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Propaganda e revisionismo histórico
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital
Por Por Gustavo Barreto,
editor da revista Consciência.Net
31 de agosto, 2004
Tentando reformular sua obscura história, a Rede Globo lança nestes dias o livro "Jornal Nacional A Notícia que Faz História" (foto). Além de uma propaganda sobre a suposta importância do programa para o país, o livro traz versões próprias sobre temas que geraram grande indignação popular. No dia 28 de julho de 1998, por exemplo, o JN dedicou dez minutos ao nascimento do parto de Sasha (filha de Xuxa), enquanto que o anúncio do recorde de inflação em São Paulo mereceu apenas 20 segundos. Apenas uma |
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conseqüência, segundo os próporios editores, de uma estratégia de marketing para tornar o noticiário mais "leve". Um pouco antes, em 89, diretores e editores se acusam no livro quando o assunto é a famosa e criminosa edição do debate entre os presidenciáveis Collor e Lula. |
Esses e outros casos de reportagens baseadas em pesquisas de mercado geraram arrependimento e receio frente ao público. E, em vez de pôr fim no marketing para se redimir do passado, a Globo aumenta a dose de propaganda. Está investindo forte na divulgação dos 35 anos do Jornal Nacional, com palestras, debates, matérias especiais e muito mais, escolhendo como um dos principais alvos os jovens jornalistas, que formarão o quadro de profissionais do futuro. Participar de todos os debates dos principais fóruns parece ser o esforço concentrado a partir dessa semana de comemoração.
A Escola de Comunicação da UFRJ, por exemplo, recebeu nesta quarta (1/9) a equipe principal do diário televisivo e a revista "Veja" deu capa para o "acontecimento", afirmando entre outras coisas que o livro é uma "corajosa e transparente discussão" e diz que hoje o Jornal Nacional se concentra "em sua verdadeira vocação a notícia". Revela ainda que o fundador da Globo, Roberto Marinho, considerava que a realização dos comícios pelas Diretas Já, em 1984, "poderia ser um fator de inquietação nacional" e por isso o magnata vetou uma ampla cobertura das manifestações a favor da Democracia. O país quieto, calmo, parado onde estava parecia ser mais importante para Roberto Marinho do que as eleições diretas e a volta a um regime de governo um pouco mais democrático.
Em meio a tantas "auto-críticas"
que os entusiastas do Jornal Nacional ressaltarão, uma é sempre
esquecida: o nascimento do jornal em 1969, amigável ao regime militar
em um de seus mais violentos momentos, e a concentração de propriedade
e de verbas publicitárias, igualmente sustentada pelo governo federal
responsável pela fiscalização das tevês
, permitindo que a Globo mantenha 600 jornalistas em 118 cidades e acabando
com qualquer possibilidade de concorrência.
Para análise crítica, leia a reportagem da Veja:
http://veja.abril.uol.com.br/010904/p_100.html
Onde foram parar os pauteiros?
Enviado pelo autor, Belo Horizonte-MG
Eles, com seus cabelos ralos ou grisalhos, estão nas assessorias de
imprensa, mostrando que fazem falta nos jornais, revistas, rádios e TVs
Por João Rafael Picardi Neto, jornalista
21 de junho, 2004
Eu mesmo não vi. Um sobrinho me contou
que um jovem desceu ou tentou descer, em um caiaque, o poluído Arrudas,
que corta Belo Horizonte, partindo da Praça da Estação.
Não li nem ouvi nada a respeito dessa peripécia.
Por três vezes passei defronte do Palácio da Liberdade e constatei
que, por três vezes, algum veículo subiu no passeio que circunda
o prédio. Em um desses acidentes, na curva da Avenida Cristóvão
Colombo, o carro conseguiu entrar no vão entre um poste e a grade e
acabou fazendo, entre os ferros, um buraco bem grande, atualmente tapado por
uma placa de metal.
Outro acidente resultou na derrubada de um poste quase em frente ao portão
do palácio e, no lugar dele, existe agora um cone. O terceiro acidente,
o pior de todos, foi a derrubada de mais um poste, um pouco além do
portão, seguindo-se a destruição de parte da grade por
um carro, que na "incursão" deixou seus pára-choques
pretos na grama. Também só fui ler a respeito do fato alguns
dias depois, um pouco desconfiado de que um Vectra tivesse condições
de fazer aquele estrago, sem que o motorista nada sofresse.
Os preços do tomate e do jiló, nos sacolões, subiram assustadoramente. Esse fato também não foi explorado pela imprensa. Com a supersafra 2003/2004, faltou sacaria no mercado e, além de ficar difícil encontrar o saco de ráfia, que agora está substituindo o saco de linhagem, o preço da rústica embalagem teve brusca elevação nos preços. Nenhum registro.
Não li nada sobre as dificuldades dos produtores para a armazenagem da safra mineira, que cresceu acima da média nacional. Não seria difícil programar essa matéria, pois a dificuldade existe inclusive em períodos de safras menos expressivos. Falo de um tempo em que a imprensa prestava mais atenção à agricultura.
Cresceu a produção de pão-de-queijo em nível industrial. Nada sobre fecularia ou a produção artesanal de polvilho azedo, matéria que deveria interessar inclusive à TV, pois o assunto gera belas imagens.
Viajando pelo interior, vejo novas indústrias
surgindo às margens das rodovias. Nem uma linha nos jornais sobre elas,
nenhum interesse da TV, até porque, se houvesse, o repórter
teria de se limitar a dizer "aqui surgiu mais uma empresa", "esta
empresa que começou a funcionar há três meses", e
"aqui temos outra empresa que, criada há menos de um ano, já
tem condições de exportar" etc., sem dizer os nomes, sem
mostrar placas. Na verdade, cobertura dessa forma é dispensável.
Notícias positivas, negativas, curiosas, interessantes estão
espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Até a farinha de mandioca,
que comemos no nosso dia-a-dia, tem uma história interessante. O curioso
e o inusitado deixaram de ser notícia ou não existem mais profissionais
para enxergar por esse ângulo?
O pequeno "caldo-de-cana" na MG-50,
depois de anos de dedicação do pequeno sitiante, transformou-se
no grande restaurante. E isso não mereceria registro?
Criada uma cooperativa de pescadores para explorar o pescado do lago de Furnas.
Quem ficou sabendo? Por que não se fala mais sobre os biodigestores
tão badalados na década de 80? Minas se firmava como um Estado
produtor de seringueiras e de cacau. Porque essas culturas não prosperaram
no Estado? Por que importamos todo o trigo que consumimos?
O Estado é o segundo maior produtor
nacional de ovos, porque a maioria do
produto encontrado na Ceasa-MG vem de São Paulo? Por que, nos espetáculos
beneficentes, destinados a ajudar o programa de combate à fome, não
valem como entrada produtos como o fubá, farinha e sal, considerados
indispensáveis para a composição dos alimentos das famílias
pobres? Nunca li, ouvi ou vi na TV a manifestação dos produtores
e distribuidores desses alimentos contra a indesculpável
discriminação. Nenhuma palavra dos nutricionistas sobre a importância
de facilitar para os pobres o acesso ao fubá e à farinha, principalmente.
O que levou os editores dos jornais a pensar que os leitores só se interessam por crimes, política, politicagem, bolsa de valores e o cassino chamado mercado financeiro?
Abro os três maiores jornais da capital. Todos abordam invariavelmente os mesmos assuntos. Apesar de ter trabalhado mais de 13 anos em emissoras de TVs, quase não assisto aos telejornais, mas acredito que também nesses veículos está faltando imaginação. Ou estariam faltando pauteiros?
Quatro perguntas da ABI
Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital
Quatro perguntas de Rodrigo Britto, repórter da ABI (Associação
Brasileira de Imprensa), para Gustavo Barreto, sobre imprensa alternativa
http://www.consciencia.net/2004/mes/06/barreto-alternativa.html#abi
Por Gustavo Barreto,
editor da revista Consciência.Net
25 de junho, 2004
1.
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O
que é a imprensa alternativa e a qual a sua importância?
É ela de informação ou opinião? |
Outro aspecto que não pode ser deixado de lado é a propriedade dos meios de comunicação. Este é um foco que a imprensa alternativa combate: a concentração deste tipo de propriedade. Isto não significa que não se possa ter "imprensa alternativa" em um meio que possua muitas propriedades ou seja, isto é uma realidade, mas não é a regra. Imprensa alternativa remete, antes de tudo, a um posicionamento independente e centrado no ser humano e no respeito pela vida. Algo com o que a maior parte das empresas e governos não se preocupa.
A importância dela reside na necessária independência de opinião, que por sua vez gera a informação mais correta. A diversidade informativa, característica da imprensa alternativa, é outro fator que se faz necessária em uma democracia não-formal.
Esta oposição informação-opinião não existe de fato. Ela é um conceito jornalístico importante, mas não existe. A opinião muitas vezes gera informação.
Se eu acho, por exemplo, que o Estado deve retornar aos seus cidadãos o dinheiro que estes dão ao Estado, eu tenho um foco que me levará a determinadas fontes. É uma opinião gerando informação. Se, por outro lado, eu acho razoável que um funcionário acumule cargos em empresas privadas e órgãos públicos ao mesmo tempo, e que disso saia uma parceria entre os dois, então eu tenho um outro foco.
A informação, por sua vez, também gera opinião. Isso já se sabe, porque esta é a parte que os grandes jornais destacam um desses chavões que vendem credibilidade. Eles se esquecem que o oposto também acontece: a opinião de uma pessoa pode determinar os rumos da informação que recebe.
2. |
Como podem sobreviver estes meios e as pessoas envolvidas em informar fora dos meios ditos 'oficiais', a 'grande imprensa'? |
Esta é uma escolha concreta da imprensa alternativa: trabalhar para viabilizar a indenpendência jornalística, sem aderir a empresas e governos que podem, via publicidade, praticar censura e autocensura, como tem ocorrido. Trata-se de dizer: nós somos independentes o suficiente para formular nossas próprias perguntas.
Citando um exemplo rápido. Os jornais, rádios e tevês perguntam toda semana: o PIB do Brasil vai crescer? Quanto? São perguntas feitas por pessoas alheias ao povo. Somos limitados a este tipo de pergunta. "Sim", "Não", "3,5% do PIB", "Não, eu discordo, vai ser 4% do PIB". É uma discussão vazia, que não serve para nada a não ser ocupar a cabeça das pessoas.
Enquanto empresas e governos oferecem facilidades para "acomodar" os jornalistas, nós oferecemos um amigável "não, muito obrigado, temos algo mais nobre a perseguir". Temos a informação como instrumento de transformação social, e não de transformação pessoal.
3. |
De que forma são sufocados esses meios alternativos pelos inflexíveis conglomerados de mídia? |
De diversas maneiras. A mais visível é pela publicidade. As verbas para os grandes blocos de comunicação fazem com que eles se fortaleçam e continuem a receber mais verbas. É um ciclo sem fim.
Uma outra forma é pela repetição. O já falecido sociólogo Pierre Bordieu lembrou bem que, hoje em dia, os redatores passam mais tempo lendo os jornais adversários do que buscando fatos novos. Há exceções, é claro. Mas em geral é este o mecanismo que faz com que um determinado assunto esteja em todos os meios de comunicação ou em nenhum. E com isso ganham as assessorias de comunicação mais competentes. A indústria das Relações Públicas está dizimando o jornalismo. Ou melhor: está modificando o jornalismo. Mudando conceitos. Querem transformar "release" e "reportagem" em uma coisa só.
Na nossa História, fica claro que é muito mais fácil você absorver seu inimigo do que destruí-lo. As empresas sabem disso e sabem o estrago que a verdade noticiada pode fazer com muitas delas.
Os noticiários, portanto, são muito parecidos. Há uma ou outra diferença, muda-se um sujeito aqui e uma forma de contar ali, mas o leitor comum não percebe essas "mudanças". O tema é o mesmo. Isso prejudica outros temas. A sociedade não ignora a importância deles, principalmente os que se relacionam diretamente às suas vidas.
A renegociação da dívida que inibe os investimentos sociais não é pauta a grande imprensa prefere falar em "austeridade fiscal". A reforma agrária não é pauta a grande imprensa prefere falar na "ameaça das invasões dos sem-terra". Hospitais e Escolas em crise são tidos como casos isolados basta dar voz ao cara da comunidade e ao secretário da pasta que está tudo resolvido. O buraco, sabemos, é mais embaixo.
São muitos os exemplos. O receptor comum, que não tem tempo para analisar minuciosamente a mídia, acaba achando que determinado tema é essencial, pois todos os meios de comunicação estão a falar sobre ele.
Muitos temas sociais estão marginalizados. O exemplo mais desumano que conheço é a infância e adolescência. Analisando a mídia como um todo, parece ser uma questão secundária, atrás de "crescimento econômico" ou de "reformas necessárias". Isto, dizem, é mais importante do que falar sobre a situação das creches.
A Lei das Falências, que limita em apenas 150 salários mínimos os direitos dos trabalhadores, incluindo os resultantes de acidentes de trabalho, e esquece de limitar os direitos das instituições financeiras, é uma "reforma necessária". Esta é a grande imprensa, em grande parte.
Mas, como disse, há várias formas de sufocar a imprensa alternativa. Só há uma coisa impossível de sufocar: nossa resistência pela valorização da vida. A verdadeira imprensa alternativa incomoda pois sua ideologia não está à venda.
4. |
Há
alternativa? A isso deveriam receber que tipo de apoio? Seria o caso do Estado, uma outra voz pública? |
Sim. O maior apoio que um comunicador recebe do seu trabalho é o retorno humano. Isso gera motivação, que por sua vez gera engajamento na viabilização econômica. Não se trata de utopia, portanto. É questão de inteligência ser solidário, dizia o sociólogo Betinho. Hoje, a mídia é cada vez mais interativa, e acho que isso diz respeito às pessoas que estão na imprensa alternativa ou que criam alternativas dentro dos grandes meios. Há essa necessidade de ter o retorno não apenas financeiro.
O "Estado" é uma palavra muito abstrata, porque existe uma série de esferas administrativas, muitas independentes entre si, e por isso é possível achar apoio em muitos lugares do Estado. O que as pessoas muitas vezes esquecem e eu também não isento a grande imprensa deste "esquecimento" é de que o Estado está a nosso serviço. Os governos são nossos empregados, pois é o trabalhador quem banca o Estado por meio dos impostos. Não foi feito para pagar dívidas de empresas privadas ou para isentá-las de impostos.
Dito desta forma nos parece algo óbvio, mas em muitos momentos isto soa "utópico". É verdade, em alguns governos isto é uma utopia. Mas é bom lembrar que este princípio republicano ainda não foi retirado da Constituição. Até lá continuaremos a defendê-lo.
Música
de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Rua Ramalhete",
de Tavito
Seqüência Midi de José Maria Jr.
Nota para a seqüencia Midi: *****
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