Modelo intervencionista tenta reação
após fracasso no Oriente Médio

Enviado pelo autor, Rio de Janeiro-Capital

Por Gustavo Barreto
E-mail:
gustavo@fazendomedia.com

Fonte: Fazendo Media
27 setembro, 2007

Deve chegar em algum momento ao Brasil o documentário "No End in Sight", de Charles Ferguson, sobre o início da invasão estadunidense do Iraque. Em vez de "invasão estadunidense", o articulista Caio Blinder, em artigo no portal Último Segundo, prefere "ocupação americana". Já no título, Blinder deixa claro que está lá não apenas para divulgar o documentário, mas também para novamente atacar o documentarista Michael Moore, a quem chama de "apelativo", "incendiário" e dotado de uma "irritante exuberância satírica".  
No End In Sight defende "guerra justa e bem planejada"

Segundo Blinder, Ferguson fez um "documentário lúcido, sóbrio, conciso e com narração neutra". Depois, como quem diz que Moore é o avesso de tudo isso, afirma que "uma mensagem não precisa ser sarcástica ou bombástica para ser incendiária". Vamos avaliar, então, o que Blinder classifica como "lúcido, sóbrio, conciso e com narração neutra".

Para levantar a moral de Ferguson, Caio Blinder inicia o texto dizendo: "De formação acadêmica, ele fez fortuna nos tempos da bolha da Internet dos anos 90 (vendeu sua empresa de software para a Microsoft) e bancou do próprio bolso os US$ 2 milhões necessários para o documentário". E logo depois: "Ferguson apoiou a invasão em si e não se concentra nos seus motivos. Seu interesse clínico (e não cínico) é mostrar como e porque as coisas não funcionaram na ocupação" (referência do artigo e do filme ao final do artigo).

O argumento de Blinder - enxergado na obra de Ferguson - está centrado no fato de que o que faltara, na verdade, para a "ocupação dar certo" foi atenção para os especialistas sobre a melhor forma de invadir um país. "Os americanos levaram dois anos para planejar a reconstrução da Alemanha depois da Segunda Guerra. Levaram menos de 60 dias no caso do Iraque, num projeto a cargo de pessoas que não conheciam a língua e a cultura do país", diz Blinder no artigo. Desta forma, perceba que Blinder reforça a a tese de que um think tank, com experts devidamente munidos de informações iluminadas, sabem o que é melhor para o Iraque do que o próprio povo iraquiano.

É uma defesa velada (ou até explícita) do modelo intervencionista. Blinder insiste: "O documentário argumenta que a insurgência e a escalada de violência poderiam ter sido suavizadas ou contidas se gente com experiência tivesse influenciado os eventos". Fecha o artigo considerando que este fato - não ouvir os experts, que imaginem terem o poder de salvar os iraquianos deles próprios - é uma "negligência criminosa do governo Bush". No trailer, disponível em http://noendinsightmovie.com, fica claro que as "vozes dissidentes" que criticam as "decisões erradas" da administração Bush são todas... estadunidenses.

Um exercício de isonomia

Seguindo o raciocínio lógico, de acordo com os preceitos da lucidez, sobriedade, concisão e narração neutra, vamos imaginar uma situação semelhante.

Partindo do fato de que 80% da população mundial discorda das políticas de Washington quanto às intervenções, que alimentam o antiamericanismo em todo o mundo, será que os Estados Unidos, do mesmo modo, aceitariam que um think tank formado por franceses, iraquianos, ingleses, latino-americanos e intelectuais de diversas nações pensassem durante dois anos (seguindo o modelo citado pelo documentarista) a melhor forma de intervir em Washington de forma a obrigar que os EUA parassem de financiar o terrorismo na Turquia ou na Colômbia , por exemplo? Estariam de acordo com a proposta?

Permanece, ao final, o ponto pacífico entre quase as religiões do mundo: tratar os demais como a si próprio.

Existiriam medidas interessantes ocorrendo a partir desta máxima. A liberalização do controle firme que o governo estadunidense faz por meio das agências reguladoras acabaria, de acordo com as altas recomendações americanas para países em desenvolvimento e menos desenvolvidos. Poderíamos privatizar todas as empresas de petróleo estadunidenses, como a Shell por exemplo, disponibilizando capital para as empresas árabes ou latino-americanas. Ficariam igualmente na mão do capital chinês, venezuelano ou de quem as quer comprar.

Outra medida imediata seria reduzir a quase zero os subsídios agrícolas. Outra que não poderia faltar seria o FED (o banco central dos EUA) aumentar os juros estadunidenses de 5% para 16% ao ano. A partir de um estudo acerca do povo mais importante para a economia mundial, Bush e sua equipe econômica aceitariam negociar a adoção do Renminbi, a moeda da República Popular da China, como padrão em alguns países, bem como o Euro em outros.

Ou então - voltando ao desgastado cenário de ausência de um entendimento "lúcido, sóbrio, conciso e com narração neutra" acerca do cenário internacional - poderíamos simplesmente deduzir que este documentário é, provavelmente, mais uma peça importante para a propaganda de Washington, que faz fileira com as centenas de documentários louvadores da guerra e do desrespeito à soberania das Nações e dos povos. Um pouco mais "à esquerda" no cenário de extrema-direita da política estadunidense, mas nada lúcido.

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Trailer do filme "No End In Sight", de Charles Ferguson
Caio Blinder: "Sem apelação Michael Moore, filme sobre Iraqueé devastador"


A segunda prévia da eleição dos EUA
Seleção do Jornal dos Amigos

Nenhuma surpresa: dúvida só entre uma mulher e um negro

Por Helio Fernandes, da Tribuna da Imprensa

8 janeiro, 2008

O desperdício e o disparate dominaram o dia seguinte na prévia de Iowa. E continuam para hoje em New Hampshire. As prévias dos Estados Unidos são complicadas, mas, apesar da surpresa da afirmação, são democráticas. A participação dos eleitores é muito grande, em todo o processo que termina em novembro.

Iowa e New Hampshire são tradicionais, vá lá, mas não decidem nada. Tem o lado bom que é a presença da mídia, que dá dimensão aos candidatos, mas não dá votos. Importante mesmo é a chamada "superterça", em 5 de fevereiro. Robert Kennedy foi assassinado no exato momento em que ganhava a prévia da Califórnia, aí sim um perigo. (Para os outros). Ninguém assassinaria Robert Kennedy por vencer em Iowa ou New Hampshire, embora o assassinato político-eleitoral nos EUA seja uma tradição. E uma constante.

Agora a análise que não fizeram (ou usaram a deturpação, a desinformação, a descontração), sobre a primeira (terça passada) e a segunda (hoje) caminhada para a eleição propriamente dita.

Estão aparecendo nomes que não têm prestígio ou popularidade, nem mesmo nos Estados Unidos. Aliás, a falta de liderança no mundo inteiro é total e absoluta. O último presidente estadista que os americanos elegeram foi Franklin Roosevelt. Isso em 1932 (há 75 anos), e ficou até morrer.

Podem especular à vontade, a disputa se dará entre Obama e Hillary. O que obtiver a indicação Democrata (a chamada "nomination") será o presidente. A mesma coisa que ocorreu quando Lincoln (Republicano) era candidato ou o (Democrata) Roosevelt. Na verdade existe pouca diferença entre esses partidos.

(Por causa disso, Lincoln em 1860 já pensava em fundar o terceiro partido, tinha até nome, Progressista. Que Theodore Roosevelt, em 1912, tentou copiar, quase ganhou. Para isso, Lincoln, Republicano, convidou para vice o Democrata Andrew Johnson, governador do Tennessee, que acabou ganhando em 1865 3 anos e 11 meses de mandato. Só não conseguiram por causa da guerra civil e do assassinato de Lincoln).

Agora, fingem uma renovação que não existe. Os Republicanos, "emparedados" entre os desconhecidos Huckabee, Romney, Fred Thompson, John McCain, Ron Paul, não sabem o que fazer. Ninguém acredita no ex-prefeito Giuliani, conhecido demais. Ou no prefeito Bloomberg, que ameaça disputar como independente, gastando 1 bilhão de dólares. Isso ele gasta mesmo, mas não ganha.

Nenhum independente jamais foi presidente dos EUA, e esse direito vem desde a Constituição de 1788. Os outros Republicanos não ganham mesmo que disputem sozinhos.

Assim, com quase 1 ano de antecedência, quem sabe ver já viu, o futuro presidente dos EUA será o que parecia impossível: um negro ou uma mulher. Mas não digam que isso é renovação, eleição é coisa séria e não deve provocar ou estimular gargalhadas.

Qual a renovação que pode ser esperada da parte de Hillary Clinton? Esteve 8 anos na Casa Branca, e sua trajetória aponta para tudo, menos renovação. Quando anunciam pelos microfones, "agora Bill Clinton, o grande líder da candidata Democrata", e eles se abraçam apaixonadamente, todos se lembram do que ela passou por causa dele. Se renovação tem alguma coisa a ver com paciência, é com ela mesma.

Dona Hillary tem que decidir o próprio destino, colocado nos dois opostos. Ela tem, s-i-m-u-l-t-a-n-e-a-m-e-n-t-e, a predominância em dois pontos. O maior eleitorado fixo e a maior rejeição.

Barack Obama tem todo o equipamento para ser uma renovação, menos a vontade. Não participou decisivamente de coisa alguma, um pouco pela idade, mas muito, ou melhor, muitíssimo pela espantosa vocação de "não hostilizar" nada nem ninguém. Os negros já compreenderam que não ganharão nada com ele.

PS - O paradigma, que palavra, ou o "correspondence" de Obama, sem surpresa alguma, é o Bush Filho. Que destino o desse negro que parecia uma esperança.

PS 2 - E Dona Hillary fará o quê? Tentará se vingar do já então "primeiro damo?".

PS 3 - Em Iowa nada foi decidido, o mesmo acontecerá hoje em New Hampshire. Apenas festa ou "perfumaria", movimentando dinheiro e interesses. Mas longe de qualquer previsão de vitória para Hillary ou Obama.

Ver edição anterior


Música de fundo em arquivo MID (experimental):
"Saudade fez um samba", de
Carlos Lyra e Vinicios de Morais
Nota para a seqüência MIDI: *****

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Belo Horizonte, 8 agosto, 2008

Política internacional