tem sido sucessivamente privilegiado na cobertura do diário paulista. Na outra frente, todos os mínimos detalhes dos erros da prefeita têm sido estampados com destaque nas primeiras páginas. Serra, por sinal, é ex-colunista da Folha e se licenciou apenas para disputar a prefeitura.

Na última segunda (30/8), por exemplo, o jornal deu primeira página para uma pesquisa do Datafolha -instituto ligado à publicação- destacando que o programa de TV de José Serra tem preferência entre os eleitores consultados.

O que não aparece na manchete "explosiva": foram entrevistados apenas 1.720 - segundo o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, a cidade possui quase 8 milhões de eleitores. E mais: menos de 50% dos entrevistados assistiram ao programa eleitoral. Para piorar a manipulação grosseira, a diferença entre os que elogiaram
um e outro candidato é de apenas 5%.

O que é jornalismo?


Jornalista do NYT ataca novamente
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital

Ao utilizar Hugo Chávez para chamar o governo Lula de autoritário,
o jornal 'New York Times' mostra qual é, para a direita que nunca
apoiou a liberdade de expressão, o conceito de "autoritarismo

Por Gustavo Barreto, editor da revista Consciência.Net

9 setembro, 2004

O alvo é só um: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reportagem publicada pelo jornal "The New York Times" nessa segunda (6/9), o correspondente do diário no Rio de Janeiro, Larry Rohter, atacou desta vez a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo.

Já na primeira linha, Rohter mostra a que veio: chama o projeto de "plano do presidente", quando os autores, na verdade, foram os dirigentes da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), com amplo apoio de diversos sindicatos no país inteiro. Diz ainda que esta seria -segundo as organizações de imprensa- "que seriam afetadas pela medida a mais séria ameaça à liberdade de expressão aqui desde a queda da ditadura militar de direita há duas décadas".

Em maio, o mesmo jornalista publicou reportagem sobre supostos excessos alcoólicos do presidente e foi classificada corretamente pelo governo como "caluniosa", "da pior espécie de jornalismo, o marrom" e que apenas o "preconceito e a falta de ética" explicam a tentativa de colocar em dúvida a credibilidade do presidente.

O texto desta segunda é todo construído como se a proposta do CFJ fosse mais um indicativo da "lógica autoritária" do governo Lula. E conclui, quase no final: "Lula está sofrendo do efeito Chávez", citando "um líder da oposição" que Rohter nem ao menos identifica.

A frase é uma referência ao presidente da Venezuela Hugo Chávez, eleito democraticamente por duas vezes e que, mesmo assim, aceitou submeter seu mandato a referendo revogatório, igualmente vitorioso. Desta forma é fácil perceber qual é, para esta mesma direita que nunca apoiou a liberdade de expressão, o conceito de "autoritarismo".


Lei da relatividade aplicada
Enviado por Paulo Sérgio Loredo, São Paulo-Capital

Por Mylton Severiano, jornalista

7 setembro, 2004

O pessoal do contra está assanhado, os interessados no próprio bolso, desanimados do Brasil, derrotistas, nihilistas. De tudo quanto disseram e escreveram nas últimas semanas, é bem curiosa a reação a certa afirmação do ministro Luiz Gushiken. Caíram de pau em cima dele por dizer que nada é absoluto numa sociedade, portanto a liberdade de informação é relativa.

Chiaram, mas que é relativa, é. Por volta de 1966, a Rádio Eldorado, que pertence ao grupo d’O Estado de S. Paulo, mantinha programa de música erudita, Concertos do Meio-Dia. Encontrei um locutor da rádio certo dia e reclamei que não tocavam contemporâneos, como Igor Stravinsky. Ele disse que o “doutor Julinho” havia proibido música de compositores do século 20: todos comunistas, segundo Júlio Mesquita Filho. Os ouvintes só tinham “liberdade” de pedir para ouvir eruditos até a época do romantismo.

Recentemente, um colega contou que mandou colaboração para a revista Bundas, em que pedia a renúncia do então ministro da Fazenda Pedro Malan. Esse colega disse que não sabia que Malan é sobrinho da mulher do editor da revista. “Você vai me complicar em casa”, explicou o editor ao autor do texto, pedindo desculpas por não publicar. “Censura” caseira.

Na Rede Globo, em 1987, chegaram a mexer na letra de velha marcha de carnaval, de Luiz Antônio, Oldemar Magalhães e Zé Mário, Sassaricando, que deu nome à novela; mudaram o verso “na porta da Colombo”, porque Colombo é nome de tradicional confeitaria carioca que fabrica ou fabricava famosa geléia de mocotó. E por quê? Porque, segundo nos explicaram nos corredores da emissora, Roberto Marinho seria dono de outra geléia de Mocotó, a Inbasa.

Como se vê, há muitas formas de “censura”, muitas maneiras de exercer a “liberdade de imprensa”. Quase não vemos articulistas defendendo o atual governo federal nos jornalões e revistonas. A esmagadora maioria ataca, e na maior parte das vezes simplesmente ataca por atacar, como numa campanha, quase sempre à base de adjetivos. Dia 27 passado, última sexta-feira de agosto, o colunista de um grande jornal paulistano publicou o texto “Até Tu, Bastus”, em que desancou o ministro da Justiça a propósito da Lei de Crimes Hediondos. Cometeu três impropriedades e desinformações, segundo a Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Justiça. Mas as correções enviadas pela assessora Ligia Kosin foram publicadas na seção dos leitores, no meio de outras cartas, ou seja, ficaram valendo as incorreções do articulista. Eis mais uma dentre incontáveis manifestações de relatividade da “liberdade de imprensa”.

Ainda não temos neste país uma só grande publicação feita e comandada por jornalistas, mas sim grandes publicações feitas por jornalistas comandados por EMPRESÁRIOS, com seus interesses. Interesses políticos, pecuniários, de classe social e outros, mais do que o interesse em prestar um serviço público.

A propósito, vamos lembrar o jornalista atípico Mahatma Gandhi, líder de massas, pacifista, libertador da Índia do jugo inglês. Para sua pregação, Gandhi criou vários jornais. Entendia o poder multiplicador de mensagens que tem o jornalista. Foi vítima de jornalistas também, por causa de exageros, erros e mentiras assacados contra ele. Em 1945, escreveu que o objetivo principal do jornalismo é servir; e comentou:

“A imprensa é uma grande força. Mas como uma torrente em fúria submerge o campo e devasta as colheitas, assim uma pena sem controle não serve senão para destruir. Se o controle vem do exterior, seu efeito é ainda mais venenoso que a falta dele. Não pode assim esse controle ser proveitoso se não for exercido do íntimo.”

Quem controla as mãos que escrevem para os jornalões e revistonas? O que têm a ver com o Conselho Federal de Jornalismo os patrões? Quem tem medo de um CFJ criado e administrado pelos próprios jornalistas? Quem está com medo de sequer discutir a questão?


Jornalistas reagem a abusos de empresas
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital

Por Gustavo Barreto, editor da revista Consciência.Net
7 setembro, 2004

Muito tem se falado do "autoritarismo" do governo federal em relação aos jornalistas e ao setor de audiovisual, mas não vêm de Brasília as principais investidas contra a categoria. "O Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil, dois jornais que representam muito na história da imprensa livre no Brasil, estão servindo de partida para uma investida inimaginável contra a diversidade de opinião", afirmou na sexta (27/8) o Sindicato dos Jornalistas.

Segundo os dirigentes, a demissão em massa no centenário JB — 64 no total — revelou "a ponta da trajetória que o sr. Tanure montou para dominar parte da opinião pública brasileira". O Sindicato pretende iniciar uma campanha nacional contra a intenção de Tanure de comprar veículos dos Diários Associados e reduzir o pessoal para equilibrar contas.

No mesmo dia, uma matéria no site jurídico "Consultor Jurídico" informa que empresas jornalísticas de São Paulo respondem a 5.408 reclamações trabalhistas movidas por seus ex-empregados. Desde 2001, foram demitidos pelo menos três mil jornalistas no estado, segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Fred Ghedini.

Ele diz ainda que muitas dessas demissões foram convertidas em outro tipo de contratação. "O jornalista trabalha como empregado, mas recebe como pessoa jurídica". Na segunda, foi a vez da revista IstoÉ anunciar a demissão de cerca de pelo menos 24 profissionais, sendo 20 no Rio e 4 em Brasília.

Apesar disso, alguns fatos mostram que os jornalistas estão organizados. E reagindo. Os profissionais do "Jornal de Londrina" demitidos em meados de agosto já podem comemorar a determinação do juiz Francisco Roberto Ermel, da 2ª Vara do Trabalho de Londrina, que anula demissões de 14 jornalistas. O "JL" deve, segundo a decisão do juiz, anular as dispensas ou reintegrar os demitidos.

Na briga com os proprietários do JB, quem saiu na frente foi a repórter especial Nice de Paula, da editoria de Economia. A indignação com a demissão em massa e com as ilegalidades explícitas anunciadas pela direção, como montar uma editoria só para dois jornais e acabar com o décimo-terceiro salário, levou Paula a pedir demissão no início da noite desta sexta (27/8). "Como boa profissional que é, certamente conseguirá uma rápida e boa colocação no mercado de trabalho. Pela atitude, merece o respeito, o apoio e a admiração de todos os colegas", concluiu o sindicato carioca em nota à imprensa.

Eduardo Ribeiro comenta, apreensivo, no site Comunique-se: "Não há hipótese de se alavancar tiragens e anúncios com o caminho escolhido, com cortes e mais cortes e mais cortes. Ou não é verdade que as tiragens despencaram nos últimos anos e que, com veículos de pior qualidade, elas continuarão despencando?".

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Música de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Ela disse-me assim
", de Lupiscínio Rodrigues
Nota para a seqüencia Midi: *****

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Belo Horizonte, 10 janeiro, 2005

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