O que realmente aconteceu na
proclamação da República

Enviado pelo Núcleo de Difusão da Memória Brasileira

Esclarecimentos sobre a intimidade dos partícipes no evento histórico

Por Paulo Gomes Lacerda, ensaista
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Fonte: Núcleo de Difusão da Memória Brasileira - Brasil Imperial
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6 novembro, 2006

Há 117 anos, num dia de 15 de novembro, sem qualquer participação popular e sequer o apoio de grande parte da elite da época, proclamava-se a República, um fato político que deixou marcas profundamente trágicas na história brasileira.

Relatos históricos hoje melhor conhecidos contam que, naquele confuso dia de 1889, comandando algumas centenas de soldados pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, o marechal Deodoro da Fonseca, tido como fiel a D. Pedro II, pretendia com sua movimentação apenas derrubar o então chefe do Gabinete Imperial (equivalente hoje ao cargo de primeiro-ministro), o visconde de Ouro Preto, que, por sua postura liberal, desagradava aos militares conservadores. Tanto assim que, à frente da tropa, sua primeira saudação em alta voz foi “Viva sua majestade, o Imperador”, e não uma saudação à república, instituição que surgiria oficialmente poucas horas depois.

Segundo farta documentação a respeito desse episódio, a decisão final dos conspiradores de derrubar o Imperador D. Pedro II aconteceu tão-somente na madrugada do dia 15 de novembro, quando um oficial republicano, o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, comandante das tropas que cercavam o Paço Imperial, convenceu Deodoro a proclamar a República, relatando-lhe nada menos que inverdades. Conforme se sabe hoje, esse militar teria dito a Deodoro que o novo Presidente do Conselho de Ministros, supostamente indicado pelo Imperador e que ocuparia o posto no dia 20 de novembro, quando também os deputados eleitos tomariam posse, seria Silveira Martins, inimigo mortal do Marechal.

Deodoro e Silveira se rivalizavam na disputa amorosa pela Baronesa do Triunfo, viúva muito bonita e elegante, de acordo com os registros da época e que sempre preferiu Silveira Martins ao marechal. Na verdade, o novo Presidente do Conselho de Ministros seria o Conselheiro José Antônio Saraiva, diplomata de renome que já chefiara o Gabinete Imperial duas vezes, entre 1880 e 1882 e por um curto período no ano de 1885.

Disse-lhe também o major Sólon que uma suposta ordem de prisão contra seu chefe havia sido expedida pelo governo imperial, versão que convenceu finalmente o velho marechal a proclamar a República no dia 16 e a exilar a Família Imperial sob as sombras da noite. Assim se evitaria que a expulsão de D.Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel e de seu marido, o Conde d´Eu fosse impedida pela população mais empobrecida, em cujo meio a família imperial era muito estimada por seus atos de caridade.

Nada houve de heróico nesse trágico acontecimento, considerando-se que a República só veio por pressão de alguns fazendeiros escravocratas, insatisfeitos com a Lei Áurea e com as propostas não aceitas pelo governo imperial para que eles fossem indenizados pela alforria de seus escravos, entre outros acontecimentos relevantes. Para deixar isso mais claro, basta mencionar que entre os deputados eleitos em 1889, que tomariam posse no dia 20 de novembro, só havia dois republicanos, o que evidencia bem o caráter de golpe militar e até entreguista da proclamação da República.

O fato foi saudado com euforia pelo enviado extraordinário do Departamento de Estado Norte Americano, Robert Adams Jr., que, ao escrever relatório sobre os acontecimentos, deixou isto bem patente: “A família imperial partiu hoje. O Governo de facto com o ministério foram estabelecidos, perfeita ordem mantida, importante reconhecermos a república primeiro. Adams” (“Imperial family sailed today. Government de facto with ministry established perfect order maintained, important we acknowledge republic first. Adams." - In SILVA, Hélio: "1889: A República não esperou o amanhecer", Porto Alegre: LP&M, p.371). Nesse mesmo dia, navios norte-americanos navegavam pelas águas territoriais brasileiras, para auxiliar o governo provisório da nova República na "imposição da ordem", numa provocação agressiva à Marinha do Brasil.

E mais: o primeiro hino nacional do Brasil republicano foi a Marselhesa, copiado da França; e sua primeira bandeira da nova ordem foi uma réplica auriverde da bandeira norte-americana. Até hoje o Brasil paga o preço por copiar outros países imaginadamente ”mais desenvolvidos” ao invés de implantar seu próprio modelo nacional, que se desenhava sob a bandeira do Império, dentro da Monarquia parlamentarista!

No contraponto dessa nada heroicidade dos golpistas, D. Pedro II, pouco depois de chegar a Portugal a bordo da fragata Alagoas, da Marinha Brasileira e no início de seu exílio, como homem de princípios morais e éticos incomuns recusava-se a aceitar os termos de um decreto do governo provisório republicano que incluía a transferência à sua pessoa de cinco mil contos de réis (equivalente hoje a 4,5 toneladas de ouro ou aproximadamente R$ 2 bilhões). Enfatizando que esse dinheiro pertencia ao povo brasileiro, em seu lugar ele pediu que o substituíssem por apenas um travesseiro cheio de terra brasileira, onde poderia repousar sua cabeça, quando dormisse e também quando morresse.

Nasceu a República, além da conspiração urdida por grupos prejudicados, entre outros fatos, por causa da abolição da escravatura, também pelas invencionices de um major, a espada de um marechal, e por que não dizer, em meio à disputa de egos feridos por amores mal correspondidos. Lembramo-nos de sábias e proféticas frases do escritor Monteiro Lobato em texto onde ele expõe os descalabros republicanos que principiavam a fincar suas raízes no Brasil, que “tinha um rei. Tem sátrapas. Tinha dinheiro. Tem dívidas. Tinha justiça. Tem cambalachos de toga. Tinha Parlamento. Tem ante-salas de fâmulos. Tinha o respeito do estrangeiro. Tem irrisão e desprezo. Tinha moralidade. Tem o impudor deslavado...”. Um discurso absolutamente atual esse de Monteiro Lobato!

Passaram-se décadas antes que os despojos da Família Imperial pudessem retornar ao Brasil e seus descendentes aqui colocassem seus pés. Os restos mortais de D. Pedro II, falecido em 3 de dezembro de 1891, num singelo hotel de Paris; da então Imperatriz Teresa Cristina, que morreu pouco depois de chegar à cidade do Porto, em Portugal, no começo de seu exílio; e da Princesa Isabel, que partiu deste mundo em Paris em 14 de novembro de 1921, bem como de seu marido, o Conde d´Eu, falecido em 1922 a bordo do navio que o trazia de volta ao Brasil, repousam hoje no Panteão da Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis (RJ).

Deodoro, nascido na cidade de Alagoas (atualmente Marechal Deodoro, AL) em 5 de agosto de 1827, morreu em 23 de agosto de 1892 na cidade do Rio de Janeiro. Como sua última vontade pediu que o sepultassem em trajes civis, no que não foi atendido e seu enterro teve toda a pompa e honras militares. Os motivos para seu derradeiro desejo ele os guardou para sempre.

Em 15 de novembro, o que temos para comemorar?


O Fascismo na Itália
Enviado pelo autor, Curitiba-PR

Somente os ignorantes têm opinião formada sobre tudo
Ricardo Bergamini

Por Ricardo Bergamini, professor de economia
Contato: (48) 4009-209, ricoberga@terra.com.br, rbfln@terra.com.br
Portal: http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini

Causas

Sentimento de nacionalismo humilhado (desde a anexação da Tunísia, pela França,
em 1881, e a derrota de Ádua, perante os abissínios, em 1890); sentimento de revolta –após a I Guerra Mundial– contra o não cumprimento integral das promessas dos Aliados. Os italianos receberam menos do que esperavam; inflação, carestia da vida, especulação dos aproveitadores. Queda das exportações e dos negócios. Caos econômico; crescimento do partido socialista (1/3 da Câmara dos Deputados, em 1919). Radicalismo econômico e político dos socialistas (operários socialistas assumem o controle de quase 100 fábricas); influência da filosofia hegeliana: supremacia do Estado. “Nada pelo indivíduo, tudo pela Itália”; fraqueza do regime parlamentar: queda freqüente dos ministérios, pela falta de maioria na Câmara. Luta constante entre os dois maiores partidos. O Socialista e o Popular (católico).

A Revolução Fascista

O movimento fascista começou em 1919. Sua primeira doutrina redigida por Mussolini (antigo agitador socialista), era assaz radical: “sufrágio universal, a abolição do Senado, a instituição legal da jornada de 8 horas, um pesado imposto sobre o capital, o confisco de 85% dos lucros de guerra, a aceitação da Liga das Nações, a oposição a todos os imperialismos, e a anexação do Fiúme e da Dalmácia“.

Em 1920, essa plataforma foi substituída por uma de caráter mais conservador. No novo programa desapareceram os argumentos em prol duma reforma econômica. Condenava-se apenas, dubiamente, “o socialismo dos políticos”, e reclamava-se o cumprimento de algumas promessas feitas pelos aliados durante a guerra. Nenhum dos dois programas trouxe algum prestígio apreciável aos fascistas. Em 1922, quando se apoderaram do governo, os fascistas só possuíam 35 deputados, na Câmara – num total de 500.

Mesmo assim, apesar do seu reduzido número, os fascistas – disciplinados e agressivos – marcharam sobre Roma e tomaram o poder. A famosa “marcha sobre Roma”, dos camisas-pretas (milicianos fascistas), foi apenas simbólica: eles só se arriscaram depois que o rei Vitor Manuel se negou a decretar o estado de sítio, como reclamava Facta, o último democrata.

Em 28 de outubro de 1922, sem disparar um só tiro e sem oposição da polícia, do exército ou do governo, 50 mil camisas-pretas “ocuparam” Roma. O primeiro-ministro demitiu-se e Mussolini foi convidado pelo rei a organizar um novo gabinete. Assim, em meio ao caos do pós-guerra, e pela ausência, em certas camadas do povo italiano, de apego ao regime democrático, os fascistas assumiram o poder, no qual ficaram durante 21 anos.

Características do Fascismo italiano

Estado corporativo – Fundamentos econômicos, mas subordinação do Capital e do Trabalho ao Estado. Proibição de greves e locautes.

Totalitarismo – Negação dos ideais liberal-democráticos. Absoluta soberania do Estado, que deve ser governado por uma elite forte e audaz. “A liberdade é um cadáver em putrefação, um dogma cediço da Revolução Francesa”. Só pode existir “um partido fascista, uma imprensa fascista e uma educação fascista”.

Nacionalismo – O internacionalismo é “uma grosseira perversão do progresso humano”. A nação deve ser grande e forte, “pela auto-suficiência, por um poderoso exército e pela rápida elevação do índice de natalidade”.

Idealismo – O fascismo se opõe à interpretação materialista da história. É, sobretudo, contra o materialismo e dialética dos marxistas.

Romantismo – Antiintelectualismo. Não é a razão que resolve os grandes problemas nacionais, mas “a fé mística, o auto-sacrifício e o culto do heroísmo e da força”. “O espírito fascista é vontade, não intelecto”.

Militarismo – As nações que não se expandem – morrem. “A guerra exalta e enobrece o homem, e regenera os povos ociosos e decadentes”.

“O regime fascista, escreve Taunay, mais oportunista que baseado em considerações doutrinárias, procurando sempre se adaptar às condições do momento, pode ser caracterizado pelo nacionalismo agressivo, pela ação antiparlamentar, pela ambição de adquirir prestígio internacional e conquistar colônias. No poder, não admitiram os fascistas qualquer oposição e assim foi suprimida a liberdade de imprensa, proibido o funcionamento de outros partidos e instituída uma justiça especial para julgamento dos crimes políticos. O desemprego foi combatido com a instalação de organizações profissionais, e com o incentivo do comércio e da indústria, ambos submetidos ao controle governamental: obras públicas, algumas mesmo monumentais, foram realizadas, e assim, de um modo geral, todas as atividades italianas tiveram o apoio do governo, que interferia na atuação da família, das organizações profissionais e a economia”.

Algumas realizações do Fascismo

Reduziu o analfabetismo; solucionou a contenda com a Santa Sé (tratado de Latrão); eliminou a Máfia, na Sicília; melhorou a agricultura; intensificou a produção industrial (sobretudo: seda, rayon e automóveis); duplicou a força hidroelétrica; obteve grandes progressos na drenagem de pântanos.

Há, porém, o reverso da medalha. Embora aumentassem as horas de trabalho, o padrão de vida dos assalariados não melhorou. Ademais, a estabilidade e a ordem imposta pelo fascismo exigiram do povo italiano uma esmagadora “uniformidade de pensamento e ação”.

O governo fascista atirou-se a duas dispendiosas aventuras no setor das guerras estrangeiras: A conquista da Etiópia (1935-1936); intervenção aberta (ao lado dos nazistas) na guerra civil da Espanha (1936-1939), em prol de Franco, “representante dos elementos conservadores e fascistas espanhóis (nobreza territorial, clero e forças armadas)”. O governo legal de Madrid foi derrotado e a República Espanhola suprimida.

Todavia, “havia poucos indícios de que quaisquer uns desses empreendimentos tivessem sido bem recebidos pelo povo italiano, ou de que os proveitos para o país viessem a compensar os sacrifícios”.

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Música de fundo em arquivo MIDI (experimental):
"Água e vinho
", de Egberto Gismonte
Seqüência Midi:
Egberto Gismonte
Nota para a seqüencia Midi: *****

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Belo Horizonte, 30 dezembro, 2006

História