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Racismo religioso
Enviado pelo autor, Vila Velha-ES

Por Geraldo Fernandes Pignaton, médico sanitarista,
bacharel em direito, ex-seminarista CSSR

E-mail: gpignaton@terra.com.br

25 outubro, 2006

A adoção da escravidão negra e a chegada dos jesuítas ao Brasil, não por acaso, são contemporâneas. A Companhia de Jesus adotou a escravidão negra como alternativa à dos índios, cuja escravização inviabilizava a catequese, ao contrário dos negros.

Amparados em bula papal que permitia escravizar negros pagãos, em troca da salvação de suas almas (pelo batismo e cristianização) os jesuítas protagonizaram cenas surrealistas de batismos grupais, à revelia dos batizados que, por economia burocrático-religiosa, recebiam, por lotes, o mesmo nome; o do santo do dia ou, por retaliação (picuinha religiosa), o de santos fundadores de ordens religiosas rivais (Benedito, Francisco ou Domingos) que com eles disputavam poder em Roma. Uma vez batizados, o problema seguinte era fazer o escravo deixar a crença negra (inferior) e adotar a crença branca, cristã (superior). Para isso os jesuítas se valeram do sincretismo religioso e da catequese músico-teatral (autos e congo), de forma similar à catequese indígena.

Vivera, na Itália, um pobre ser humano, filho de pai mouro (africano) com uma jovem italiana, que por ser mulato e provável filho de mãe solteira, cresceu estigmatizado, humilhado e desprezado. Sem maiores perspectivas na vida, o máximo que conseguiu foi entrar para um convento beneditino, de cujo patriarca (então ridicularizado) recebeu o nome. Pela sua condição, nunca passou de um mísero e insignificante irmão leigo, serviçal, subserviente, encarregado das tarefas consideradas aviltantes e inferiores pela bonomia monastérico-esclesiástica da época.

Criado na discriminação, desde a infância, este monge acostumou-se a ver e aceitar tudo com normalidade; sentia-se bem assim; era feliz; tratava com bondade e socorria, com solidariedade, pessoas atingidas por infortúnios menores. Acabou por ser considerado santo (São Benedito). Foi neste modelo de inferioridade subserviente, premiado enfim com o Céu, que os jesuítas buscaram o instrumento de dominação e catequese negra: Benedito, o protótipo do escravo ideal. Bastou maquiá-lo de Preto Velho de Angola.

Séculos depois, quando expulsos, a crença negro-africana (assim como a indígena) estava totalmente erradicada das áreas de influência jesuítica. São Benedito gozava de alto conceito e elevado status religioso; era padroeiro e modelo de salvação para os escravos, com direito (até) de carregar no colo o filho de Senhor do Céu, o Menino Jesus. Foi quando vieram para o Brasil, ocupar seu vácuo religioso, monges rivais, os beneditinos (da mesma ordem religiosa que, lá na Itália, tanto desprezara e humilhara nosso Benedito). Logo descobriram que, aqui, o nome Benedito chegara primeiro e já tinha outros donos: os escravos.

Constrangidos e inconformados em ver o nome de "Benedictus" de Núrcia (480-547 DC), "santo reformador" de sua ordem, identificado com escravos, confundido e rebaixado como um "santo de senzala", na boca da "gentalha" segregada; constatando, a contragosto, a irreversibilidade do processo cultural arraigado; os beneditinos decidiram reciclar, para São "Bento", o nome de seu patriarca. Como nada se sabia, por estas bandas, da história da Ordem deles (Ordo Sancti Benedicti-OSB); e demais, discriminar fosse regra; o episódio passou despercebido, virou curiosidade histórica, detalhe pitoresco.

O problema ressurgiu, agora, com a eleição do atual Papa, que adotou o título honorífico, em latim, de Benedictus 16 (Benedectus 16, em italiano). Aqui no Brasil, porém, a CNBB, baluarte na luta contra a exclusão leiga, traduziu-o para Bento 16, denominação adotada pela mídia e até mesmo, oficialmente, pelo Governo Brasileiro. Benedictus, etimologicamente, é um substantivo (nome próprio) originário do latim vulgar, formado pela contração do advérbio Bene (bem) com o particípio passado Dictus (=dito, falado). Bentus, também é particípio passado, porém do verbo Benzer (=benzido, abençoado, bento). Confundir "bem dito - bem falado" com "benzido, abençoado, bento", pode parecer algo de somenos importância, questão semântica.

Mas à luz da História representa a reafirmação, ratificação, resgate e assunção de um procedimento discriminatório (que hoje se constitui um ato delituoso), a expressão do mais puro racismo religioso: Afinal, assim como São Bento, Papa não pode ter nome de Preto; ainda mais em se tratando de um papa alemão, ariano, retrógrado; que foi da juventude hitleriana; ex-artilheiro da temível Flak (bateria antiaérea nazista); ex-chefe do Santo Ofício (antiga Inquisição); que perseguiu, cassou e calou Leonardo Boff; que desfraldou na religião a bandeira nazista da anti-homossexualidade; e que exumou as cruzadas antiislâmicas.

Por ironia este polêmico e desastrado Papa, ignorando os antecedentes históricos (é obvio), escolheu logo o nome de um "santo preto" para titulo honorífico. Bento 16, na mais erudita tradução dos Jesuítas do Século 16, é de fato e direito Benedito 16, para constrangimento da CNBB. Quem duvidar; consulte a Enciclopédia Britânica. Além da "peça" do destino, do tiro pela culatra, fica ainda uma dúvida: será Deus escrevendo por linhas tortas ou, como reza a lenda, um castigo de São Benedito aos orgulhosos?


A caverna e nossa sociedade
Enviado pelo autor, São Paulo-Capital

Renato Ribeiro Velloso, pós-graduado em Direito Penal Econômico Internacional, pelo Instituto de Direito Penal Econômico e Europeu da Universidade de Coimbra, Portugal; cursando MBA em Economia e Direito do Sistema Internacional, pela Universidade de São Paulo - USP

8 setembro, 2006

A metáfora narrada por Platão em "A República", cheia de mitos, foi criada para compreendermos a realidade em que a humanidade se encontra, ou seja, estamos sujeitos as sombras e vê-las como a verdade.

Em seu livro ele relata um grupo de pessoas que vivem no fundo de uma caverna, todos foram presos na infância, imobilizados por correntes, sentados de costas para a entrada da caverna, sem poder se moverem olhando sempre para o fundo da caverna. Assim como a sociedade atual, o povo do subterrâneo, tem a sua existência dominada pela ignorância, se contentando com a luz projetada nos objetos, que formam sombras que surgem e desaparecem diante de seus olhos. As pessoas precisam sair da caverna para chegar a um conhecimento superior, abrindo a mente para novas experiências, para novos horizontes, podendo assim crescer interiormente e politicamente.

Mas com isso Platão nos mostra como é difícil e doloroso chegarmos ao conhecimento, se formos libertados e arrastados para longe de nossas cavernas, nos sendo obrigado a percorrer caminhos indefinidos, para romper a ignorância. Em primeiro instante a luminosidade não nos permitira enxergar nada, nesse instante não iríamos conseguir capturar nada em sua totalidade, a princípio, entenderíamos as sombras, porém com a persistência, finalmente poderemos ver os objetos em sua totalidade, com perfis definidos, conseguindo distinguir os próprios seres.

Mas esta nova etapa não consiste apenas em descobrir, mas ir a busca de algo superior, como contemplar idéias que regem as sociedades, conhecendo a verdade e reunindo a inteligência, a moral e a lógica. Assim logo compreenderíamos que as sombras, as quais estamos acostumados, são as coisas que consideramos reais, e que a luz são as idéias verdadeiras, o conhecimento verdadeiro. Assim notamos a passagem da ignorância para a opinião e depois para o conhecimento. Podendo contemplar as idéias, tornando-se apto para descobrir que a luz representa a razão.

Então quando voltamos para a caverna, nossos antigos companheiros que continuaram na escuridão da caverna, zombariam de nossas idéias, pois imaginam que o mundo que conhecem é o único mundo verdadeiro e o pior, não querem se livrar dele, isso porque estão presos a um método incorreto de ver a realidade e só conhecem aquele mundo. Imaginam essa pessoa como um egocêntrico, um extravagante, ou um doido como foram considerados a maioria dos pensadores.

Mas se alguns o ouvissem, e também decidissem sair de suas cavernas rumo a realidade, não haveria tanta desigualdade, os sábios não devem apenas socializar os conhecimentos, mas devem sim, ser chamados às regências das sociedades. O homem justo em nada difere do estado justo, a mesma moral para o homem e o Estado prudência, coragem e temperança.

O governo das cidades cabe aos mais instruídos e a aqueles que manifestam mais indiferença ao poder, pela simples razão de serem os únicos a vislumbrar o belo, o justo e o bem. Aquele que vê o bem em sua essência vive na realidade. O verdadeiro líder é aquele que conduz sua alma racionalmente para se dirigir ao bem verdadeiro, utilizando à energia do amor, podendo assim compreender a justiça, a honra, a fidelidade, ou seja, todas as virtudes supremas.

Bibliografia:

  • Platão, A Republica. Supervisão editorial Jair Lot Vieira. Bauru - 2001
  • Chalita, Gabriel. Vivendo a Filosofia - Filosofia antiga 1. São Paulo - Minden - 1998

O estranho jogo do silêncio
Enviada pela autora, Alegre-RS

 
Por Sandra Silva, socióloga, professora
e acadêmica de direito
E-mail: sandra.silva@brturbo.com.br
 

3 setembro, 2006

"Muitos valores vieram a parecer antiquados: falar a verdade, manter a palavra. [...] Que triste época esta, quando a virtude é rara e a maldade está no cotidiano". Assim falou Baltasar Gracián, um jesuíta espanhol em 1647 na obra "A Arte da Prudência".
O pensamento do autor cruzou a linha do tempo totalmente incólume. Não ganhou cabelos brancos, rugas de pele e nem perdeu a atualidade.

O Brasil é o retrato explícito da falta de virtude e da presença da maldade que se traduz na violência que se esparrama em nosso pequeno jardim como aquela erva daninha que vai triturando a grama até consumi-la totalmente deixando apenas uns raminhos esquálidos e sem cor.

Cálculos matemáticos têm me tomado o tempo. Resolvi conferir percentuais de pesquisas eleitorais e excursionar um pouco mais nesses meandros. E aí começaram as dúvidas dilacerantes que estão corroendo meus neurônios. Ainda que virtualmente, mantenho contato direto e diário com o Brasil do norte, do nordeste, do sudeste, do centro-oeste e do sul. O que me contam não faz sentido com o que vejo na mídia. E isso está me dando uma tremenda dor de cabeça.

Somos hoje 126 milhões de eleitores. Usando de percentuais bem pequenos, vamos fazer alguns cálculos hipotéticos dando percentuais ínfimos para as simulações. Se tivermos apenas 10% de votos nulos e brancos e 15% de abstenções vão sobrar 95.5 milhões de votos válidos. Desses, o candidato Cristóvão Buarque e outros menores vão apanhar cerca de 2.5%, restando, então, 93 milhões de votos, aproximadamente. A senadora HH deve abocanhar um percentual de 13%, sobrando mais ou menos uns 71 milhões de votos para dividir entre os senhores Inácio e Geraldo. Na eleição de 2002, o candidato Inácio alcançou, no primeiro turno, algo em torno de 39 milhões de votos do universo de 115 milhões que era o eleitorado brasileiro.

Feitos estes cálculos voltam a me assombrar incertezas, pois em torno de oitenta e cinco a noventa por cento de aposentados dizem que não votarão no senhor Inácio. Os militares da ativa e os da reserva, também negam essa escolha, ainda que o percentual maior esteja naqueles que já deixaram a caserna. Os funcionários da Varig, incluindo os pilotos de quaisquer aeronaves também negam o voto no candidato Inácio. A classe média afirma, de pés juntos, que também não recairá na pessoa do senhor Inácio a sua escolha. Pequenos e médios empresários e produtores rurais e parcela expressiva do funcionalismo público afirmam, peremptoriamente, que não depositarão seu crédito na reeleição do candidato presidencial.

É muita gente manifestando-se para um lado e as pesquisas correndo em outra direção. Uma coisa inexplicável. Não se pode, contudo, desconhecer as parcelas sociais favoráveis ao candidato que desponta nas pesquisas, tais como banqueiros e mega-empresários, os que alcançaram empregos comissionados e os favorecidos aqui e acolá por esta ou aquela circunstância e os convictos de militância partidária. Finalmente, a chusma populacional receptora dos vales mensais que modernamente receberam o nome de Bolsa.

Em face de tudo isso, precisamos ter muito comedimento buscando evitar tudo o que pode ser fonte de erro ou de dano. O Brasil ficará melhor se não referendar exploradores, falsários e delinqüentes da boa-fé alheia. Este é o tema de casa para os virtuosos.

Ver edição anterior


Música de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Marakeba"
Nota para a seqüência Midi: *****

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Belo Horizonte, 27 novembro, 2006