Ocidente desorientado
Enviado por Vitor Buaiz, Vitória-ES
Por Frei Betto,
jornalista e frei dominicano
23 janeiro, 2005
Assim como desnorteado significa
perder o norte, direção para a qual aponta a agulha
da bússola, desorientado é a incapacidade de dirigir-se
ao Oriente. O termo provavelmente deriva das expedições
marítimas. O próprio Cabral desorientou-se ao
buscar o caminho das Índias e veio dar nas costas do
Brasil. O resto da história todos nós conhecemos.
Lux ex oriente, reza o antigo adágio, tão bem
explorado por Morris West em seu romance "As sandálias
do Pescador". Agora, no entanto, dissemina-se em nossa
cultura a idéia inversa e perversa, a de que do Oriente
não vem a luz, mas as trevas encarnadas no terrorismo,
nos regimes antidemocráticos (China e Coréia do
Norte) e até nas catástrofes naturais que fecharam
2004 castigando o Japão, as Filipinas e, avassaladoramente,
doze países em torno do Oceano Índico.
A civilização ocidental é tributária
da oriental. Com exceção das monumentais mitologia
e filosofia gregas, foi do Oriente que aprendemos quase tudo
que sabemos, das grandes tradições religiosas
(incluído o Cristianismo, que hoje predomina no Ocidente)
às invenções chinesas (como a pólvora
e o papel) e aos algarismos arábicos.
É ingenuidade pensar que o casamento entre Oriente e
Ocidente é vantajoso porque o primeiro entra com o dote
de sua sabedoria milenar e, o segundo, com a sofisticação
tecnocientífica. Só quem não conhece o
Oriente pode supor que ele é desprovido de avançada
ciência e eficiente tecnologia. A China é mestra
em tecnologia agrícola e, atualmente, é de lá
que vêm os componentes eletrônicos de nossa parafernália
computadorizada. A Índia é avançadíssima
em informática e se destaca como a maior produtora mundial
de cinema, embora a nossa desinformação atribua
esse lugar a Hollywood. No entanto, quantos filmes indianos
são exibidos no Brasil? Não há tecnologia
de ponta, sobretudo nas áreas audiovisual e automotora,
que não tenha marca japonesa. Quase todo o combustível
que abastece o Ocidente vem do subsolo dos países árabes.
A recíproca, porém, não é verdadeira.
Pode-se afirmar que o Ocidente é pródigo em sabedoria?
As duas grandes guerras do século 20 foram desencadeadas
na Europa. A nação mais guerreira do planeta são
os Estados Unidos. Aliás, recordo que Berlusconi, primeiro-ministro
da Itália, por duas vezes, recentemente chamou os países
muçulmanos de atrasados
Uma vista dolhos em volta e o que vemos? O Ocidente progressivamente
secularizado, distante das fontes do mistério e da divindade;
despolitizado, sem a utopia que nos mova na direção
de uma sociedade mais justa; hipnotizado por uma ideologia que
insiste em nos reduzir a meros consumistas, restringindo a nossa
liberdade à escolha deste ou daquele produto, submetidos
ao totalitarismo tão apropriadamente denunciado nas obras
de Hannah Arendt.
Ela tem razão ao distinguir imperialismo e totalitarismo.
O primeiro se constitui num movimento de expansão econômica
e política, contudo respeitando a cultura e os costumes
dos povos dominados. Exemplo disso é a Palestina do tempo
de Jesus, dominada pelo Império Romano.
O totalitarismo se caracteriza não apenas por subjugar
os demais povos a seus interesses. Impõe também
um pensamento único. Se sua ameaça reside nas
armas, sua força dominadora respalda-se na ideologia
disseminada pelos meios de comunicação. Como demonstra
Castoriadis, ela molda o nosso imaginário, manipula as
nossas pulsões, canaliza indevidamente o nosso desejo,
enfim, seqüestra a nossa cidadania para fazer de nós
meros consumidores que, iludidos, preferem trocar a felicidade
pela miragem do sucesso. Fiéis idólatras, veneramos
o mercado como o novo deus a reger vidas de pessoas e nações.
Pela manhã nossos avós consultavam a Bíblia
e o santo do dia; nós consultamos os indicadores financeiros
e as oscilações de nossas aplicações
rentáveis.
Castoriadis tem razão ao ressaltar que o capitalismo,
com as suas bugingangas revestidas de fetiche (a grife), atiça
o nosso apetite insaciável de consumo, induz-nos a submergir
no apego às coisas materiais e abandonar os valores cultivados
pelas gerações anteriores, como a vida comunitária,
a partilha, a amizade e a felicidade.
Talvez o Fórum Social Mundial, que terá lugar
em Porto Alegre na próxima semana, reunindo militantes
da esperança provenientes de quase todos os países
do Ocidente e do Oriente, desperte em nós a consciência
de que não apenas "um outro mundo é possível".
É também urgente e necessário.
Os animais
de estimação dos governos
Enviado pelo autor, Belo Horizonte-MG
Por
Arno Hoffmann, empresário
www.arnohoffmann.com.br
22 fevereiro, 2005
O consumidor brasileiro paga
por dois tipos de produtos: os tangíveis e os intangíveis.
Os tangíveis são os que podem ser vistos e apalpados
antes de serem adquiridos. São objetos como sapatos,
roupas, TVs, carros etc. Ou seja, o consumidor pode avaliar
o produto antes de adquiri-lo.
Os intangíveis são
os imateriais, como serviços advocatícios e bancários,
consulta médica, tratamento dentário, atendimento
veterinário, conserto de carro, de calçados, de
computador, de TV etc. Ou seja, o consumidor só tem condições
de avaliar a qualidade dos produtos intangíveis após
a realização do serviço. A diferença
entre os produtos intangíveis está no nível
de escolaridade exigido pelos governos para os profissionais
exercerem a profissão. Os médicos, dentistas,
advogados, veterinários, entre outros, têm que
ter formação de nível superior e são
regulados por suas classes representativas tais como OAB, CRO,
CRM.
Quem conserta carros, TVs, sapatos,
computadores, e outros de nível correlato, não
precisa provar para os governos nem que é alfabetizado.
Basta saber desenhar o nome para apô-lo no Contrato Social,
requerer o Alvará de Localização e começar
a trabalhar. E quem regula, fiscaliza e julga a competência
desses prestadores de serviço? NINGUÉM. Aos governos
Municipal, Estadual e Federal interessa apenas receber os impostos
gerados por essas pequenas empresas.
Nessa altura da leitura você
está se perguntando: "E aí, o que tem isso
a ver com o título?". Explico. Da forma inversa
de como é facilitada a abertura dessas firmas, os poderes
executivos se sentem à vontade para devassar as pequenas
empresas como se fossem seus animais de estimação.
Qualquer fiscal do Poder Executivo adentra as instalações
da empresa como se fosse o dono, faz cobranças de documentos,
ameaça, dá palpites, aplicam penalidades. Estão
sempre de prontidão para autuarem e nunca para ajudarem.
Nos três níveis de governo (Municipal, Estadual
e Federal), por vezes também no Judiciário e no
Legislativo, somos conduzidos como animais de estimação:
ora colocam coleira em nós e ora cela, ora usam taca
e ora viseira, ora nos dão ração e ora
capim, ora nos prendem e ora nos soltam. E quem faz isso? São
pessoas como nós, que indicamos ou escolhemos e pagamos
seus salários.
Conforme o autor, proprietário
do Centro Automotivo Hoffmann, essa matéria tem dois
objetivos básicos:
- Primeiro lembrar aos
leitores que os funcionários públicos são
remunerados com nosso dinheiro, portanto não permitam
que pratiquem insensatez e abuso no seu ofício;
- Segundo quando necessitar
de produtos intangíveis procurem, antes, conhecer a
idoneidade do proprietário e capacitação
técnica da empresa.
Competir ou cooperar
enviado pelos autores, Viçosa-MG
Exclusivo
para o Jornal dos Amigos
Por
Fernando Antônio Agra Santos e José Jair Soares
Viana, ambos doutores em economia aplicada pela UFV e professores
universitários
E-mail: fernando.agra@ig.com.br) e jjair100@yahoo.com.br
Poucos instantes antes de escrever
este artigo, assistimos a uma reportagem no MG TV 1ª edição
(18/01/2005) sobre pequenas empresas (que num primeiro momento
são tidas como concorrentes) que estão se unindo
em busca de benefícios coletivos, ou seja, reforçando
aquela velha e conhecida máxima que afirma que a união
faz a força. E aí, qual é o melhor: cooperar
ou competir?
Como tudo na vida, tanto cooperar quanto competir apresentam
os dois lados da moeda. Em algumas situações a
competição é salutar, enquanto em outros
momentos a cooperação traz melhores resultados.
Para o consumidor, uma maior competição entre
as empresas é preferível, pois tende a aumentar
o estímulo das empresas na busca de melhores bens e serviços
e de preços mais baixos.
A busca pelo desenvolvimento
tecnológico se faz cada vez mais necessária como
forma de se modernizar, reduzir custos e se consolidar no mercado.
O ruim é que, na maioria das vezes (ou quase sempre),
inovação tecnológica está associada
a um aumento do desemprego. Não gostamos de observar
a tecnologia como vilã. O desemprego tecnológico
é observado em todo o mundo e o empresário que
não se modernizar não conseguirá se manter
no mercado. Isso quer dizer que ao invés de desempregar
parte no presente, desempregar-se-á todos num futuro
próximo, quando a empresa quebrar e não conseguir
mais competir com quem inovou tecnologicamente.
Para adotar tecnologia fazem-se
necessários investimentos e, hoje em dia, o custo do
crédito está caro (por conta das taxas de juros
elevadíssimas), as pequenas empresas acabam sem condições
de se modernizarem e quebram. E uma das conseqüências
disso é que somente as grandes vão se fortalecendo
cada vez mais, restringindo o mercado a poucas empresas enquanto
os consumidores saem perdendo. Formam-se os oligopólios
(estrutura de mercado com poucas empresas) e até monopólios
(estrutura de mercado com apenas uma empresa que produz um bem
sem substitutos próximos), a concorrência diminui
e os preços podem ser elevados. E isso é o que
mais se tem observado na economia brasileira: a concentração
de capital.
O pior é que os setores
mais afetados são exatamente aqueles cujos bens são
de extrema necessidade para a sociedade: alimentos, energia
elétrica, bancos, telefonia, combustíveis etc.
Desse modo, o que as pequenas empresas devem fazer para se manter
no mercado e "fazer frente" às grandes? É
muito difícil, mas existem alternativas capazes de minimizar
os efeitos da situação supracitada. Uma das maneiras
é a cooperação.
Quando algumas pequenas empresas
se juntam para montar uma cooperativa, podem se fortalecer no
mercado, trocar idéias, comprar em maiores quantidades
e com isso barganharem preços menores, auxiliarem mutuamente
etc. Agindo dessa forma, podem praticar preços menores
e conquistar uma fatia de mercado adicional. Vale lembrar que
são as pequenas empresas uma fonte importantíssima
de geração de empregos, renda e arrecadação
de impostos.
Para confirmar tal assertiva,
basta observar estudos e trabalhos do SEBRAE. Pena que o governo
faz pouco caso disso, extorquindo os pequenos empresários,
não oferecendo crédito mais baixo e privilegiando
o "prostíbulo financeiro" com altas taxas de
juros. "Prostíbulo" esse que não contribui
em coisa alguma para a sociedade em termos de emprego e renda
suficientes; somente concentra a renda nas mãos de quem
tem muito dinheiro, que especula em berço esplêndido,
às custas da grande maioria da população,
que tem se tornado cada vez mais pobres.
Na vida, caros leitores, não
tenham dúvidas, essa competição cruel,
como é propagada diariamente, somente tem tornado as
pessoas estressadas, o rendimento no trabalho cai e os resultados
finais não são bons. Empresários inteligentes
sabem que trabalhar sob pressão e com medo não
rende bons frutos. Trabalhar feliz, num clima de harmonia e
cooperação entre os membros de uma equipe, valorizando
as pessoas como seres humanos e não simplesmente como
mais um fator de produção é fundamental
para o sucesso da empresa. Aquele modelo antiquado de excesso
de autoritarismo não funciona mais.
Desenvolvendo essa mentalidade
de cooperação intra-empresarial (dentro da própria
empresa, com os funcionários trabalhando como uma verdadeira
equipe) as empresas que precisarem de uma cooperação
inter-empresarial (com outras empresas) já vão
sair ganhando, pois com a experiência interna, os resultados
externos vêm mais rápidos. Assim, pode-se observar
que uma cooperação pode render frutos em busca
de uma salutar competição, de modo a beneficiar
o lado da oferta (empresários) e da demanda (consumidores).
O enfadonho vestibular
Enviado pelo autor, Americana-SP
Por
Juliano Schiavo Sussi, estudante
E-mail: jssjuliano@yahoo.com.br
O vestibular nada mais é
do que um mero sistema avaliatório ineficaz, que não
necessariamente seleciona os aspirantes a uma determinada profissão,
mas sim os que conseguem decorar fórmulas e conceitos
que, por incrível que pareça, talvez nem sejam
utilizados no decorrer da vida universitária. Esse mecanismo,
adotado por várias instituições de ensino
superior, serve somente para selecionar de uma forma errônea,
pois não avalia realmente a competência do candidato
diante das situações futuras, mas sim o modo como
ele absorveu informações que serão enviadas,
logo após o pernicioso vestibular, a uma cesta de lixo
da memória.
Vale ressaltar que muitos universitários,
após passarem pelas tempestuosas provas ineficazes, descobrem
que o curso que tanto almejavam não era exatamente o
que imaginavam. Há uma grande diferença entre
ser e parecer, a qual é trivial para que a escolha não
seja errônea, porém isso é negado ao individuo.
Ou seja, empenha-se para entrar num sonho e, por falta de informações,
tem-se como saldo um pesadelo.
Para que tal fato não
mais ocorresse, seria de suma importância a criação
de um elo entre universidade e escolas que garantisse a escolha
do vestibulando conforme suas pretensões, ou seja, se
ele gosta de cálculos matemáticos demonstrar-se-ia
a ele como é o estudo de matemática e o que ele
teria que estudar no decorrer do curso. Essa ferramenta aniquilaria,
de certa forma, um erro crasso de escolha, ou melhor, dois erros:
Se uma pessoa escolhe um determinado curso que não tem
afinidade, e ao passar no tão malfadado vestibular, essa
pessoa rouba o lugar de alguém que gostaria
realmente de fazer aquele curso; E, quando isso infelizmente
acontece há ainda um saldo pior que é o profissional
desgostoso com sua profissão e o sofrimento de uma pessoa
que poderia ter feito um melhor aproveitamento do curso.
Porém, tais erros acontecem
porque vive-se num mundo onde o sol é tapado por uma
peneira remendada, e o pior de tudo, que ninguém toma
consciência da existência desses fatos, ou se toma,
finge não existem. Essa é a terra abençoada
pelos vestibulares inúteis, que refletem a situação
do País, ou seja, o vestibular representa apenas uma
mentira diante de várias outras, mas uma mentira leva
a outra, e todas estão interligadas numa malha rodoviária
animalesca. Por isso, cuidado! Você não será
julgado pelo o que você realmente é e pelo o que
almeja, mas pelo que realmente aparenta ser e finge gostar.
Por isso, boa prova.
Contra toda vaidade
Enviado pela autora
Por
Adriana Matos, professora de língua portuguesa, radialista,
assessora parlamentar do dep. Est. Walmir Mota e ex-candidata
a vereadora pelo PPS nas últimas eleições
E-mail:
adrianamatos.am@ig.com.br
Ao pensar não sei se no
nada, talvez no tudo; ou até nele próprio, escreveu
Friedrich Whilhelm Nietzsche: "Não te estufes: a
menor picada te esvaziaria" (A Gaia Ciência; __:19).
Pensando no sonho de um legislativo diferente a partir de uma
lógica voltada para um trabalho constante e horizontal,
tendo como marca singular a presença permanente dos edis
em meio ao povo, resolvi pois apresentá-los Nietzsche.
Vivenciar uma campanha eleitoral me fez despertar para um triste
retrato da Câmara Municipal de Feira de Santana: os vereadores,
em sua maioria, só deixam os seus gabinetes às
vésperas de uma eleição. O mais decepcionante
então foi perceber o torpor em que vivem os nossos eleitores.
Contentam-se com muito pouco, acreditando não serem merecedores
do essencial para viverem com dignidade. Essencial, inclusive,
garantido já no primeiro parágrafo da Constituição
da Bahia, em seu Art. 4: "Ninguém será prejudicado
no exercício de direito, nem privado do serviço
essencial à saúde e à educação",
sem falar em água e luz, também asseguradas aos
'pobres' no parágrafo sexto, do mesmo artigo do documento.
O que me deixou estupefata, no entanto, foi justamente o fato
inaceitável de muitos candidatos a cargos eletivos conseguirem
transformar tais deveres do Estado e Município em favores,
fazendo os eleitores acreditarem que a filantropia paga bem
o voto dado. Filantropia? Não, pensando bem o termo filantropia
não cabe na jogatina eleitoreira, afinal, seu significado,
como apresenta o Moderno Dicionário Enciclopédico
Brasileiro, fala de "amor à humanidade", o
oposto da troca de favores por interesse.
A miséria é a principal responsável por
transformar o eleitor em prisioneiro da submissão, maior
obstáculo para o voto livre. Com o costume plantado ao
longo dos anos, o eleitor, por sua vez, comporta-se de maneira
a não mais acreditar em ideais. Carentes de comida e
conhecimento, tornam-se prisioneiros da ignorância e da
miséria em que vivem e são tratados como verdadeiros
mendigos; são mantidos dentro de uma ordem de subserviência,
sem indagações, como simples coadjuvantes de mais
uma novela eleitoral.
O eleitor feirense não mais acredita em políticos
e nem mesmo conhece o papel deste e sua responsabilidade para
com o município. Acredita sim naquele que dá mais.
Mais guias médicas, mais consultas oftalmológicas,
mais dentaduras e óculos, mais bolas e uniformes de futebol,
enfim, não importa se aquele político não
voltará mais, importante mesmo é que "ninguém
saia perdendo".
Lamentável, triste e quase
desesperador viver numa sociedade que ainda alimenta costumes
coronelistas. Foram, entretanto, todas essas miseráveis
atitudes somadas à miséria em que estão
inseridos os potenciais eleitores, que me tornaram ainda mais
obstinada a desejar a transformação deste quadro,
crendo ainda mais no poder de mobilização daqueles
que apostam e lutam por uma cidade onde vereadores e vereadoras
assumem sua verdadeira posição. Aquela mesma treinada
a cada tentativa de candidatura. A de ir "aonde o povo
está", como cantou Milton Nascimento referindo-se
aos artistas.
Espero, sinceramente, que os nossos edis atuem, mas sem máscaras,
sem vaidades e que alimentem o desejo da proximidade com o povo
dando um verdadeiro salto nesta direção: retirando,
da Casa da Cidadania, o símbolo maior desse distanciamento.
Uma parede de vidro, separando vereador de povo, denota uma
clara incapacidade de escuta, deixando transparecer que a única
voz a ser ouvida é a deles próprios. Mas, vale
a ressalva de Nietzsche - "Não te estufes: a menor
picada te esvaziaria".
Como acredito em mudanças, continuarei meu discurso,
pois o meu objetivo, ao contrário dos vereadores que
insistem com a parede de vidro é converter a sociedade
a um sonho: lutar contra o torpor que toma conta dos nossos
eleitores. Mas, após a eleição? Sim, prefiro
sustentar a todo tempo o que defendeu a revolucionária
Rosa Luxemburg - "...nada nos impede de lutar contra todas
as posições que consideramos equivocadas..."
(LUXEMBURG, Rosa.A Revolução Russa, Petrópolis,
RJ:Vozes, 1991, p.15). Não importa quando, não
importa onde. Importa sim, o por quê. A liberdade de escolha.
A mais perversa barreira ao voto
livre é a ignorância, alvo maior da minha indignação.
Disse ignorância, não ignorantes, pois estes me
causaram, durante a campanha, um emaranhado de sentimentos,
como espanto e admiração. Espanto por tamanha
alienação alimentada por nossos braços
cruzados e vozes silenciosas; admiração por tanta
simplicidade, carinho e dedicação com que recebem
as pessoas em sua casa ou barraco, mesmo sendo aquelas que jamais
retornarão. Ignorantes que me causaram dúvida
no caminho que até então percorria; perplexidade
ao descobrir aquilo que eu imaginava conhecer. Mas também
reforçaram em mim o desejo de superar a vaidade do afastamento,
impelindo-me a superar a velha desculpa do "não
é problema meu" e impulsionando-me a continuar trilhando
o caminho mais curto - mas não menos difícil -
que deveria ser adotado por todo cidadão que ama Feira:
o da responsabilidade social para com este município.
Aos novos vereadores e vereadoras,
cabe a fiscalização do Poder Executivo; a nós
cidadãos, cabe a fiscalização dos parlamentares.
Se a eles e elas cabe não permitir que o senhor José
Ronaldo de Carvalho se afaste das necessidades do povo, a nós
cabe cobrar que cada edil não se distancie da realidade
conhecida durante a campanha. Contra toda a vaidade, contra
todo torpor, contra toda omissão ou palavra que aliena
e que nos faz desacreditar ou desconhecer os nossos direitos.
Esta deve ser a nova ordem.
Quanto aos novos vereadores e
vereadoras, que não se estufem, pois a menor picada poderá
esvaziá-los. Que apostem no combate prático, saindo
da abstração e vivenciando a realidade do povo
que os elegeu. Quanto a mim, continuarei a tentar encontrar
as possibilidades de emancipação do eleitor feirense;
as vias de acesso a este que deveria ser o maior exercício
de cidadania: o voto livre.
Música
de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Wive and lovers"
Nota para a seqüência Midi: *****
Participe
do Jornal
dos Amigos, cada
vez mais um jornal cidadão
O
Jornal dos Amigos agradece a seus colaboradores e incentiva
os leitores a enviarem textos, fotos ou ilustrações
com sugestões
de idéias, artigos, poesias, crônicas, amenidades,
anedotas, receitas culinárias, casos interessantes, qualquer
coisa que possa interessar seus amigos. Escreva para o e-mail:
Se
o conteúdo estiver de acordo com a linha editorial do
jornal, será publicado.
Não esqueça de citar seu nome, a cidade de origem
e a fonte da informação.
Solicitamos
a nossos colaboradores que, ao enviarem seus textos, retirem
as "flechas", isto é, limpem os textos daquelas
"sujeiras" de reenvio do e-mail. Isso facilita bastante
para nós na edição.
Início
da página
www.jornaldosamigos.com.br